O papel do PSDB na origem da corrupção da Petrobras

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O caso da empresa ligada a Paulo Henrique Cardoso, o filho de FHC, no ano de 1999 com o esquema de corrupção da Petrobras, para a compra de turbinas para a usina térmica TermoRio, teve um capítulo ignorado pelos grandes jornais que publicaram a notícia. Esse capítulo não só revela indícios diretos da prática criminosa sob a influência da presidência tucana, como as diversas relações de personagens e corporações e as camadas de corrupção que conectavam não apenas os interesses das empresas com a estatal brasileira, como também multinacionais de bom trânsito em esquemas tucanos: a Alstom.
 
O caso é investigado desde o fim de 2013, quando a Controladoria-Geral da União (CGU) começou a analisar, sob sigilo, os contratos da francesa Alstom com a Petrobras. Em janeiro de 2014, os documentos foram divulgados pela revista Exame, que expôs a influência do PSDB no esquema. Apesar de a apuração adotar o recorte a partir de 2008, os auditores se deram conta que as irregularidades eram mais antigas, chegando ao caso da termelétrica na Baixada Fluminense TermoRio, antes chamada de usina térmica Governador Leonel Brizola.
 
O caso
 
O projeto da TermoRio começou em 1999, já com 17% de participação da Petrobras nas obras. Em 2001, plena crise do apagão e racionamento de energia do governo FHC, a estatal aumentou para 43% sua parcela. As outras partes eram divididas entre o grupo americano NRG (50%) e outros 7% nas mãos da empresa PRS Participações, que tinha como sócio-diretor o empresário baiano Paulo Roberto Barbosa de Oliveira.
 
Logo no ano de 1999, a usina iniciou as negociações para a compra de nove turbinas da subsidiária da Alstom na Suíça. O contrato gerou um custo de 530 milhões de dólares, à época, para a TermoRio. 
 
O que ainda não tinha sido esclarecido é que a empresa dirigida pelo baiano Paulo Roberto Barbosa de Oliveira tinha relações com Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente tucano. A informação foi confirmada pelo ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, em trecho recente de delação premiada no âmbito da Lava Jato.
 
Cerveró detalhou o caso.
 
Disse que por volta daqueles anos – mais especificamente nos últimos meses de 1999, segundo apuração do GGN -, o lobista também do Estado da Bahia, Fernando Soares, estava interessado em associar a empresa espanhola que representava, Union Fenosa, à TermoRio. Acreditando que o fechamento do contrato estava nos últimos detalhes, faltando apenas de uma assinatura para a finalização, os executivos da Petrobras tomaram conhecimento que “o negócio já estava fechado com uma empresa vinculada ao filho do presidente da República Fernando Henrique Cardoso, de nome Paulo Henrique Cardoso”, contou Cerveró.
 
A empresa se chamava PRS Participações, continuou o ex-diretor. De dentro da Petrobras, quem orientou o fechamento foi o então presidente da estatal, Philippe Reichstul. Mas a Folha de S. Paulo, o Estadão e O Globo preferiram apostar no detalhe de que “Cerveró não citou se houve envolvimento direto de FHC no negócio”. O GGN estendeu a apuração.
 
Quem é PRS Participações
 
A empresa não tem muitos registros publicados, o que deu abertura para o filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso, afirmar que “ele não conhece nem nunca teve qualquer relação com a empresa”.
 
Também denominada PRS Compa e Participações Ltda, a empresa é, na verdade, uma holding, criada em 1985. O GGN teve acesso aos dados do mercado financeiro dos Estados Unidos, que possui alguns registros da companhia.
 
Curiosamente, a sede da PRS Participações é em Salvador, cidade origem de seu diretor Paulo Roberto Barbosa Oliveira. Aliás, foi nesses mesmos registros que o GGN identificou o empresário baiano como membro do corpo executivo. O possível erro atual, tanto de Oliveira, como do filho de FHC, foi manter a empresa em atividade. Com mais de 30 anos, a fundação chama a atenção para uma holding, acima da expectativa média de vida para uma empresa no Brasil e desse ramo de atividade.
 
O papel de Oliveira
 
De nome mais discreto dentro dos autos da Operação Lava Jato, o empresário teve a suspeita de sua participação no esquema abafado, em comparação a outros personagens como o ex-diretor Nestor Cerveró e o lobista Fernando Baiano. Mas seu papel teria sido tão importante quanto esses dois últimos para que a engrenagem funcionasse.
 
Quando a construção da usina TermoRio teve início, em 2001, foi necessário contratar uma empresa que fiscalizasse a instalação das turbinas Alstom – com valores já considerados superfaturados. A empresa contratada foi a Eldorado, que posteriormente apresentou irregularidades em falta de fiscalização.
 
Ainda que com menor participação acionária pela PRS nas obras, Paulo Roberto Barbosa Oliveira – hoje revelado com ligações ao filho de FHC – assumiu a presidência da TermoRio. Foi Oliveira que conduziu a negociação com a Alstom, sob a supervisão de Nestor Cerveró, então integrante do conselho de administração da usina, e todos eles sob a gerência do então diretor da estatal Delcídio do Amaral. 
 
Em junho de 2002, Oliveira chegou a viajar à Suíça para realizar um pagamento adiantado de 7 milhões de dólares para a Alstom. Todos esses dados constam de uma auditoria interna da Petrobras, realizada em 2004, e que estava mantida em segredo.
 
Apesar de o caso ser exposto em reportagem de 2 de abril de 2014 da Revista Exame, o empresário baiano chegou a enviar resposta afirmando que não tinha “qualquer envolvimento no escândalo do metrô de São Paulo”, investigação que também inclui o nome da multinacional francesa Alstom com governos estaduais tucanos, sem que a reportagem sequer tivesse apontado a possível relação entre os dois esquemas.
 
Á época, Oliveira disse ainda que não teria relações com os crimes porque “deixou a presidência da usina em 04 de novembro de 2003, tendo a empresa PRS Energia, que tinha ações da TermoRio e da qual ele era sócio, alienado sua participação de 7% no capital”. 
 
Outra alegação do empresário é que a Petrobras auditou e aprovou as contas de sua gestão na presidência da TermoRio. Neste ponto, ressalta-se, agora, que Oliveira teria relações com o filho de Fernando Henrique Cardoso, o que justificaria consentimento da estatal brasileira em possíveis irregularidades.
 
Nos recentes relatos de Cerveró, o ex-diretor da Petrobras afirmou que tanto ele, como Delcídio, que á época ocupavam cargos de chefias nas obras da usina termoelétrica ficaram “surpresos e bastante contrariados” com o acordo fechado entre a estatal e a PRS Participações, sendo que a ordem partiu do cargo máximo da Petrobras – de Philippe Reichstul, então presidente da petrolífera entre 1999 e 2001, de confiança de Fernando Henrique Cardoso.
 
Foi inclusive, durante a gestão do indicado do político tucano na Petrobras, que foram criadas as áreas de negócio da estatal – Exploração e Produção, Abastecimento, Gás e Energia, Internacional, Serviços e Financeira – que sistematizaram os contratos hoje alvos dos maiores esquemas de corrupção na Lava Jato.
 
Detalhe: Túnel do tempo
 
Uma coluna de Joyce Pascowitch, datada de 18 de dezembro de 1999, na Folha de S. Paulo é curiosa. Na época em que a Petrobras recém havia fechado a sua participação para a construção da TermoRio, com negociações de pagamentos à Alstom, e criação de diretorias na Petrobras que segmentariam contratos, posteriormente, superfaturados, a colunista publica:
 
“Esta ninguém, nem os mais próximos, estão entendendo: Fernando Henrique Cardoso está feliz da vida. Seu ótimo humor está até causando uma certa estranheza, porque ninguém entende -e ele não explica nada: Anda todo enigmático”.
 
Curiosamente, na mesma publicação, Pascowitch revela que o empresário baiano Paulo Roberto Barbosa Oliveira também estava esbanjando felicidade. Ao lado de sua esposa, havia convidado mais de 300 pessoas para “um réveillon black tie em seu Casarão da Penha, em Itaparica, Bahia”.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. que papelão do psdb e

    que papelão do psdb e sua

    corrupção sistemica, por isso considerada

    normal, quase natural……

    como o estado de exceção criado por tucanos

    e seus famigerados conluios…

    1. Lula….

      Exatamente. Não somente Lula mas a centro esquerda inteira desde a formulação da nova Constituição. Foram mais calhordas que tudo na história do Brasil pois haviam prometido um novo Brasil. Mas o mais inacreditável é que “Alstom”, aquela “Alstom” está neste esquema desde àqula época. E continua no Trensalão do PSDB em SP desde o governo Covas. Para que serve acordo de leniência? Para que serve  prisão preventiva para delação premiada? Só para arrebentar com empresas nacionais, genuinamente brasileiras? Por que diretores e empresas estrangeiras atoladas em casos de corrupção foram liberados e permitido sua saída do país? Por que o sistema judiciário se vangloria das suas ações a partir de feitos em Curitiba e no restante do país, o velho esquema da “pizza pronta” continua livremente? As empresas intenacionais podem transgredir nossas leis impunemente? Temos dois judiciários? Temos dois países?

      1. vou apenas comentar o que eu

        vou apenas comentar o que eu observo. o que são leis no brasil? algo dificil de definir. quantas constituiçoes já tivemos? varias, já até perdi a conta. e todas elas, por um motivo ou outro, continuam valendo. e quando fomos colonia portuguesa? muitos  ainda reinvidicam direitos de leis de mais de 400 anos. como o judiciario opera nesse caos de direitos que se dizem adquiridos de fato, ou alguém que abusa deles e quer faturar algo? outro dia eu lia o trabalho de um antropologo sobre uma disputa de terras na perifeira de SP, Jardim das Camelias.  na decada de 60, um senhor de nome Garzouzi, proprietario de uma imobiliaria,a Adis, dividiu um terreno em lotes e passou a vende-los, como que toda a transação fosse legal. mas na verdade era um grileiro. Depois uma outra familia, de sobrenome Ackel, moveu processo contra Garzouzi, pois alegava ser a legal proprietaria do terreno. os Ackel afirmavam que já até  havia planejamento para as terras aprovado desde 1924, em nome da familia. Enquanto o sistema judiciario nao decidia quem era de fato o proprietario da área, Gargouzi nao parou de lotear a área.  Gargouzi afiirmava que possuia o direito pela a área desde 1958, e e seus  predecessores desde 1890,devido a um grande tratado sobre terras feito nesse periodo. em 1972, o governo do estado de são paulo entrou na disputa pelo o terreno, alegando que a constituição de 1891 assegurava que áreas publicas deviam ser de responsabilidade dos governos estaduais. Logo depois o governo federal entrou na disputa pelas as terras, já que a considerava patrimonio federal, pois afirmava que as terras estavam dentro das fronteiras do antigo aldeamento indígena de são miguel e guarulhos, estabelecido a partir de uma concessão de terra real em 1580 e oficialmente extinto de 1850. Em 1975 a disputa pela a terra chegou ao STF e se arrastou durante anos… e qual foi a saida?? estrategias extrajudiciais…

  2. *

    O que é a natureza!

    Preciado, aquele irmão gemeo do Serra, que fazia atravez da Union Fenosa, negócios com a Petrobrás; aquele da ilha do Serra, aonde, aonde? A turma se encontra na Bahia….

     

  3. Os tentaculos na Petrobras

    Muito bom, Patricia Faermann. Acho que precisamos de um livro sobre o caso Petrobras. Ha muitas informações desde os anos 90 (imagino que isso venha desde os anos de chumbo) sobre a corrupção na estatal e seus tentaculos. E precisamos de outro livro – investigativo – que siga a mesma linha, mas esse chegando até o golpe de 2016.

  4. Quando vão investigar a

    Quando vão investigar a criação da Agência para Aplicação de Energia criada nos anos 80 para o Paulinho Henrique Cardoso brincar de “presidir”? 

  5. Dá a impressão que o psdb é o

    Dá a impressão que o psdb é o único partido que pendurou no pescoço de sucessores os esquemas de propinas e caixas 2 herdadas. Muito provávelmente, propinas e doações de caixa 2 que, sempre foram usados para fins politico-partidário-eleitorais e para distribuição entre a turma. É uma situação inusitada, já que os que estão sendo acusados não podem dizer que a coisa foi herdada pois estariam confessando os procedimentos, e tambem não estariam atingindo seus antecessores já devidamente / préviamente blindados. E parece que os pmdbistas, por estarem unidos ao PT até pouco tempo, e por não terem se preocupado em auto blindar-se contra uma inusitada tacada criminalizante, hoje continuam sendo forçados a manterem-se do lado dos demotucanos, sob ameças de grampos, lava jatos e etc e tal…    

  6. Aliança PSDB e PMDB

    Nassif: isto é óbvio. O Partido, não podemos esquecer, é filho do PMDB. Portanto, nessa nova associação o que houve foi uma volta às origens. Quando PMDB e PSDB se separam foi para melhor dividir o botim da Petrobras e outras instituições públicas. Tanto, que atraíram interesse do PFL (atual DEMoníacos), PV e, sobretudo, PSB, grupos de altíssimas rapinagens no jogo parlamentar. Essas de ideologias políticas, filosóficas ou sociais, isto é para inglês ver.

     

  7. Apagão do psdb

    Várias usinas termoelétricas foram feitas na maior pressa para amenizar o apagão que o próprio psdb havia produzido. Valia tudo. Era pra ontem. Ninguem fiscalizou nada. O desastrre do apagão justificava tudo. Nunca se apurou nada ou se o fez o colocou naquela famosa gaveta do psdb.

    E o gerente geral do apagão era quem? Um senhor chamado parente.  Por coincidencia ele agora volta à tona no golpe de 2016 como presidente da  petrobrás e propondo uma revolução na cia. Tipo: vamos fechar esta b… Que coisa!

    O psdb é imbatível. Ou melhor, sempre contou com a parceria da globo e dai… o fhc…

    Lembrando: a alegria com que o temer deu o aumento ao judiciário me lebra a alegria estampada no rosto do fhc quando da assinatura do proer.  Alguem recorda?

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