“Superdimensionaram as obras” do sítio de Atibaia, como fizeram com o “triplex de luxo”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Ações penais do sítio de Atibaia e do triplex no Guarujá guardam semelhanças: além de a cúpula dos empreiteiros negar relação entre reformas e contratos da Petrobras, as obras foram pintadas na imprensa como “luxuosas”, com ajuda dos acusadores

Jornal GGN – Em seu depoimento à juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro nas ações penais da Lava Jato, o empresário Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia, disse duas vezes que o relato reproduzido pela imprensa acerca das obras que Odebrecht e OAS fizeram na propriedade foi “superdimensionado”, dando a falsa impressão de que correspondem a um imóvel luxuoso. A situação guarda paralelos com o que ocorreu no julgamento de Lula no caso triplex.

Depois que Lula foi condenado e preso, o MTST ocupou o apartamento no Guarujá e mostrou, em imagens gravadas em vídeo que o apartamento não tinha a estrutura refinada que parte da mídia insinuou existir a seus leitores e telespectadores, sempre com informações da Lava Jato.

GGN mostrou que a Polícia Federal já havia notado e registrado, em relatório de 2016, uma “discrepância” entre os valores (mais de R$ 1 milhão) da reforma levantados pelos procuradores de Curitiba junto às empresas e o que, de fato, pôde ser verificado como melhorias no local. 

Para se ter ideia, o Estadão publicou naquele mesmo ano que só o fogão comprado para o triplex atribuído a Lula teria custado R$ 9 mil em valores da época. Mas a perícia da PF indicou que o valor era 10 vezes inferior, pois tratava-se, em verdade, de um fogão de piso com quatro bocas, de marca popular.

Leia mais: Triplex de Luxo? Polícia Federal desconfiou dos valores da obra, mas decidiu não investigar

No caso do sítio de Atibaia, o Ministério Público Federal afirma que as reformas teriam gerado custos de ao menos R$ 700 mil, a maior parte bancada pela Odebrecht.

Bittar, por outro lado, afirmou em Juízo que desconhece os valores e que, quando negociava a possível venda do espaço para a família de Lula, já em 2014, contratou uma perícia independente que avaliou sua parte na matrícula como algo em torno de R$ 800 mil, já incluindo reforma e o valor de compra do sítio.

As obras foram “superdimensionadas no retrato delas”, disse. “Elas foram colocadas de um jeito que parecem muito maiores do que são”, acrescentou Fernando Bittar.
 
Os espaços adicionados à propriedade são “quartos muito simples, feitos com material de segunda. Não foi feito com material adequado. Até comentei com o procurador [durante fase que antecedou o julgamento] que a água tem queda errada, não cai para o ralo.”
 
“A adega não é adega, é um quarto [de empregada] onde colocaram todos os vinhos que vieram de Brasilia.” Foram os caseiros que providenciaram prateleiras para acomodar as garrafas deitadas enquanto a situação não se resolvia. “Essa é minha indignação”, comentou Fernando a partir dos 14 minutos do vídeo abaixo, onde relata o descompasso entre a realidade do sítio e o que saiu na imprensa.
 
https://www.youtube.com/watch?v=PpHGfDSfUCM
 
O famigerado sítio de Atibaia – cujas benfeitorias feitas pela OAS e Odebrecht foram atribuídas a Lula, pela Lava Jato, como vantagem indevida decorrente de corrupção na Petrobras – foi comprado em 2010 pelas famílias Bittar e Suassuna. 
 
A Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar – pretoleiro, sindicalista, amigo íntimo do ex-presidente há mais de 4 décadas – coube a aquisição da menor fatia do terreno, que custou cerca de R$ 500 mil. O dinheiro saiu de indenizações recebidas pelo pai. O empresário Jonas Suassuna pagou pela segunda matrícula o montante de R$ 1 milhão. O vendedor original do sítio não quis vender as matrículas separadamente.

A partir de 2014, contou Fernando à juíza Hardt, quando o sítio já era assunto de domínio público graças às acusações da Lava Jato, Lula tentou negociar a compra da parte dos Bittar, mas o patriarca da família nunca quis se desfazer do investimento, que pretende ver dividido como herança entre seus filhos.

De acordo com o relato de Fernando, que também é réu na ação penal, o sítio foi uma compra pessoal de seu pai, em 2010, e não contém nenhum centavo da família Lula ou de recursos ilícitos.

Ele disse que quando a aquisição foi concluída, com ajuda especializada do advogado e compadre de Lula, Roberto Teixeira, foi oferecida à “tia Marina” a possibilidade de adaptar a propriedade para receber o acervo presidencial.

Fernando revelou que, em função do Mal de Parkinson, doação diagnosticada em seu pai em meados de 2005, Jacó foi viver próximo de Lula e Marisa em Brasília, a convite do então presidente da República. E a convivência com o casal fez ele tomar ciência do drama em torno do acervo. 

Quando o fim do mandato de Lula começou a se aproximar, Jacó decidiu procurar um sítio no interior de São Paulo que pudesse cumprir a função primordial de reunir as duas famílias, como fazem há décadas inclusive nas datas festivas, como Natal e Ano Novo.

A transação foi concluída e Jacó ofereceu à Marisa e José Carlos Bumlai, com quem também conviveu em Brasília, a possibilidade de estudar a construção de um anexo no sítio, para o acervo. Bumlai acompanhou por sua experiência com engenharia. A única exigência foi que o galpão deveria ter utilidade em caso de, no futuro, o acervo não mais ficasse naquele espaço. Ou seja, a obra não poderia “descaracterizar o sítio”.

Bumlai teria iniciado a obra do anexo e de cômodos extras para comportar as visitas com “equipe própria”, segundo declarou Fernando. Mas problemas com os funcionários “arruaceiros” e atraso no cronograma geraram reclamações. Foi quando Bumlai surgiu com uma “equipe nova”, “maior e mais profissional”, que viria a ser a da Odebrecht. Fernando nega ter tomado conhecimento desse fato à época.

Quando questionado sobre quem pagou a reforma, Fernando respondeu que não tinha ideia do quanto Bumlai gastou lá. “Mas volto a falar: foram obras simples, foram superdimensionadas.”

“Mas por mais que seja simples, só da parte do Bumlai existe uma planilha muito bem detalhada dando R$ 150 mil. Você acha esse valor baixo?”, questionou Gabriela Hardt.

Fernando respondeu que não era um valor baixo para ele, que não tinha condições à época de despender R$ 150 mil em obras – ele já havia investido cerca de R$ 30 mil em algumas reparações após a compra. 

Mas Bumlai teria “condições” e, na “cabeça” de Fernando, não era na conta da família Bittar que deveria cair as despesas da construção do anexo. “Pelo grau de relacionamento que a gente tem, a gente pensava o seguinte: eu não precisava da obra, eles estavam utilizando o sítio, ou seja, eles tinham de arcar com as despesas dessa obra.”

Entre 2012 e 2013, quando Lula passou a visitar o sítio com mais frequência, em decorrência de seu câncer – o ex-presidente quis se “isolar” para não se desgastar com inúmeras visitas em São Bernardo do Campo – Fernando e sua esposa passaram a discutir com Marisa uma reforma na cozinha. Foi quando entrou a OAS, a pedido da ex-primeira-dama, que não gostou do projeto elaborado por uma arquiteta amiga do casal Bittar.
 
Só com a Kitchens – empresa que também trabalhou na reforma do triplex – foi assinada uma nota fiscal no valor de R$ 170 mil. Fernando disse que não pagou por aquela despesa. Novamente, atribuiu a responsabilidade à família de Lula.
 
Pelas perguntas e comentários de Gabriela Hardt, a Lava Jato em Curitiba considera Bittar como “beneficiário” direto das ações da Odebrecht e OAS, porque seu nome consta como proprietário oficial do imóvel. Todas as melhorias deveriam ter sido ressarcidas por ele e lavradas na matrícula do imóvel para acompanhamento da Receita Federal.
 
A fórmula dos procuradores repete a mesma do caso triplex: acusam as empreiteiras de terem agido em favor de Lula em troca de um, dois, três, quatro, cinco, quantos contratos tenham considerado superfaturados ou com indícios de corrupção, sempre de acordo com depoimentos de delatores.
 
Na imprensa, os procuradores bateram na tecla de que o sítio é de Lula. As famílias Bittar e Suassuna não passariam de “laranjas”. 
 
“Foram 40 anos convivendo juntos. Não tem laranja nessa história. O dinheiro veio do meu pai. Foi tudo verificado. A nossa vida foi toda verificada”, afirmou Fernando Bittar.
 
Além do superdimensionamento das obras, os casos guardam mais uma semelhança: a cúpula da Odebrecht e OAS deixaram claro que (1) Lula nunca pediu nada e (2) as reformas não tiveram conexão nenhuma com contratos da Petrobras.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Basta mostrar fotos. Jamais a

    Basta mostrar fotos. Jamais a imprensa mostrou fotos detalhadas do sítio, porque senão destruiria a narrativa de que se trata de um spa paradisíaco, e não de um sítio comum do interior paulista.

  2. Porque algum petista não vai

    Porque algum petista não vai no sítio, mostra a pobreza da riquesa que dizem que o Lula recebeu e faz como no caso do triplex, em que o MTST  mostrou a mentira calhorda do mpf ao dizer que aquilo era luxuoso em demasia? Faz isso, pelo amor de Deus. Depois para de cumprir o script porco que escreveram para todos os processos envolvendo o Lula, denuncia de antemão ao mundo que o moro só não pediu exonerçaõ para manter o Lula como seu troféu para humilhado e esmagá-lo a hor que bem quiser. Diz ao mundo que a substituta só está ali para cumprir tabela porque a condenaçaõ já foi feita pelo moro e que a defesa do Lula nunca foi ou será considerada num processo presidido pelo juix superministro. Retira a defesa e livrem-se do arbítrio do veredito.

  3. O Brasil o abismo é logo ali.

    Infelizmente a verdade nua e crua é a seguinte: Cada dia que passa pessoas sérias, homens de bem,  tem menos lugar nesse país. O Brasil está se tornando rpidamente uma verdadeira república de foras da lei. Quem é do bem está sentindo a cada dia que passa menos espaço para se expressar, para conviver, para exercer a cidadania. É trágico mais ser decente  passou a ser perigoso. Ou você se transforma num fora da lei ou caia fora enquanto há tempo. 

  4. Leviandade

    Leviandade coletiva, dos agentes do Estado (pagos regiamente pelos contribuintes) e da mídia hegemônica. A parcialidade  da mídia adere aos  interesses de classe dos seus proprietários. E que interesses movem os agentes do Estado?

  5. Isto deveria ser óbvio.

    Mas não é obvio pois a mídia e todo o golpismo assim o quis. É sabido por todos mas reconhecido apenas fora do país, que temos um processo que não mereceria sequer existir. Mas assim, jogando dinheiro publico no ralo ou o usando para fins obscuros, tem-se um processo moroso custoso e danoso, ao pais. Com processos deste tipo fraudaram a eleição, na hora que não permitiram que Lula estivesse livre.

    Quanto a Emilio e Marcelo,  não sei que chantagens e pressoes sofreram, pois poderiam  ter vindo a publico, poderiam sim ter pago do proprio bolso matérias em jornais, poderiam sim ter ido a luta. Agora de forma tímida traem  Lula,  a quem devem muito mais do que apenas reformas em um sítio. Me recordo daquele depoimento salafrário, onde Emílio sob o olhar jocoso de seu advogado, simplesmente tentou ridicularizar Lula dando espaço para todas as calúnias que se seguiram. . Emiio  não se opôs de forma alguma a um golpe, que também o atingia  e se queria defender seu fiho,  Marcelo fez pior  e sofreu mais, mas ainda assim , como uma sindrome de Estocolmo,  reforçou a narrativa, fazendo dobradinha com a triste figura rasteira de Pallocci.   Foram se submetendo , pensando que salvariam  seus anéis, sem  jamais compreender  que os interesses externos que resolveram acabar com Lula , tinham  a Oderbrecht na alça de mira. O  juiz de Curitiba foi apenas uma das pontas do Iceberg que afundou a Oderbrecht. e  todas as empresas nacionais que tivessem anseios de chegar a ponta. Acabaram com as empresas que com ajuda do governo brasileiro, como deveria ter sido  feito por todos os presidentes, conseguiram  espaço e dimensão geopolítca.

    Mas  neste depoimento, tocaram pela   primeira vez  fnas políticas nacionais, que o golpe vem tentando transformar em corrupção. Assim destruiram a eletronuclear, com a prisão de Othon, destruiram a Oderbrecht, não apenas empreiteira, mas uma empresa que trabalhava no submarino nuclear,  no satélite e em foguetes e mísseis, uma empresa que tinha departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Entregaram areas do pré-sal, a tecnologia da Petrobrás, e a Embraer. Destruiram nossos estaleiros e dezenas de outras indústrias. Agora consideram a venda de Pasadena como um ótimo negócio   Se Emilio e Marcelo se calaram a dimensão da chantagem e da pressão deve ter sido  inimaginável e muito maior do que Curitiba., Da mesma forma que nossa poderosa industria da carne também foi atacada.

    Mas isto não os exime da acusação de terem para se salvar abandonado o presidente que mais fez pelo desenvolvimento, não do grupo, mas sim das empresas nacionais. Se tivessem se posicionado talvez hoje não fossem estas tristes figuras. Se tivessem se posicionado, talvez não estivesserm sendo atacados ao redor do Globo.   

    Mas está no STF o maior  agravante, Estes depoimentos públicos estão accessíveis a qualquer um dos nossos notáveis. Para além da juiza de piso, que irá sem dúvida seguir as ordens de Moro, existe um STF, um CNJ, que não podem alegar que não estão cientes de depoimentos como estes. O mesmo STF, que se movimenta sempre célere para arquivar processos, ou aceitar Habeas Corpus de muitos outros, faz  ouvidos moucos , ao se deparar com tal depoimento Continuaremos sem ver uma posição de nenhum super magistrado.

     

  6. Imprensa? Onde? No Brasil?

    Mas quem foi que disse que no Brasil existe IMPRENSA?

    Por essas bandas o que vemos  são uma “famígla”  e  TRÊS  “empresários”, sendo um  deles também  “bispo”, serem donos de uma mídia que se auto proclama  imprensa, mas de imprensa não tem nada.  Seus “orgãos”, jornais, tv, rádios e até revistas, não passam de uma indústria defensora de interesses de grupelhos fdp que exploram a boa fé de milhões de brasileiros sem discernimento, infelizmente,  e alimentadores  do ódio e do preconceito de outros milhões de midiotas patos que também sem discernimento, mal sabem que não passam de buchas de laranja(OPS) que extraido o caldo, são descartados.

    Desse tipo de idiota, já ouvi  frases como: “Lula, o maior ladrão desse país”.

    Desconhecem eles que não é o LULA que possui apartamemtos luxuosos em Nova York e em Paris.

    Desconhecem eles que não é o LULA que tem fazenda no interior mineiro na qual “empresários” construiram até aeroporto asfaltado.

    Desconhecem eles  que não é o LULA que tem milhões em paraisos fiscais.

    Desconhecem por ignorância,  má fé ou porque como disse, são mesmo uns patos midiotas.

     

     

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