Críticas aos caminhos para preservação do meio ambiente

Por Zé Zinho
 

Rio “sustentável”

Do MSIa Informa

Rio, 28/junho/2012 – O Rio de Janeiro viveu dez dias feéricos, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Foram, literalmente, milhares de eventos individuais, que reuniram dezenas de milhares de pessoas, representando mais de 100 países do mundo, para discutir medidas que, alegadamente, assegurem um futuro “sustentável” para o planeta. Entretanto, além da rara oportunidade de congraçamento de tantas pessoas de nacionalidades diferentes, motivadas por causas semelhantes, muito pouco de substantivo foi tratado sobre os problemas reais que afligem a Humanidade, em geral, e as grandes cidades, como o Rio, em particular.

Apesar de terem múltiplas definições formais, as expressões da moda “sustentabilidade” e “economia verde” são, geralmente, vinculadas à redução do uso de combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral – nas atividades econômicas, devido ao seu suposto impacto sobre as mudanças climáticas. Embora tais efeitos não tenham comprovação de evidências científicas observadas no mundo real, como tem sido demonstrado por um número crescente de cientistas, brasileiros inclusive, este fato não tem impedido que vastas estruturas institucionais estejam sendo implantadas para planejar, implementar e gerenciar medidas que, alegadamente, contribuam para a solução do problema. Por exemplo, o governo do estado do Rio de Janeiro criou uma Subsecretaria de Economia Verde; a prefeitura municipal tem uma Subsecretaria de Mudanças Climáticas (como se municípios pudessem instituir ações relevantes para cuidar de fenômenos climáticos). E por aí vai.

Durante a conferência, setores aparentemente antagônicos, como o empresariado (representado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro-FIRJAN) e o movimento ambientalista (Greenpeace), estabeleceram parcerias para, entre outras medidas, mapear e medir as emissões de carbono provenientes das atividades econômicas no estado. E a prefeitura carioca se uniu às de outras 58 grandes cidades do mundo, em um compromisso para reduzirem conjuntamente a emissão de 1 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa, até 2030, num esforço para controlar o inexistente aquecimento global causado pelo homem.

Lamentavelmente, os problemas ambientais mais sérios das grandes cidades, como o próprio Rio de Janeiro, não receberam sequer uma reduzida fração do interesse atribuído às questões climáticas. E, ao contrário destas, frente às quais a Humanidade pode apenas tratar de conhecer melhor a dinâmica do clima e adaptar-se às suas mudanças, as soluções daqueles problemas urbanos não requerem conhecimento científico avançado ou transferências de tecnologias do exterior. Tudo o que se necessita são a conscientização e mobilização da sociedade e a imprescindível vontade política das suas lideranças – e aí, seguramente, reside o problema maior.

Para ficar apenas no Rio, qualquer discussão séria sobre meio ambiente terá que ir muito além de iniciativas inócuas, como medições de emissões de carbono das atividades econômicas, ou de atitudes individuais, como subir escadas, usar bicicletas como transporte regular, usar o box como vaso sanitário e outras medidas “sustentáveis” que têm sido propostas para que cada um de nós “faça a sua parte” nesse empenho coletivo em prol de uma melhora da qualidade do ambiente urbano.

Para tanto, será imprescindível encarar com a devida seriedade as principais fontes de problemas ambientais da cidade, cuja lista é curta.

Sem estabelecer uma ordem de relevância, já que todos são problemas sérios, comecemos com o sistema de transportes coletivos, que, além de insuficiente para as necessidades da cidade, é altamente ineficiente, sendo baseado em meios rodoviários – ônibus, vans, automóveis particulares e táxis. Em comparação, os muito mais eficientes meios ferroviários, metrô e trens, representam juntos menos de 10% das viagens diárias dos cariocas. Qualquer planejamento sério para o futuro da cidade deveria considerar uma expansão considerável, tanto do metrô como da rede ferroviária, em escala bem superior às iniciativas cosméticas que estão sendo contempladas e implementadas.

Um segundo problema é a carência do tratamento de esgotos, que transforma os cursos d’água que cortam o município e a própria Baía de Guanabara em cloacas a céu aberto. Na Baixada de Jacarepaguá, onde se realizou a cúpula de chefes de Estado e de governo da Rio+20, menos de um terço dos domicílios está ligado a uma rede de esgotos com tratamento; para a cidade em conjunto, menos de metade da população está atendida. A propósito, a poluição dos cursos d’água por esgotos não tratados constitui o principal problema ambiental do planeta, incomparavelmente mais sério que pseudoemergências como as questões climáticas.

Em terceiro, temos a disposição do lixo, que ainda depende bastante de lixões, a forma mais primitiva e poluente de encaminhamento dos resíduos do cotidiano urbano. Apenas algumas semanas antes da Rio+20, foi fechado o emblemático lixão de Gramacho. Em todo o estado, apenas cerca de 40% do lixo vai para aterros sanitários, sendo o restante depositado nos deploráveis lixões.

Finalmente, mas não menos importante, temos a proliferação da ocupação irregular de áreas de risco, como encostas e várzeas de rios, causadora recorrente de acidentes e tragédias, nos períodos chuvosos, que invariavelmente recebem grande destaque midiático e atenção, mas são prontamente esquecidas após o impacto inicial.

O fato de tais problemas não serem considerados emergências ambientais sérias o bastante para receber atenção e ações prioritárias denota o quão distorcida é a percepção geral dos temas referentes ao meio ambiente, dominada pelo sensacionalismo e o alarmismo, improdutivos e desorientadores, que privilegiam temas incomparavelmente menos relevantes e, com frequência, inexistentes.

Evidentemente, não são problemas de solução fácil, mas cujo enfrentamento não depende de acordos internacionais, apenas do empenho das autoridades municipais e estaduais, em concerto com as federais – e com as devidas cobranças da sociedade.

Apenas com soluções inteligentes e eficientes para esses problemas, será possível que cada indivíduo e família possam fazer a sua parte em um empenho coletivo para enfrentá-los, de uma forma realmente relevante – e verdadeiramente sustentável. De resto, ficarão apenas a retórica vazia e documentos inócuos.

Geraldo Luís Lino

Movimento de Solidariedade Íbero-americana

Créditos  este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. IV, No 03, de 29 de junho de 2012.

MSIa INFORMA  é uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.

Luis Nassif

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