“Quando vier a Primavera”, por Alberto Caeiro

Enviado por Gilberto Cruvinel

.Alberto Caeiro

Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

.

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

.

Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.

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7-11-1915

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“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

 – 87.

1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.

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“Quando vier a primavera” por 

Pedro Lamares

 Um poema por semana – RTP2 – Rádio e Televisão Portuguesa 2

https://www.youtube.com/watch?v=ZNWEmKLLFWA

Redação

7 Comentários

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      1. Boa discussão, Analu

        Pessoa sempre me revolve entranhas. Parece que toda vez vem pra me dar um tapa na cara, de tão nu e cru.

        Confesso não sei ler tudo dele. Leio muitas e muitas vezes e sempre acho que quem escreveu o que EU estou lendo fui eu e não ele.Talvez ele tenha escrito outras tantas coisas e eu, reles, vil, o leia apenas com o de mim, entende?

        Mais ou menos assim.

        1. Bom, leitura é sempre muito pessoal

          Sinto alegria e afirmaçao alegre nesse poema, nao vejo fatalismo. Mas nao estou dizendo que estou certa, rs, é sempre pessoal.

  1. “A neve e as tempestades

    “A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes” . Khalil Gibram

    Sorria!! A primavera chegou!

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