sexta, 26 de abril de 2024

Retrocessos ambientais marcam os 100 dias do governo Bolsonaro

Apoiado pelos ruralistas desde a sua campanha, Jair Bolsonaro elege a agenda ambiental como inimiga do governo e promove uma avalanche de retrocessos

Estrago deixado pelas queimadas criminosas na Amazônia. Iremos cobrar incessantemente que o governo Bolsonaro proteja as florestas e aja para barrar as mudanças climáticas. © Daniel Beltrá/ Greenpeace
Nesses primeiros 100 dias, o governo também adotou medidas e fez promessas que colocam em risco a Amazônia e poderão fomentar ainda mais o desmatamento e a violência na região. Nessa linha, Bolsonaro iniciou um ataque sem precedentes aos povos indígenas: transferiu para o Ministério da Agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras, declarou que vai rever todas as demarcações que puder e prometeu abrir terras indígenas para exploração agropecuária e mineração. Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), tais sinalizações já foram suficientes para estimular mais invasões e violência no campo.

O desejo de entregar a Amazônia ficou evidente durante missões governamentais internacionais, em falas de ministros e do próprio presidente que, em conversa com Donald Trump, propôs a abertura da exploração da região em parceria com os Estados Unidos. Além de ilegais, tais atos também afrontam a soberania nacional, uma vez que áreas protegidas e terras indígenas, que hoje pertencem à União, poderiam ir parar nas mãos de empresas estrangeiras.

O ataque à pauta ambiental não para por aí. No Palácio do Planalto, há uma ampla agenda dedicada a encher de veneno a comida da população. Em 100 dias, já foram autorizados para uso 152 novos agrotóxicos, um recorde se comparado aos últimos dez anos, considerando o mesmo período. Destas substâncias, 44% são classificadas como altamente ou extremamente tóxicas, e ao menos quatro produtos são tão nocivos à saúde humana que foram banidos em diversos países. Há ainda 322 novos pedidos de registro acatados e que podem seguir pelo mesmo caminho.

Em 100 dias, o governo já autorizou 121 novos agrotóxicos, um recorde se comparado aos últimos dez anos, considerando o mesmo período. Destas substâncias, 41% são classificadas como altamente ou extremamente tóxicas.

Em 100 dias, o governo já autorizou 152 novos agrotóxicos, um recorde se comparado aos últimos dez anos, considerando o mesmo período. Destas substâncias, 44% são classificadas como altamente ou extremamente tóxicas. © Christian Braga/ Greenpeace

“Nestes primeiros 100 dias, o atual governo empenhou-se apenas numa agenda antiambiental. Não há, por exemplo, nenhuma nova medida de combate ao desmatamento da Amazônia. Os criminosos que destroem a floresta e roubam nossas riquezas, os vendedores de agrotóxicos que contaminam nossa comida e os que querem tomar as terras das populações indígenas são os únicos que têm algo a comemorar”, diz Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace.

O atual rumo das políticas ambientais pode jogar por terra décadas de esforços no combate ao desmatamento, colocar em risco a saúde da população e trazer um incalculável prejuízo econômico e de imagem ao país. Cada vez mais, consumidores do mundo inteiro rejeitam produtos manchados com a destruição ambiental. Recentemente, o governo francês anunciou que irá bloquear a importação de produtos agropecuários e florestais que contribuam com o desmatamento da Amazônia.

“Bolsonaro não ganhou um cheque em branco da sociedade brasileira para destruir nossas riquezas naturais. Ele deve governar para o bem de toda a população, e não apenas de acordo com seus interesses ou grupos aliados. Iremos cobrá-lo 24 horas por dia da necessidade de proteger as florestas, assegurar a saúde da população e agir para barrar as mudanças climáticas. Continuaremos lutando contra todo retrocesso socioambiental, de forma independente, como tem sido ao longo dos nossos 27 anos de história no Brasil, não importando quem encontra-se na cadeira da Presidência da República”, afirma Astrini.

Confira aqui os atos e promessas do governo que promovem retrocessos na área socioambiental nestes primeiros 100 dias de governo, e aqui a lista dos agrotóxicos liberados.

Redação

1 Comentário

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  1. GGN, quando haverá um espaço próprio para o meio ambiente no blogue?
    E onde notícias sobre a mudança climática que é um processo em estado avançado de degradação das condições de vida no planeta?
    Está parecendo uma turma de deslumbrados que fizeram uma papagaiada por aqui no dia da greve mundial pelo clima em 15/03/2019, cujo mote é “não temos tempo, o planeta tem pressa, os governos e a sociedade não podem esperar para agir, AÇÃO CONTRA A MUDANÇA CLIMÁTICA JÁ”, e disseram que não pretendem fazer as greves semanais pelo clima e vão deixar para o ano que vem…porque não estão preparados (não se deram conta disso antes de fingir que fizeram greve? o que fizeram foi qualquer coisa menos participar da greve mundial pelo clima…): estudantes de colégios particulares de elite, que não trabalham, não têm tempo e, surpresa, nem “currículo” escolar suficiente para dar conta de assunto urgente? Como se os que estão se mobilizando mundo afora tivessem se graduado em ciências ambientais antes de ir às ruas… Como se o assunto fosse física nuclear e eles fossem submetidos a uma prova para participar… Como se fosse assim tão difícil de entender que estamos gastando mais do que o planeta tem condições de repor e que as condições de autorregulação dele estão sendo alteradas de maneira limítrofe a um ponto de não retorno… e que isso significa a transformação completa do mundo como o conhecemos, e para pior (alagamento permanente de cidades pelo aumento do nível do mar e pela alteração do ciclo das águas, falta de alimento, extinção de espécies em ritmo acelerado, risco de pandemias, diásporas 2eco (ecológicas e econômicas) para fugir da fome, dos eventos climáticos e da falta de habitabilidade: isso já está acontecendo em escala regional mas cientistas asseguram que o acompanhamento do estado do mundo (algo como “tirar o pulso” do planeta e analisar seus sinais vitais numa UTI) garantem que temos pouquíssimo tempo para agir e tentar minimizar esses efeitos. Como se não houvesse toneladas de material na internet para tornar acessível a/os leigo/as qual é o problema, em português claro… Como se tivéssemos tempo…
    Brasil, país da piada pronta: acharam que era mais um evento high society cool de ser importado (como um Halloween) mas como viram que o assunto é serio, “deixa para depois”. Esta é a elite brasileira.
    Mas isso só me fez gargalhar e depois ficar irada.
    O que é inaceitável é que pessoas que não podem alegar desconhecimento do problema e de sua gravidade não fazerem nada para alertar a população, e abaixo eu vou listar rapidamente grupos que já demonstraram conhecer tanto os problemas ambientais que os afetam quanto sua capacidade de mobilização: quem disse que para fazer greve pelo clima tem que ser jovem estudante? Quem disse que não podemos criar nossas formas de protesto para nos juntar ao movimento mundial de pressão sobre os desgovernos e as corporações que são acionistas majoritárias de suas desventuras?
    Como se o Brasil não tivesse os dois eixos principais do problema: 1 – graves e extensos casos que refletem o resultado do ataque deliberado ao meio ambiente (Mariana, Brumadinho, todas as cidades que têm barragem com alto risco de desastre, o genocídio de ativistas ambientais na zona rural, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro sem a menor infraestrutura para enfrentar chuvas moderadas (o que será delas em caso de aumento do nível do mar?) e cuja população mais pobre é que se f* (os exemplares jovens do mundo que sabem porque estão fazendo greve entendem algo muito simples, e que talvez seja a verdadeira razão dos “grevistas de uso único” daqui terem “deixado para depois”: a questão da mudança climática, e de resto tudo que se relaciona com ecologia, envolve justiça e combate à desigualdade das condições materiais de sobrevivência! Bingo! 2- uma situação política gravíssima, com pessoas despreparadas e perigosas liberando geral tudo o que o mundo civilizado está combatendo (agrotóxico, desmatamento, desregulamentação, privatização generalizada das riquezas naturais, ameaça contra grupos e pessoas diretamente ligados à defesa do meio ambiente, negação do aquecimento global e da mudança climática). Ou seja, aqui não se trata de pressionar governos em países minimamente democráticos mas de nos preparar para uma guerra onde o meio ambiente está no centro da disputa política, econômica e social. E um pouco pior porque um dos elementos da guerra é controverso para a oposição: a demanda de que o combustível fóssil seja abandonado e substituído por fontes sustentáveis, o que coloca em xeque a relação do país com a Petrobras, um dos alvos da desestabilização política patrocinada pelos USA. Nossa tarefa não é simples, e no ritmo que parece estar, pode se tornar inócua qualquer iniciativa, em pouco tempo, com o naufrágio de nosso transatlântico invadido por piratas sanguinários. Alarmismo? Melhor não pagar para ver.
    Aos abaixo relacionados
    Precisamos de vocês para disseminar a consciência sobre o problema, as soluções e responsabilidades de cada um no conjunto da sociedade, porque só a mudança individual não basta, considerando que a causa do problema é coletiva e que a solução também deve ser.

    Professor participante do IPCC, Paulo Artaxo, e grupo de “especialistas” que se reuniu na USP recentemente: qual é o projeto para falar com o povo sobre o problema, afinal, ele não pode ser resolvido nos gabinetes…sem participação da população, nem que seja a universitária que está vergonhosamente alienada e desinformada sobre assunto tão básico (se caísse no vestibular ia ser jogo duro…)
    Frei Leonardo Boff, que escreveu tantos livros importantes sobre a relação com a Mãe Terra
    Sonia Guajajara, como representante dos povos indígenas (em passeatas nos USA no ano passado tinha grupo de indígenas brasileiros, mas aqui não tem?) e liderança política tão carismática
    Ubes: as greves pelo clima para pressionar governos e corporações no mundo têm um caráter político, de defesa do direito de ter um futuro, o direito mais elementar que jovens, com um pouquinho mais de paixão que o resto, deveriam reivindicar
    Pessoal de Peruíbe no litoral de SP que se mobilizou contra a construção de uma terméletrica, e venceu poderosos lobbies há pouco mais de um ano
    Pessoal do MST que faz a luta pelo direito à terra (sem a Terra, que terra haverá para ser disputada?), pela agroecologia e agricultura familiar, que faz parte da Frente Brasil Popular e é um dos mais importantes movimentos sociais do país, que tem a Escola Nacional Florestan Fernandes e muito a ensinar sobre ecologia na prática e aprendizagem de mobilização popular no Brasil
    Pessoal de Correntina, na Bahia, que se organizou nos últimos anos para defender seus rios e suas condições de vida contra a invasão do agronegócio
    Movimento dos Atingidos por Barragem, que recentemente teve uma de suas representantes morta pela mão invisível que é responsável pelo estado de calamidade pública mundial
    Fórum Alternativo Mundial da Água, que fez contraponto ao fórum dos exploradores capitalistas no ano passado
    Marina Silva, sua chance de se reinventar como ambientalista respeitada no mundo (se a política eleitoral para você acabou, ou mesmo que não, voltar às raízes pode ser fonte de Ressurreição)

    Não foi proposital – o comentário seria para o dia 18/04/2019 como parte da campanha diária de pentelhação do blogue para dar a sua preciosa colaboração na mobilização pela vida no planeta, mas calhou de ser hoje, a Sexta feira da Paixão e dia do Índio. Coincidência? Talvez não.
    O mundo precisa de Ressurreição e indígenas do mundo todo são o reservatório de algo tão importante para que ela seja possível: uma relação de amor e respeito com a Natureza, o conhecimento da ligação íntima que temos com a Mãe Terra e com todos as suas criaturas.

    Do tão saudoso professor (com quem aprendi pelos meios de comunicação em tempos inimagináveis agora) Nicolau Sevcenko, as citações de abertura em seu livro “A corrida para o século XXI – no loop da montanha-russa” (editora Companhia das Letras, 2001, 9ª reimpressão, 2007, coleção Virando Séculos):

    “Eles tiveram e têm esse poder de se conectar com todas as manifestações da vida, que o nosso mundo moderno perdeu; como visão de mundo, como visão de si mesmos, como a filosofia prática que dominava suas sociedades e como uma arte suprema dentre todas as artes. O que o mundo perdeu, ele deve recuperar para que não desapareça para sempre. Não restam muitos anos para se resgatar o ingrediente perdido.”
    John Collier, “The American Indian and the Long Hope”; 1947. Citado por Joseph Epes Brown, The Spiritual Legacy of the American Indian, Nova York, The Crossroad Publishing Co., 1995, p. 129.

    “As portas são inumeráveis, a saída é uma só, mas as possibilidades de saída são tão numerosas quanto as portas.” Franz Kafka, “Parábolas e fragmentos”, tradução de Geir Campos, Rio de Janeiro, Edições de Ouro, s/d, p. 126
    (as aspas não existem no original; itálicos impossíveis de reproduzir aqui)

    Sermão da Montanha – dito por Jesus, de acordo com o evangelista Mateus

    “1.Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. 2.Então, abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
    3.“Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!”
    4.Bem-aventurados os que cho­ram, porque serão consolados! 5.Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! 6.Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! 7.Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão miseri­córdia! 8.Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! 9.Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!”
    10.Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! 11.Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. 12.Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”. 13.“Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.”
    São Mateus, 5 – Bíblia Católica Online (https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-mateus/5/)

    LULALIVRE! ASSANGELIVRE! CHELSEALIVRE! PALESTINALIVRE! PLANETALIVRE!

    Legião Urbana – Índios (Renato Russo terá sido um xamã urbano?)
    https://www.youtube.com/watch?v=nM_gEzvhsM0

    Rita Lee – Baila Comigo
    https://www.youtube.com/watch?v=P1LQfcpd4ro

    Sampa/SP, 19/04/2019 – 02:11

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