Onde começa o Terror Policial e termina o Espetáculo Lucrativo?

Luis Nassif fez um PowerPoint apontando os possíveis responsáveis pelo suicídio do reitor que foi encarcerado de maneira escandalosa pela Polícia Federal.

Que seu sangue caia sobre todos seus algozes. Mas, especialmente, sobre os que destruíram os alicerces dos direitos individuais pensando exclusivamente em seus próprios interesses.” https://jornalggn.com.br/noticia/as-maos-e-as-vozes-que-empurraram-o-reitor-da-ufsc-para-a-morte-por-luis-nassif

Pouco antes de morrer o reitor publicou um artigo reclamando da humilhação a que foi submetido http://www.viomundo.com.br/politica/reitor-que-cometeu-suicidio-reclama-de-humilhacao-sob-a-pf.htm. O Procurador Geral de Santa Catarina creditou a morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo à perversidade do sistema de justiça criminal http://www.viomundo.com.br/denuncias/procurador-geral-morte-de-cancellier-expoe-a-perversidade-de-um-sistema-de-justica-criminal-sedento-de-luz-e-fama-especializado-em-martirizar-inocentes.html.

O suicídio foi cometido num local público. É evidente, portanto, que o reitor queria dar máxima visibilidade à sua morte para que ela fosse vista e interpretada como uma reação à abjeta submissão das autoridades policiais e judiciárias aos princípios que regem a sociedade do espetáculo.

Nesse sentido, sou obrigado a dizer que o artigo de Nassif tem uma grande lacuna. Não é possível isentar a imprensa de responsabilidade. Foi ela que ajudou a construir a “polícia do espetáculo”. Há mais de 10 anos publiquei um artigo no Observatório da Imprensa que ainda me parece pertinente:

“…uma coisa é o policial alimentar o jornalista de informações; outra é uma única empresa jornalística colocar alimentos na mesa do policial. O agente policial pode ser fonte legítima dos jornalistas, mas se recebe ou exige propinas para informar exclusivamente uma empresa me parece que está a cometer um abuso. Quando uma única emissora de TV tem acesso a informações e é a única a fazer a cobertura de um fato policial relevante, há um indício claro de que o show pode estar se transformando na principal atividade e fonte de renda de alguns policiais.

Na qualidade de agentes públicos de segurança, esses mesmos policiais são remunerados pela comunidade. E a comunidade tem todo direito de exigir deles que se comportem menos como artistas e mais como profissionais. Mais que isto, tem até o direito de exigir que eles sejam punidos e expulsos de suas corporações caso seus desvios se tornem uma regra contra o rigor da lei.” http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-crise-ontologica-da-imprensa-e-o-regime-politico/

Quais foram os veículos de comunicação que fizeram a cobertura da prisão do reitor? Como aquele episódio foi tratado? A imprensa pagou para ter o privilégio de mostrar Luiz Carlos Cancellier de Olivo sendo humilhado? Os jornalistas fizeram alguma referência à crescente violação dos princípios constitucionais do Direito Penal?

http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/reitor-da-universidade-federal-de-santa-catarina-e-preso-em-operacao/6147401/

https://www.youtube.com/watch?v=PIBrAJ0Z5eU

https://www.youtube.com/watch?v=AP4r-40r79g

https://www.youtube.com/watch?v=8cxzt9rHPIg

A “polícia do espetáculo” é uma criação dos donos dos meios de produção do espetáculo. Enquanto eles lucram, os policiais são corrompidos (com dinheiro ou fama) e os cidadãos morrem. Há 10 anos fiz um alerta, mas fui ignorado. A espetacularização dos processos judiciais continuou e se tornou insuportável com a Lava Jato:

“Nos últimos meses os principais veículos de comunicação do país (Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão etc…) se esforçaram diariamente para produzir e legitimar ações policiais que resultassem em decisões judiciais contra o PT. O Tribunal de Exceção gerenciado pela imprensa usa suas ações policiais e judiciárias para fazer propaganda do anti-petismo. Alimentando, assim, um verdadeiro círculo vicioso de castigo sem culpa, prisão sem condenação ou justificativa plausível e processo sem legalidade processual.”

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/danton-e-o-tribunal-de-excecao-da-imprensa-por-fabio-de-oliveira-ribeiro#.WdNLbvGHXAw.twitter

Quando o estado se torna policial, aqueles que exercitam o terror rapidamente se transformam nos protagonistas políticos do novo regime. E a história está cheia de exemplos de que o terror não aceita limites constitucionais quando se torna espetáculo (França 1793/1794; URSS, 1934/1939; Camboja, 1975/1979; Brasil 1968/1974). Com as prisões temporárias utilizadas como instrumento de tortura para obtenção de novas delações atingimos o fundo do poço.

A Lava Jato foi o fenômeno cultural mais importante de 2016 https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/reflexoes-sobre-o-espetaculo-da-lava-jato-por-fabio-de-oliveira-ribeiro. O ano de 2017 começou com privatização da Justiça  https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/fim-de-jogo-o-neoliberalismo-venceu-e-os-juizes-se-tornaram-irrelevantes-por-fabio-de-oliveira-ri e terminará com a produção de cadáveres pela Lava Jato.

O suicídio de Luiz Carlos Cancellier de Olivo prova inequivocamente que a perversão policialesca deste Judiciário que se tornou escravo da lógica do espetáculo se tornou capaz de matar. Este regime de terror acabará quando os procuradores do MPF, juízes e barões da mídia forem aterrorizados pela polícia? 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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