O eterno “faça o que eu digo” europeu

Por Mariana Silveira

 

O Brasil quer porque quer ser europeu e, para ser europeu, quer esconder o negro debaixo do tapete. E o que é pior, esquece que este modelo de homem dominar homem foi trazido pelo próprio europeu. As elites brasileiras nunca viram o negro como ser humano. Tudo foi e é negado a ele: dignidade, justiça, honradez, sua crença. E, olha, falo isto com orientação religiosa protestante. 

Pesquisando sobre a cultura nordestina, fiquei pensando, tentando voltar à minha mente a Salvador dos anos seiscentistas. Salvador, pela sua origem cultural, tem uma dualidade incrível: já que possui o maior conjunto arquitetônico barroco fora da Europa, pela riqueza de suas igrejas, a fim de que representasse uma época, é a mais europeia das cidades brasileiras, já que era a capital colonial.

Curiosamente, fiquei pensando nesta situação: a elite baiana indo à igreja carregada pelos negros, para não sujar seus pés e, estes, esperando nas escadarias, já que não podiam entrar. É de impressionar este cristianismo. 

outro lado, Vieira, na sacada da igreja, fazendo seu sermão e falando ao governo-geral sobre esta dualidade.

Enquanto isto, o negro sendo obrigado, no seu cotidiano, a aceitar uma religião que não era sua. Só encontrou uma maneira: adaptar a crença do seu senhor com a sua. Enquanto o baiano de origem europeia se curvava diante de homem. Se verificarmos o Palácio Tomé de Souza, seu teto é igual ao da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Uma demonstração clara da presença da Igreja com o Estado e, curiosamente, Vieira, do próprio clero, defendendo a presença do judeu na Bahia, ou melhor, no Brasil e defendendo um melhor tratamento ao negro.

Mas o erros e acertos ao longo desta história que o sangue do negro criou um rastro na Costa Africana, Atlântico até aqui, no Brasil, para com a força do seu suor erquer isto aqui, não há um um respeito, um reconhecimento. Deixaram-nos na ignorância secular para aniquilar a sua cultura, para fazer crer que eles não soubessem o que é ser livre. Mas a Revolta dos Malês e tantas outras revoltas na Bahia e no NE brasileiro, deixam claro que ele sempre quis ser livre e nunca se curvou diante do seu dominador. Quando se curvou, foi pelo chicote. É da sua cultura, assim como é do judeu e do próprio cristianismo na se curvarem diante de homens. Coisa que a igreja mudou, quando fez o católico se curvar diante do Papa e o próprio europeu se curvou, ao dissimular tudo isto aí em nome do seu próprio interesse.

O resultado de todos estes erros estão aí, o negro com o maior número de pessoas na marginalidade, com baixa escolaridade, preconceito e sua cultura sendo usada para inflar o turismo no carnaval de norte a sul do país. Mas a sua realidade não é permitida ser transformada. O curioso é que tentaram, mas a cultura dele permanece, quer mais negro do samba do Recôncavo que ganhou o país, quando trazido para o Rio, capital federal à época, pela negra baiana do acarajé, Tia Ciata? Pois é, origem negra e chamado de estilo genuinamente brasileiro. Mas a ele não é permitido ter dignidade.

Agora, quanto a Inglaterra querer dar lição de moral no pais, parece ser piada mesmo. Como se eles não tivessem se beneficiado com o tráfico negreiro.

Luis Nassif

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