Quando a identidade com o invisível salva a vida, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

É provável que esta história seja mais um conto, uma prosa, do que o registro de um fato verídico. É possível, também, que eu seja daquelas que tem predileção por inserir pitadas de realidade camufladas nas palavras compartilhadas e, portanto, peço carinho e atenção à leitura. 

Era uma vez alguém que estava cansado, exausto de viver. Quase que literalmente, perceba. Havia gastado tanta energia numa batalha de quase 100 anos entre acreditar-se ou acatar àquilo que diziam ser. É simples e fácil, e rápido também, assimilar adjetivos quando não se tem a identidade primária bem formada, firme, forte. A identidade daquele alguém tinha um quê de mistério invisível e nesta procura também foi investida energia enorme, “de onde eu venho, afinal?” é pergunta que sabe-se lá quando vai ter resposta mas que, hoje, inteligência desenvolvida, não consome mais: alimenta a movimentação pra frente, que é onde está a calmaria.

Aprender isso, entretanto, também levou embora boa parte das calorias vitais e, num não tão belo dia, encontrou-se, este alguém, simplesmente esperando que o dia, que a noite, que a vida, que tudo isso e mais um tanto, enfim, passasse. Nem mesmo a dor de tamanho incômodo, este de estar em aguardo por nada, incomodava a ponto de se fazer sentir. 

Foi então que o acaso, um impulso, o pulso do invisível atuou. Sem perceber, enveredou para tal caminho transparente, no que alguns chamam de salto de fé e que aquele alguém, pelo menos até aquele momento, chamou de quase a única coisa que despertava interesse semanal. Escutou. Brigou, Sentiu. Entendeu e permitiu que, dali pra frente, o invisível e o não sabido que a comandassem fossem mais parecidos com o que gostaria de acreditar do que com o que já acreditava e, portanto, um pouco mais de energia daqui e dali e pronto: tempestade. Epahey, Oyá e foi ler sobre, aprender sobre e viver sobre – se via naquela mulher materna e que batia chifres de búfalo para cuidar dos seus. 

Rodopiou, chorou tantas lágrimas que aliviaram a crise hídrica de dois mil peitos e, porfim, sossegou. Olhar profundo, riso leve, ainda não tão solto, encontrou-se em si mesma e lembrou de como era ser alguém. Enraizado em sua fé, identificou-se com uma mãe que sim, esta, o amava tanto e quanto poderia ser amado e, ai, como era bom ser amado simplesmente por ser. Aquela energia era a de plena alimentação, de retoatividade e aquele alguém já não mais aguardava a vida passar: agora, passava pela vida, percebendo – e sentindo! – nuances, quenturas e esperança. 

Alguns dizem que a fé cegou aquele alguém para o que acontece no mundo aqui fora. Aqui, um tanto confusa, confesso, me emociona essa história, apresento a teoria de que o mundo aqui fora só é possível de existir para este alguém por ter se enxergado por dentro. E isso, pra quase todos os que lhe importam, é vida.  

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. olhar para a luz do sol doi.

    olhar para a luz do sol doi. mas é marovilhoso quando vemos a origem das sombras.

    GU-RU

    da escuridão para luz

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