O que a grande mídia escondeu do depoimento de Bumlai sobre Marisa Letícia

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Fotos: Instituto Lula

Jornal GGN – Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, que faleceu em fevereiro passado em decorrência de um AVC, foi destaque na home de três grandes jornais, nesta terça (9), por ter sido citada no depoimento de José Carlos Bumlai ao juiz Sergio Moro. Estadão, Folha e O Globo salientaram que a ex-primeira-dama pediu “ajuda” a Bumlai para adquirir a primeira sede do Instituto Lula e esconderam a principal frase do pecuarista sobre o episódio: “Não era sobre dinheiro [o pedido de ajuda], era sobre como fazer o Instituto à cópia do Instituto Fernando Henrique Cardoso.”

“Ela não queria que ele [Lula] soubesse. Em algum momento eu até fiquei meio chateado, porque até hoje nunca fui ao Instituto Lula, não fui convidado para inauguração, nunca contribui com um real para o Instituto Lula. Deve ter havido um mal estar que não consigo localizar”, disse Bumlai, após dizer a Moro que não participou da compra do terreno porque não tinha “condições financeiras” de fazer isso.

Embora a grande mídia tenha inserido o pedido de Marisa em um contexto de pagamento de propina da Odebrecht, sem as devidas ressalvas, o depoimento de Bumlai foi em sentido oposto. Ele explicou, diante de Moro, que a ex-primeira-dama queria saber como chegar a empresários que pudessem fazer por Lula o que dizeram por FHC quando o tucano deixou a presidência, em 2002.

A ideia era criar um instituto com contornos de museu, onde Lula pudesse expôr os itens de seu acervo presidencial. “O Instituto Lula surgiu de uma conversa com dona Marisa. Eu não sabia como funcionava isso aí, a não ser o que havia sido feito com o Instituto Fernando Henrique Cardoso. Então, constituiu uma ideia de que 10 empresários participassem do processo e levantassem o Instituto Lula, onde guardariam os presentes, as coisas. [Era] Um museu, praticamente, que eles queriam montar. Essa é minha participação [no assunto, junto à Marisa]”, disse Bumlai.

Em outro passagem, Bumlai explicou o papel de Roberto Teixeira, advogado de Lula, na construção do Instituto. “Acredito que dona Marisa, quando apesentou a ideia, queria colocar mais uma pessoa. Na época era Jacó Bittar, mas ele ficou doente e sem possibilidade de ajudar em nada. E doutor Teixeira é amigo e advogado da familia de Lula há muito anos. Acredito que foi por aí.”

Bumlai contrariou a denúncia do Ministério Público Federal em pelo menos dois momentos: primeiro, afirmando que não buscou Marcelo Odebrecht para pedir, ao lado do advogado Roberto Teixeira, que o empresário comprasse um terreno para o Instituto Lula em São Paulo – objeto da ação penal que tramita na Vara de Moro. O trecho foi igualmente ignorado pela grande mídia.

“Não, eu tratei da implementação do Instituto, dos 10 empresários. [Marcelo] Era o único empresário que eu tinha liberdade maior para conversar [porque ambos fizeram parte de um conselho de desenvolvimento no governo Lula]. Eu expus a ideia e ele disse que enviaria uma pessoa para me procurar. Era o doutor Paulo Melo, com quem só falei por telefone. Nunca estive com ele”, relatou Bumlai.

Depois, Bumlai disse que Teixeira não foi responsável pela escolha do Instituto Lula que viria a ser adquirida pela Odebrecht, mas sim uma corretora. O que o advogado fez foi cuidar de burocracia que impedia a venda do terreno porque a empresa detentora do espaço possuia dívidas de IPTU, entre outros problemas.

A grande mídia tampouco deu espaço para a declaração de Bumlai sobre Glaucos da Costamarques, que é para a Lava Jato um primo do pecuarista que comprou um apartamento vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo, com recursos da Odebrecht. Bumlai explicou que, além do parentesco muito distante (“O pai do meu bisavô era irmão do avô do Glauco”), Glauco é um investidor do ramo imobiliário há anos. E vendeu, por R$ 12 milhões, alguns imóveis em Campo Grande antes de chegar em São Paulo e adquirir outras unidades com ajuda do escritório de Teixeira.

“Glaucos da Costamarques vendeu loteamento em Campo Grande para uma firma mexicana, por um valor muito significativo, algo em torno de 12 milhões, e queria entrar para o ramo de importação e exportação [quando veio para São Paulo]. Não conseguiu, e continuou no ramo imobiliário.” 

https://www.youtube.com/watch?v=UO7JmJFAVzo]
 
Para a defesa de Roberto Teixeira, o depoimento de José Carlos Bumlai, assim como o de Mateus Claudio Baldassari e Marcelo Carvalho Ferraz, todos colhidos hoje pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba “deixam patente que prestei tão somente assessoria jurídica no processo de aquisição do imóvel [para o IL. No contexto de minha expertise no Direito, atuei para solucionar intrincados problemas jurídicos que envolviam o citado imóvel e dificultavam sua venda.”

“Assessorei inicialmente Glaucos da Costamarques e, posteriormente, solucionadas as intrincadas pendências jurídicas, novamente o assessorei na revenda do referido imóvel para a DAG Construtora Ltda”, disse o advogado, em nota à imprensa.

À Lava Jato, para conseguir fechar o acordo de delação, Marcelo Odebrecht disse que a Odebrecht aceitou realizar a compra do terreno do Instituto, no valor de R$ 10 milhões, e descontou o valor de uma conta virtual que tinha com o PT. A DAG, construtora de um amigo de Odebrecht, teria sido usada para mascarar a participação da empreiteira no negócio.

O imóvel nunca foi usado por Lula.

“Os depoimentos colhidos hoje pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba mostram que a idéia de construção de um memorial para abrigar o acervo presidencial do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não guarda qualquer relação com os 8 contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras, como diz a acusação do Ministério Público Federal”, disse a defesa do ex-presidente.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. A mídia noticia que HOJE a 4a

    A mídia noticia que HOJE a 4a região trf-4 CONVOCOU o juíz Nivaldo Brumoni pra substituir o desembargador João Pedro Gebran Neto

    e o juíz BRUMONI não perdeu tempo

    – disse que o ISOLAMENTO de Curitiba é legal

    – que a LAVA JATO é uma operação grandiosa

    – que NÂO será dado prazo adicional pra que a defesa analise 100 mil páginas de docs (solicitados pela defesa desde 10/2016)  juntados a cerca de 15 dias ao processo  ..docs chegados sem índice nem ordenamento

    – mais  ..acaba de dizer que a DEFESA não poderá gravar a audiência também

     

    1. “Amigo”

      João Pedro Gebran Neto, é o amigo “intimo” do Sérgio Savonarola Moro. Arguida a suspeição dele pelos advogados do ex-presidente Lula, como era de se esperar, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou a suspeição. Para não ficar mal no meio jurídico que sabe das suas ligações com o Savonarola, providencialmente colocou um companheiro de confiança para fazer o serviço sujo.

  2. E hoje mais um passo para o manicômio…
    E hoje, para continuar o complô judiciário um outro juiz, sob alegações diversas e sem sentido, resolve fechar o Instituto Lula. O absurdo  não cabe  sequer em uma peça de Ionescu.  O absurdo e a irracionalidade, do ato é tamanha pois após alegações ele manda prender o Instituto Lula. Isto porque ele quer prender um símbolo. Alegando que o presidente conversou com várias pessoas no Instituto, várias delas acusadas na Lava Jato. não faz acusações a pessoas físicas, mas sim, ao Instituto,  uma pessoa jurídica. Todos riríamos se um juiz mandasse prender o prédio da Oderbrecht, pois lá foram feitas muitas reuniões sobre as propinas. Mas chegamos a este ponto. Um juiz não tem sequer pejo de escrever em autos oficiais, coisas como as que foram escritas. A gana e o ódio  só é superado pela estupidez do ato. Todo este processo de criminalização do Instituto Lula e do Acervo presidencial, pago pelo dinheiro público, não esta sendo feito em nome da justiça. Está sendo feito porque cada um destes juizes quer gritar em alto e bom som, que um operário não podia jamais ocupar o cargo de presidente. Um juiz acusa Lula e Marisa de terem um acervo presidencial. Um juiz decide monocraticamente, que algumas peças deste acervo não podem pertencer ao acervo. Que presentes caros não podem ter sido dados um presidente operário. Este mesmo juiz exalando preconceito, chega a afirmar que o casal deve ser investigado para ver se não roubaram as toalhas do palácio do planalto. Mas agora chegaram ao cúmulo, pois não há uma acusação nos autos contra pessoas, existe apenas uma acusação contra o Instituto Lula. Do ponto vista legal, o Instituto,  é uma pessoa jurídica, mas do ponto vista político é um símbolo.  A conversa com Bumlai, é de uma estutice total e absoluta. Mas a estutice não esconde a má fé. Como se pode incriminar alguém, no caso a falecida Marisa, por buscar apoio para o Instituto e ou Museu de um ex-presidente. Isto supera qualquer limite da decência, principalmente quando isto é feito para tentar humilhar, para tentar destruir  um cidadão. O mesmo juiz cheio de mesuras para o ex-presidente FHC, não será cheio de mesuras para Lula, pois a sua imagem depende disto Este ato apenas confirma que a loucura se estabeleceu, a falta de racionalidade se estabeleceu, a lógica jurídica não existe mais. O que temos é apenas loucura,  e uma loucura perigosa, cruel, sádica e destrutiva. Um ato como este é um atentado suicida contra a Justiça, que é um ente abstrato, e cada vez mais abstrato.

  3. É a patifaria

    É a patifaria midiático-judiciária de sempre típica de republiqueta bananeira. Nenhuma novidade, portanto!

  4. A novidade é a ação de

    A novidade é a ação de Marisa. Que essas firmas, Globo, OESP, Folha, Band etc. deturpam já virou comum, não se espera nada diferente disso. E não adianta cobrar, essas são empresas privadas, seus donos fazem o que quiserem. Tomara que essas empresas afundem, morram de inanição por falta de quem lhe compre seus produtos, a saber: entretenimento, noticioso ou não, e ideologia.

    1. Responder
      Agora, os petistas e seus assemelhados vão usar onome da Sra Mariza, pois morta, como vai poder dizer se é verdade ou não.
      Povinho vermelho, sem vergonha.

      1. Resposta

        Se vocês, povo golpista canalha, sem vergonha, sem caráter, inescrupoloso, não tiverssem matado a D. Marisa, ela poderia dizer se era verdade ou não. Até depois de morta não a respeitam, é uma corja porca e nojenta. Nõa gosto de me expressar desta forma, mas não há outros adjetivos para estes monstros golpistas. 

  5. Imprensa “alternativa”

    Como saberíamos a verdade sem os blogs sujos?

    Como fazer chegar tudo isso às pessoas que se informam apenas pela mídia corrupta?

    É de dar nó nas tripas ter conhecimento real dos fatos e não poder fazer nada de concreto contra essa quadrilha canalha.

    O mal não é moro, não é mi$hell, nem mesmo gilmar mendes; o grande mal é a rede esgoto, a time-life tupiniquim, o império do mal dentro do Brasil.

    Não é Fora Temer, é MORTE aos Marinho !!!

     

     

  6. E assim a Grande Mídia

    E assim a Grande Mídia manipula e desinforma seu público e o público em geral.

    Por isso se diz:

    –  “A força da imprensa está na arte de esconder” – Roberto Marinho (fundador da Globo e grupo)

    – “Cheguei ao ponto de ter medo de assistir televisão, tão grosseira é a manipulação das notícias” – Professor Giuseppe Tosi, filósofo italiano residente no Brasil.

    – “A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime” Millôr Fernandes em 2006

    – “A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular” – Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard

    – “Na imprensa do Brasil, ninguém vai saber o que aconteceu no Brasil com o meu governo. O futuro leitor tem que ler as revistas inglesas, francesas, os jornais alemães, e, acima de tudo, vocês, a internet” – Lula, aos blogueiros

     

     

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