A declaração de guerra do editorial da Folha, por Paulo Moreira Leite

Do Blog do Paulo Moreira Leite

Pedido de renúncia é anúncio de confronto

Por Paulo Moreira Leite

Expresso num absurdo editorial da Folha de S. Paulo, o esforço dos adversários do governo para forçar Dilma Rousseff a pedir a renúncia do mandato presidencial possui dois significados.

O primeiro é jurídico. Equivale ao reconhecimento definitivo da fraqueza real do pedido de impeachment em discussão na Câmara, formulado com argumentos risíveis e desmascarado perante uma parcela crescente de brasileiros como uma constrangedora tentativa de golpe de Estado.   

O segundo significado é político. Na conjuntura atual, um pedido de renúncia equivale a uma perversão. Não é apresentado como aquilo que é — uma decisão unilateral e voluntária de um ocupante de cargo público, seja um mandato de vereador no interior de São Paulo, seja a presidência da República — mas uma exigência dos adversários. Um ato contrário à vontade que Dilma tem manifestado de forma clara e firme. 

Estamos falando de uma espécie de suicídio induzido por auto envenenamento, que todo aluno de curso médio aprende quando estuda a Grécia antiga, uma estranha democracia apoiada no trabalho escravo,  onde Sócrates foi forçado a ingerir cicuta como punição por “corromper” a juventude. Pelo ritual, os verdadeiros criminosos escondiam sua culpa.

Falar em renúncia, no Brasil de 2016, é demonstrar disposição de confronto e perspectiva de enfrentamento.  

Implica na tentativa de conduzir a luta política muito além dos limites razoáveis, aqueles que envolvem o respeito e as regras da democracia e da soberania popular.   

Não estamos falando do confronto de ideias, do debate de divergências. Não é possível negar a necessidade de construção de um pacto político capaz de apontar uma saída para a crise do país. A mensagem de quem pede — na verdade, exige — a renúncia é: mesmo que a oposição seja incapaz de reunir os 342 votos necessários para abrir uma investigação contra a presidente na Câmara, não haverá trégua nem acordo.

Entramos na fase além do Estado Democrático de Direito. Com apoio da  mídia, da polícia, do judiciário,  os adversários do governo, vencidos em quatro eleições consecutivas, decidiram dar mais um passo na política de vale-tudo. Nós sabemos muito bem o que isso quer dizer.  

Equivale a submissão do conjunto do sistema político a uma força que está muito além da soberania popular. Sua origem é um poder de classe,de natureza histórica, que não aceita ser desafiado pela regras que todos estão condenados a respeitar para preservar o regime democrático. Neste universo, não há leis e procedimentos que todos devam aceitar e cumprir, rem nome de valores que constroem um bem maior, que é uma nação soberana, onde a Constituição vale para cada um e para todos.  Nada disso. Estamos falando de patrões de republiqueta.  

O comportamento destrutivo desses personagens que se imaginam acima do Bem e do Mal explica o esforço permanente — um ano e seis meses — para impedir o governo de funcionar, mobilizando todas suas forças na direção da crise, do impasse e da paralisia, de modo implacável e sem descanso. Vale até destruir a 8a. economia do mundo, quebrar uma força que se tornou motivo de aplauso e respeito. A necessidade de recuperar o poder político ganhou prioridade sobre todas as coisas.

Cabe reconhecer, como óbvio, que o próprio governo tem uma parcela inegável de responsabilidade pelos impasses em que o país se encontra. Não dá para negar nem para discutir.

Com mandato até 2018, porém, o governo não pode ser impedido, porém, de exercer o direito legítimo de recompor suas próprias forças e buscar uma saída, numa situação na qual enfrenta uma articulada conspiração das elites que governam o país desde as caravelas de Cabral. São golpes sucessivos aplicados por farrapos morais que só lhe reservam ataques, infâmia e gestos de covardia.

Esta razão anti democrática está na origem de uma operação coordenada e multidisciplinar, pois envolve o Judiciário, o Congresso e especialmente a mídia grande, destinada a cassar os direitos políticos de Luiz Inácio Lula da Silva, que, pouco a pouco, começa a ser colocado numa posição que nos tempos da ditadura militar era chamada de semi legalidade.

Nessa condição, a  pessoa até consegue encontrar os amigos, trocar ideias e manifestar suas opiniões na esfera privada. Em voz baixa, de preferência. Mas não tem o direito de travar seu combate no espaço público, quando propostas e soluções podem adquirir força material e influir nas decisões do Estado.   

Alvo previsível da Lava Jato desde que a operação foi iniciada, com base no grampo de um assessor do PP e seu advogado — gravação de caráter ilegal, pois envolve a comunicação entre cliente e seu defensor — do ponto de vista dos fatos conhecidos e provados as intermináveis investigações sobre Lula equivalem a uma atestado de inocência.

O mesmo se pode dizer sobre o caso Celso Daniel. As hipóteses de investigação que tentaram envolver membros do Partido dos Trabalhadores num crime terrível foram derrubadas em três inquéritos policiais, produzidos por equipes diferentes, em épocas diversas. Simplesmente não apareceram fatos nem provas.  Conduzidas ao Supremo Tribunal Federal, foram rejeitadas duas vezes. Numa delas, condenou-se o “denuncismo”, termo que dá uma ideia do caráter irresponsável da acusação. Em outra, configurou-se cerceamento da defesa — aquela prática pela qual não se respeita o princípio segundo o qual todos são inocentes até que se prove o contrário.

Temos hoje um caso vergonhosamente óbvio de perseguição política a Lula,  destinada a produzir factóides negativos contra uma pessoa que não se consegue acusar com um mínimo de credibilidade. O plano real é tentar atingir a memória deixada pelo mais aplaudido dos presidentes brasileiros. Não é um comportamento novo, diga-se. A novidade é a urgência. Pois o principal instrumento para L Lula defender-se reside na consciência da população, como ficou claro pela reação nacional a condução coercitiva para prestar depoimento a Polícia Federal.

Até há pouco acreditava-se, com a ingenuidade típica de quem não consegue enxergar a falta de escrúpulos presente nos planos adversários, que o massacre a Lula teria 2018 como horizonte.  Era um jogo sujo, mas travado dentro das regras de um país com democracia estável, leis respeitadas, no qual um candidato com sua imensa representatividade e nenhuma culpa demonstrada poderia exercer o direito de candidatar-se na próxima eleição. Nada disso.

Os patrões de republiqueta querem que morra agora. Têm pressa. Estão aflitos. Com todas as cartas marcadas na manga, têm certeza da própria impunidade e não temem cometer aquilo que, sabemos todos, é um crime contra a honra e contra a história. Aceitam que Lula seja um meio ministro. Ou um meio cidadão. Não pode ser um brasileiro como os demais 200 milhões.

Não querem deixar passar aquilo que os cientistas políticos chamam de momentum. Até porque ele está passando mesmo. Basta andar na rua e se emocionar com lições universais de cidadania e democracia. Basta rir das desculpas de Lobão. 

Esta é a questão real.

Redação

18 Comentários

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  1. Há tempos já havíamos

    Há tempos já havíamos observado que essa gente está completamente desesperada. Ficou muito mais desesperada quando a presidenta Dilma disse que não ficaria pedra sobre pedra em relação a corrupção no Brasil.

    Essa gente já ïnvestiu”muito nesse golpe. A mídia porca deste país,além dos recursos financeiros,posibilitou e possibilita um grande espaço para os golpistas,possibilita e entrada de recursos através de publicidade ( a jogada é antiga)além,é óbvio,de sua parca credibilidade junto ao público.

    Neste jogo que estão fazendo não existe meio termo,este é o temor (ou temer) deles.

    The winner takes it all,como eles dizem na língua pátria ou,como dizemos nós,o vencedor leva tudo.

  2. O Deputado Marcelo Aro (PHS)

    O Deputado Marcelo Aro (PHS) de MG  indicou o Eduardo Cunha para cidadão honorário de BH. Ele é a favor do golpe. Entre no Face do deputado e pergunte a ele: Voce é contra corrupção ? O que acha de Eduardo Cunha? Certamente ele vai te bloquear e vai excluir o seu comentário , como tem feito com muitos que relacionam o nome dele ao  de Eduardo Cunha. Ainda assim vamos denunciar o Marcelo Aro. Entre no Face dele e manifestem!!!

     

    http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/01/22/interna_politica,610613/eduardo-cunha-vem-a-bh-para-homenagem-e-articular-presidencia-da-camar.shtml

  3. renunciei

    Eu renunciei!

    Não quero mais saber deles!

    Não leio Falha, nem Estadinho, nem Óia, nem assisto plimplim nem nenhum outro membro do PIG, Partido da Imprensa Golpista. Por mim eles foram irremediavelmente impichados. Já a mais de vinte anos (20). Nem de graça para forrar lixo eu aceito.

    Recomendo. Melhora o humor e a saúde. Alem disso não se contribui para as poucas famiglias que dominam a imprensa no Brasil.

  4. Eis um retrato pungente do

    Eis um retrato pungente do Brasil atual. Conforme Paulo Moreira Leite enfatizou: “Essa é a questão real.”

    Outra frase marcante: “A mensagem de quem pede — na verdade, exige — a renúncia…”

    Uma observação simples, mas de suma importância. De onde provém essa exigência?

    Paulo se encarrega de mostrar:

    “Equivale a submissão do conjunto do sistema político a uma força que está muito além da soberania popular. Sua origem é um poder de classe,de natureza histórica, que não aceita ser desafiado pela regras que todos estão condenados a respeitar para preservar o regime democrático.”

    Certeiro. Triste e preocupante. Não podemos jamais submetermo-nos a esse absurdo. O país já possui musculatura suficiente para enfrentar esses fascistas e jogá-los no inferno em que pretendem nos lançar. Querem medir forças? Preparem-se, tem muita gente forte que sabe que a escravidão acabou. Nos últimos anos, essa gente arregalou os olhos de felicidade, viu o país transformar-se no ponto em que mais era carente: A justiça Social! Justiça que era negada há séculos começou a florescer, e não será um bando de fascistas unidos em famílias mafiosas que irá destruí-la.

  5. O gigante

    Discordo  sobre Lula. Acho que ele se agigantou neste episódio de tentativa de golpe e recuperou seu franco favoritismo para 2018.

  6. D E S E S P E R A D O S !

    é  como estão todos que compõe a turma do Golpe !

    Veremos os próximos passos do PGR , o comandante que recebe ordens externas.

    A  situação do governo melhorou um pouco com tantas manifestações contra o golpe, e eles não estão aturando mais.

    Assim como o Moro,  querem atropelar tudo o que vem pela frente, seja a ética como pessoas que são, seja a ética jornalista (?), seja a Contituição e até a Bíblia, não importa. O que importa é tirar essa “corja” do PT da presidência!

    O engraçado é que não aparece ninguém do PT na tal lista de hoje, mas os “probos” estão todos lá. Uns grandes partidos e outros anões.

    Ao invés da Rainha Louca, vamos ter Reis loucos em toda a parte. Viu Isto é ? Ainda desejo te ver lacrada algum dia.

  7. Anuncio de derrota

       Como perceberam que o impedimento mostra-se cada vez mais improvavel, os meios de comunicação comprometidos com o golpismo, partem para outra estratégia, a do desespero, como é o caso deste editorial e da “reporcagem” da revista “Quanto É “, que procuram solapar a imagem da PR, aconselhando-a a renuncia, só não informam a seus obtusos leitores, que neste caso a PR iria para as mãos do ilibado patriota Eduardo Cunha.

        Podemos aguardar maiores inflexões neste sentido para as próximas semanas, principalmente artigos, matérias, comentando sobre a impossibilidade de governabilidade caso Dilma, ou até Temer, permaneçam no poder.

  8. Que baixaria!
    Vim que direito

    Que baixaria!

    Vim que direito um proprietário de jornal se utiliza de uma ferramenta pública para publicar um texto tão obsceno. 

    Obsceno, sim, porque não somos obrigados a ver a expressão do fascismo, arbitrário e prepotente, colocado pelas vísceras sangrentas da mídia desesperada contra uma mulher ilibada, governante eleita com 54 milhões de votos. 

  9. Reencarnação

    Pensei que Carlos Lacerda tinha morrido. Ah não, são outros membros da facção obcecada por golpes, os Frias, Mesquitas, Marinhos…. 

  10. Octógono
    Esse editorial mostra que tudo deu ruim pros golpistas. É o fim da legalidade de fachada da oposição.

    É isso é um perigo, porque no vale tudo do Otavinho vale até comprar voto de deputado na CPI, como quem compra reeleição.

  11. PAULISTAS LOUCOS QUEREM DIVIDIR O BRASIL… DE NOVO.

    á acho escroto uma “elite” que comemora o 09 de julho como uma espécie de data da Independência do país e um jornal que tem comEssa gente é louca. Eles acham que mandam no Brasil e na opinião dos brasileiros.

    Querem repetir 32 em 2016.

    Não têm senso cronológico,  visão histórica e nem sociológica.

    Escrúpulos? Nunca tiveram.

    Acham , na sua insanidade, que estamos no auge do século XX onde os jornais,  rádio e TV, utilizados somente por uma parte da população, ainda sejam capazes de fazer cabeças  contra governos e ideologias contrárias às deles.

    Não me espanta se daqui a pouco, num ato alucinado de desespero, ajam como ratasanas que, acuadas e enfraquecidas, mesmo em situação de flagrante desvantagem  avançam sobre aqueles que as encurralam.

    O desespero é a arma dos covardes e os acovardados não temem pelo caos. Eles o alimentam como única estratégia possível de enfrentamento. Não medem esforços para justificarem que não vão para o inferno sozinhos. Sempre tentarão levar com eles o maior número possível de vítimas.

    De preferência  gente do povo que, em momentos de incerteza procuram por um caminho seguro,  mas geralmente no escuro.

    Tampouco me espantaria  se propusessem – como em 32 –  a proclamação da República de São Paulo.o símbolo um  soldado corneteiro  da República do Café.

    Puro saudosismo fascista dos arianos mestiços do “anauê”.

    Acho também perigoso esse momento do “ou tudo ou nada” e já ouvi falar nessas passeatas insanas de S. Paulo alguma coisa sobre separatismo, espécie de guerra de secessão tupiniquim. Essa  visão acalentada de que SP ainda é a locomotiva do Brasil e de que sem o mais poderoso estado da federação não sobraria pedra sobre pedra do que restasse do nosso  país.

    Esse tema volta à boca dos loucos e a sociedade brasileira, principalmente  as forças armadas devem ficar alertas para a manutenção da unidade nacional. Muitos deram a própria vida para manterem essa unidade e não é justo que por causa de um capricho de meia dúzia de emboabas o Brasil se veja dividido.

    Dividiram o Iraque, a Líbia o Afeganistão e os entregaram nas mãos de facções diversas. Tentaram fazer o mesmo com a Síria e a Criméia, mas fracassaram em suas tentativas.

    Abramos os olhos. Nosso povo já está dividido.

    Dividir nosso território é algo possível neste momento de conflito e tem muita gente – de dentro e de fora – que já encara seriamente essa possibilidade como saída honrosa para suas frustrações.

  12. Temos a imprensa mais insana

    Temos a imprensa mais insana do mundo eles ajudaram a tocar fogo no país desde a posse da pres. Dilma encorajando Aécio.

  13. ..se, algum dia..

    ..Dilma, no limiar de sua resistencia, decidir dar uma coletiva e contar umas verdades (e aposto que irá chorar fazendo isso, pois é forte para chorar, assim como só uma mulher consegue ser), toda uma nação, no outro dia, terá vergonha de tudo o que está acontecendo atualmente…

  14. Esses dois esforços, o

    Esses dois esforços, o primeiro de destruir Lula; o segundo, de destituir a presidente Dilma, possui contornos de uma ópera bufa. Absolutamente bufa. 

    Essa última agora de ressuscitar o assassinato de Celso Daniel foi de um descaramento a toda prova. Só desespero pode explicar tal extremo. O mais provável é que se trate na realidade da continuidade de uma tática que é prover o noticiário da mídia associada e amigada com notícias negativas envolvendo as duas personalidades citadas. 

    O pior é que o tempo está contra esses golpistas de meia-tigela. A cada dia que passa mais se esmaece o fervor dos que apoiam tal medida extrema. Daí a avalanche de ações provindas do consórcio midiático-político-judicial nesses últimos dias. Até editoriais indecorosos já foram emitidos pela dita grande mídia. 

    Só falta mesmo os bufões cometerem suicídio em massa.

  15. o STF podia fazer mais uma surpresinha para o sr cunha

    Acho que o STF podia fazer mais uma surpresinha para o sr cunha. Ele está nitidamente provocando. E o governo tinha que partir pra cima do pig, com ações na justiça e com a retirada de toda propaganda deses veículos de comunicação vendidos Tem uns editoriais que já davam um processo 

  16. como já disseram alguns

    como já disseram alguns comentaristas, a turma do golpe tá desesperada

    porque parece que a maioria acordou para defender a democracia e não o golpe….

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