Dona Ivone Lara foi uma das maiores compositoras da música brasileira, por Augusto Diniz

Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara foi uma das maiores compositoras da música brasileira

por Augusto Diniz

O País produziu ótimas cantoras e elas continuam a surgir. Mas não é tão simples apontar mulher compositora. Dona Ivone Lara é um dos raros exemplos. E o que é mais peculiar: com destaque para melodia. Ela tornou-se uma das maiores da história da música brasileira.

A sambista, que morreu no Rio nesta segunda (16), de insuficiência cardiorrespiratória devido a idade avançada – 97 anos -,  se tornou mais conhecida ao compor um samba-enredo. Trata-se da música “Os cinco bailes da história do Rio”. A sua entrada na lista de compositores foi por acaso.

Silas de Oliveira produzia com Bacalhau o samba-enredo da escola Império Serrano em 1965, quando chegou Dona Ivone Lara cantarolando um pedaço da música que acabou sendo incorporada à composição.

Mas quase duas décadas antes ela já integrava a ala de compositores da verde e branco de Madureira. No entanto, foi no internato que teve contato efetivo com a música.

A garota cantava no coral, muito comum na sua época. Ali ela absorveu a beleza da harmonia e dos arranjos das peças eruditas.

Em casa, longe do rigor musical da escola, convivia com seu primo Mestre Fuleiro, compositor de samba, jongueiro e personagem decisivo para sua carreira. D. Ivone nasceu em Botafogo, no Rio, mas perdeu os pais cedo e foi viver na casa da tia, em Madureira, que a acolheu.

Dessa casualidade de ir morar onde as manifestações culturais cariocas da época fizeram lar, como o samba e o jongo, D. Ivone teve contato com o popular – até por que sua família participava dessas manifestações.

Dessa junção do que se aprendeu na escola e na rua, associada ao seu gosto pela música desde criança, explica boa parte desse seu enorme talento em produzir belas melodias que ela tanto valorizou.

O curioso é que essa senhora que trabalhou por 30 anos como assistente social (aposentou-se como tal) tirava suas melodias cantarolando, ao invés de mergulhar em representações escritas de notas musicais – embora isso seja pouco comum no samba.

Délcio Carvalho, já falecido, seu parceiro mais constante e representativo, dizia que a melodia, que ela sempre apresentava primeiro, o inspirava de maneira rara para escrever – e bem, por que ambos assinam obras-primas da música brasileira: “Alvorecer” (primeira música da dupla), “Sonho meu”, “Liberdade”, “Acreditar” etc.

Com Jorge Aragão assinou dois outros clássicos: “Enredo do meu samba” e “Tendência”. Com Caetano Veloso fez “Força da imaginação”; “Mas quem disse que eu te esqueço” com Hermínio Bello de Carvalho. Só dela: “Alguém me avisou”.

Foram um punhado de excelentes composições e 19 discos gravados incluindo coletâneas. D. Ivone ganhou reconhecimento de fato em idade mais avançada (gravou seu primeiro CD em 1979).

D. Ivone simbolizava – ao lado de Jovelina Pérola Negra e Clementina de Jesus – a continuidade do legado da Tia Ciata, que promoveu as primeiras rodas de samba da história em seu terreiro no início do século passado, afirmando e reafirmando as nossas profundas e inegáveis raízes socioculturais negras.

Redação

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  1. Ontem, fotografei a capa e o

    Ontem, fotografei a capa e o encarte do ‘Samba Book Dona Ivone Lara’ e enviei sem texto para os amigos via Watszapp. O DVD duplo com CD é admirável. Praticamente, toda a MPB comparece. Dona Ivone Lara presente!

    “Nasci Pra Sonhar e Sonhar”- Dona Ivone & Delcio Carvalho com Carminho & Hamilton de Holanda

    https://www.youtube.com/watch?v=1M1kk58pYa4

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