A falta de uma política para preservação da Amazônia

Por Daniel Klein

Há mais de meio século há movimentos, que cessam e retornam, com o objetivo de internacionalizar a Amazônia. Cerca de 60% da floresta amazônica situa-se no Brasil, e a floresta brasileira remanescente tem área de 3,34 milhões de km2, o que representa 80% da floresta original. Vê-se que já perdemos 20% da nossa hileia, número que não é alarmante, mas precisa ser contido. Já perdemos mais de 760 mil km2 de floresta, coisa de 95% das áreas somadas de MG e SP. O grosso da mata derrubada é transformado em pastagem para criação extensiva de gado.

Nas últimas poucas décadas, quase nenhum governo de país influente fala mais na internacionalização da Amazônia, e o que se vê são manifestações e movimentos de ONGs de pouca respeitabilidade. Mas isso não é motivo para baixarmos a guarda. Infelizmente, o Brasil nunca praticou, na verdade sequer formulou uma política bem fundamentada para preservação da Amazônia. A questão se aniquila na discussão infindável entre aqueles que propõem exploração sustentável de partes especiais da floresta e os que consideram a floresta intocável. Além da falta de um programa para a área, há o desleixo do Estado, que permite a queima da floresta (o pior destino que se pode dar a ela) como se com os recursos modernos a fiscalização da floresta não fosse coisa simples e barata.

Qualquer política para a Amazônia tem de contemplar a questão indígena, além da utilização do potencial hidroelétrico da área. Nos tempos recentes, temos jogado fora quase metade do potencial elétrico dos grandes cursos d’água por optar por usinas a fio d’água, sem reservatórios para armazenar a água. Um exemplo é a usina de Belo Monte, com capacidade de geração pouco menor do que a da usina de Itaipu. Entretanto, para evitar a inundação de 500 km2 de floresta, menos de 10% da floresta que se queima anualmente, a potência média no ano de Belo monte será de apenas 40% da potência instalada. Isso contrasta com o índice de 70% das usinas tradicionais brasileiras. É chocante, mas é verdade: há no Brasil quem pense ser melhor para o meio ambiente queimar combustíveis fósseis para gerar energia do que inundar uma pequena área de floresta para gerar energia hidráulica. Gente que se sente nobre e se julga progressista por não conseguir pensar em nada que não seja besteira.

No que tange a questão indígena, a ação mais perniciosa foi a criação da reserva para as tribos ianomâmis na divisa com a Venezuela. A área brasileira da reserva mede 93 mil km2, mais do dobro da área do estado do RJ. Na Venezuela, a área é de 83 mil km2. Nessas duas áreas moram cerca de 20 mil indígenas, em umas 200 vilas que vivem em guerra endêmica entre si, que matam 25% dos adultos masculinos. Quando o antropólogo americano Napoleon Chagnon publicou seus achados sobre esse índice de violência, a esquerda mundial o criticou com virulência e calúnias. Pois essa esquerda havia adotado a ideia do noble savage de J. Jaques Rousseau. Para sustentar essa mitologia, criou a antropologia cultural, cujo maior expoente foi Margareth Mead, cuja obra é uma inteira impostura fundada em dados empíricos tomados sem nenhum método científico e, em alguns casos, claramente fraudados. No Brasil, essa mitologia foi cultivada por FHC, então de esquerda, e sua mulher Dona Ruth Cardoso.

O que há de tão grave sobre a reserva ianomâmi? Por alguma razão que a razão não vislumbra, decretou-se que as forças militares brasileiras não podem entrar em uma reserva indígena. Em outros termos, não há como garantir a soberania nacional sobre essas reservas. Isso é especialmente grave na reserva ianomâmi, não só pelo seu desmesurado tamanho, mas também pelo fato de ela estar em área de fronteira. Verificando a fragilidade infantil da nossa política, várias ONGs internacionais passaram a defender a ideia de que as reservas indígenas sejam territórios emancipados do país que as acolhe. A ideia prosperou. Foi criada a Nação Ianomâmi, cujo presidente não é nenhum índio, e sim um cidadão alemão. Essa nação emite passaportes, com os quais é possível viajar pela Europa. Ninguém nos governos do Brasil e da Venezuela acha isso preocupante.

Redação

4 Comentários

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  1. A Amazônia deve ser vista

    A Amazônia deve ser vista antes de mais nada do ponto de vista da garantia de sua nacionalização e de sua defesa. Portanto, do ponto de vista de estratégia de Estado assentada sobre considerações geopolíticas. Do lado oeste da nossa fronteira, desde o Pico da Neblina até à entrada no Brasil do Rio Juruá, o mais prudente seria conservar intacta a floresta, defendida por pontos estratégicos com alta capacidade tecnológica e de alto preparo de fator humano. A imensidão florestal inibiria uma invasão, ou a encaminharia penosamente através dos rios, onde a defesa nacional teria grande vantagem. Uma invasão aérea por aí não faria sentido. Já do Pico da Neblina até o Cabo Orange, o desenvolvimento econômico deve ser altamente estimulado desde o Rio Amazonas até a região de fronteira, naturalmente protegida por montanhas, mas possibilitando diversos futuros corredores econômicos. e entradas de integração. Isto estimulará o desenvolvimento das Guianas e da Venezuela em seus interiores, criando uma região econômica imensa que se estenderia rumo ao Caribe, com enormes vantagens mútuas para os povos da região. Já a futura ferrovia transoceânica Brasil-Peru deverá tocar as franjas do Sul e Sudoeste da região, estimulando alí o desenvolvimento e a ocupação já ordenada pela titulação  e o cadastramento rural de toda aquela vasta área,  e o desdobramennto deste desenvolvimento em direção ao Peru. Quanto aos indígenas, é preciso que haja uma política bem definida sobre eles, com a participação direta de todos eles, mas que seja estritamente nacional e oficial, longe de qualquer influência de ONGs. Assim também deve ser com as reservas e áreas de interesse de preservação, que poderão atingir aí proporções que nunca jamais foram definidas em nenhum outro lugar do mundo, e ainda assim não se constituindo em nenhum impecilho ao progresso do país e da região. Se estes pontos forem definidos, em breve a Amazônia não será apenas alma, sentimento e poesia, mas também terá tecnologia e racionalidade na exploração de seus recursos em benefício dos brasileiros, além de ter mestrado e doutorado sobre sí mesma em qualquer tipo de ciência. O país tem que pensar em proporções amazônicas e jamais se conformar com proporções jecatatuanas. Por exemplo, os cientistas brasileiros já deveriam estar pesquisando meios de transporte alternativos e adaptados para cruzar a imensidão florestal, provavelmente ferrovias suspensas por cima da floresta em trechos de centenas de quilômetros. 

  2. Outro lado da história

    Vejam como estão as condições de saneamento das cidades Amazônicas, se não se consegue oferecer  (e educar para tal, infelizmente) saneamento para a população, a preocupação com a floresta é que não vai ser prioridade nem a pau.

  3. que belíssimo texto

    E que denúncia assustadora.

    Pobre de nossa ainda recalcitrante nação se isso estiver mesmo nesse nível. Mais pobre ainda se nossa esquerda institucional sabe disso e, instalada no Governo, nada faz. 

     

  4. Area Yanomani

      Não sei até hj. de onde tiraram esta informação que as FFAA não atuam dentro da area yanomani, virou um viral incompreensivel, um papo – furado de arrozeiros, pecuaristas ( tipo os Saad – bandnews ), generais da reserva, ongueiros inuteis. Pois no interior da “area ianomani”, o que tem  são unidades militares, desdobradas da 1a Bgda Inf de Selva, 7o BISelva, sendo que na região de Boa Vista (RR) está a unica unidade mecanizada de selva, o 12o Mec Selva.

       Postos desdobrados: Surucucu ( Se da area Y ), os “centrais – fronteiriços”: Auaris, Pacaraíma, Uiramutã, Normandia, e no limite So da Area Y : Bonfim

       Bases de desdobramento aereo ( FAB ): Alem das 6 conjuntas ao EB acima citadas, no centro da reserva Y, fica a base do Baixo Muçujaí e ao norte desta a de Érico, todas estas unidades estão equipadas com  antenas VSAT, ligadas aos Centros de Boa Vista, Manaus (Censipam ) e Brasilia ( MDefesa e GSI/PR ).

       Problemas sérios na Area Y existem em relação a outras instancias federais, como o MJustiça (DPF), FUNAI e MSaude ( FUNASA ).

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