Delegado preso por execução de Marielle ganhou medalha do Exército quatro meses após o crime, por Hugo Souza

Rivaldo Barbosa assumiu chefia da Polícia Civil do Rio na véspera do crime, nomeado pelos generais da Intervenção Federal.

Rivaldo Barbosa dá entrevista ao lado de Marcelo Freixo no dia seguinte à execução de Marielle Franco, em março de 2018 (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil).

do Come Ananás

Delegado preso por execução de Marielle ganhou medalha do Exército quatro meses após o crime

por Hugo Souza

O delegado federal Rivaldo Barbosa assumiu o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro no dia 13 de março de 2018, nomeado pelos generais da Intervenção Federal. No dia seguinte à posse de Rivaldo Barbosa no cargo, Mariele Franco é assassinada no Estácio. Passa-se mais um dia, e em 15 de março Rivaldo nomeia o delegado Giniton Lages para investigar a execução de Marielle.

Rio de Janeiro - Novo chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, assina termo de posse (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Março de 2018: o general Richard Nunes, à esquerda, dá posse ao delegado Rivaldo Barbosa na chefia da Polícia Civil do Rio (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil).

Passam-se quatro meses, a investigação não avança, o Ministério Público do Rio pede o afastamento de Rivaldo do cargo por indícios de corrupção. No dia 18 de julho, uma semana após a denúncia do MP, o Exército Brasileiro condecora o delegado Rivaldo com a Medalha do Pacificador, a mais importante da Força.

A Medalha do Pacificador, quando dada a civis, é por terem prestado “relevantes serviços ao Exército”.

Quando a Intervenção no Rio escolheu Rivaldo Barbosa para chefiar a Polícia Civil, a subsecretaria de Inteligência da corporação desaconselhou a nomeação. O interventor, no entanto, bancou o nome de Rivaldo. O nome do interventor era Walter Braga Netto.

Neste domingo, 24, o Brasil todo ficou sabendo que Rivaldo Barbosa sabotou a investigação sobre a execução de Marielle desde quando o corpo de Marielle ainda estava no Estácio, num banco de trás. A PF vai investigar a nomeação de Rivaldo pelos generais na véspera do crime.

Voltando a 2018, em novembro daquele ano, o miliciano Orlando de Curicica, que estava preso em Mossoró, acusou o delegado Giniton de tentar pressioná-lo para assumir a autoria do assassinato de Marielle. Curicica acusou também a cúpula da Polícia Civil fluminense, ou seja, o delegado Rivaldo, de acobertar os verdadeiros assassinos.

Questionado sobre isso na época, o então secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, disse assim:

“Houve essa sugestão sob a suspeita de que a Polícia Civil não estaria fazendo um trabalho isento. Isso não tem fundamento. Temos de ter muito cuidado em não dar voz a criminosos que se encontram preso e colocam em xeque o processo de investigação. É um absurdo em uma nação democrática colocar em xeque uma investigação a partir do depoimento de um preso”.

A Intervenção Federal na Segurança Pública no Rio começou no dia 16 de fevereiro de 2018, praticamente um mês antes da execução de Marielle Franco, e terminou no dia 31 de dezembro daquele ano. A Intervenção terminou com os delegados Rivaldo e Giniton prestigiados em seus postos.

Rivaldo deixou o cargo no início de janeiro de 2019, no âmbito das trocas decorrentes da assumpção do novo governo fluminense, o governo Witzel. pouco depois, no dia 13 de março, véspera do primeiro aniversário da execução de Marielle, Witzel despachou Giniton Lages para a Itália, onde o delegado faria um intercâmbio para se aprimorar no combate a… máfias.

Hugo Souza é jornalista

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Hugo Souza

2 Comentários

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  1. O cara era o chefe da Polícia Civil. Não fazia,ou não deveria fazer, investigações. Assim,dá para entender que ele é só a ponta do iceberg. Tem muitos investigadores,senão todos,envolvidos nessa e outras tramas.
    Também,consta no currículo desse sujeito,de que era professor de direito em uma faculdade.
    Que tipo de gente está sendo formada com um mestre como esse?

  2. Pode até parecer que não, mas o exército quando está fora da sua seara torna-se uma espécie de Zé Bobão, de Zé Mané, de marido traído, etc.
    Ao querer voar com morcegos, ele passa a dormir de cabeça para baixo e paga mico geral, um atrás do outro. Também se torna uma presa fácil de ser enganado até, e principalmente, pelos próprios seus.
    Ao final, ele sempre é o que sai mais queimado e o que tem a imagem mais danificada.
    Já passou da hora dele retornar as suas origens, de recuperar o comando, os brios ausentes e a autoridade hierárquica, moral, cívica e punitiva. Está na hora de enquadrar e penalizar rigidamente todos os seus, que atentam contra as leis, contra o comando, contra a instituição republicana do exército e contra o estado democrático de direito.

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