A bomba que Assange pensou que havia desarmada, explodiu no seu colo 10 anos depois

 

12 de Julho de 2007. O helicóptero sobrevoava uma área em Bagdá, no Iraque, e ao mesmo tempo o piloto faz um relato ao comando de que havia alguns insurgentes armados, provavelmente com AK-47, se deslocando livremente pelo local. Baseado nesse informe, pede autorização para atirar sobre eles;  na sequencia recebem sinal verde para agir. Depois da chuva de balas o piloto logo percebe que há um ferido rastejando com dificuldade, em seguida avisa ao comando a chegada de um veículo para remove-lo do local. Novamente pede autorização para, mais uma vez, abrir fogo. No final nenhum sobrevivente; missão cumprida e todos comemoraram.

05 de Abril de 2010. O WikiLeaks publica o vídeo “Collateral Murder”, que revela ao mundo não uma cena de guerra, mas um crime de guerra onde pilotos americanos assassinaram deliberadamente civis iraquianos, incluindo aí dois repórteres fotográficos. O vídeo colocou por terra a versão oficial, retratada mais ou menos no primeiro parágrafo; com o público ainda impactado com as imagens dos tiros sobre os civis iraquianos, o WikiLeaks publica em Julho do mesmo ano, documentos dos registros da Guerra do Afeganistão, onde se revela igualmente outras ações militares que resulta em mais um extermínio da população local.

Toda essa documentação acabou chegando ao fundador e principal editor do WikiLeaks, Julian Assange através da analista de inteligência militar Chelsea Manning. A sua função era a de ordenar todo esse  grande volume de registros das ações militares das várias operações de guerra, para fornecer uma visão mais abrangente possível, juntando os eventos principais para serem distribuídos na corporação e também como base de informações para a mídia em geral. Chelsea foi percebendo que as divulgações dessas operações feita pelo governo americano eram, se não deturpadas, irrelevantes em função dos acontecimentos reais, criando assim uma falsa ideia do que ocorria nos conflitos do Oriente Médio, independendo de se preservar segredos estratégicos ou de qualquer outra natureza.

Em vista disso, Chelsea procurou, primeiramente, alguns órgãos da grande imprensa, que naquele momento não demonstraram qualquer interesse nesses documentos, somente reverteram essa atitude depois da repercussão que se irradiou a partir do WikiLeaks.

Mas durou pouco, as empresas de mídia já não eram mais as mesmas; e atualmente como empresas agem como empresas, corroborando com o discurso ultraliberal, que no caso americano é respaldado pelas ações do Estado.

As empresas midiáticas tiveram seu auge durante a Guerra do Vietnam, enviando correspondentes de guerra e outros jornalistas que testemunhavam as atrocidades dessa guerra, que eram apresentadas nas paginas dos jornais e das revistas de grande circulação.

Imagens de crianças, com seus corpos queimados, vítimas do Napalm, idosos e bebês estendidos no chão depois de uma saraivada de metralhadora, eram publicados e amplamente divulgados; o mito americano de levarem a democracia, a liberdade e o desenvolvimento seja aonde fosse, acabou desabando na própria casa.

Das páginas veio a indignação, que por sua vez uma revolta que  tomou conta das ruas nas manifestações. Ninguém escapou, nem mesmo o Bank of America, o grande fiador dessa invasão ao Vietnam, que teve a sua sede incendiada na Califórnia.

Diante disso, o Estado Americano, que não fica de braços cruzados, começa a traçar os rumos para a virada de um jogo que hoje vemos concretizado. A cobertura dessas guerras começam a ser limitadas; as informações com maior divulgação são as oficiais com a ajuda da mídia corporativa. O silencio passa a ser a técnica mais importante do que mentira viralizada, a não existência de um fato não há o que contrapor e a despolitização seja do que for, desmobiliza, imobiliza.

A movimentação em frente da embaixada do Equador era grande, já havia alguns dias. Esperava-se apenas a oficialização da autorização do serviçal-mor do Equador para que as forças  do Império Britânico entrassem no próprio território equatoriano e levasse preso Julian Assange. Com todo esse barulho, não havia a presença de um só canal da grande mídia ocidental; caso as imagens da prisão de Assange não fossem captadas pela mídia russa da RT, haveria um vácuo na compreensão real desse momento, por mais que conseguíssemos imaginá-lo.

Assange está só, não apenas agora mas também nos últimos tempos. Talvez nem ele mesmo perceba a sua própria condição. Sobre suas costas as mãos pesadas do imperialismo americano e britânico; de quebra o sueco, vão minando lentamente a sua saúde ao ser exposto na prisão ao Covid-19. A maioria não tem noção do que está ocorrendo com ele, os que sabem, entendem o aviso que está sendo dado que é de inibir uma empreitada semelhante a essa desenvolvida por Assange. E assim, fecham seus olhos e vão aprofundando dentro de si, refinando os pensamentos e aos poucos se distanciam de toda essa  tragédia envolvendo-a dentro da névoa do esquecimento, e por fim, engambelam um discurso para seguirem a velha nova vida.

As ações contra Assange, acabaram respingando em pessoas próximas a ele, a começar por Chelsea Manning que desde o início vem também sofrendo a perseguição implacável do Estado Americano. Ela tem suportado inúmeras pressões para testemunhar contra Assange; resistiu bravamente mesmo presa pela Justiça, que também aplicou pesadas multas, mas tudo em vão.

O sueco Ola Bini, um dos maiores programadores de seu país, militante do software livre, frequentemente visitava o amigo Assange na Embaixada do Equador, em Londres. Pouco depois da prisão do fundador do WikiLeaks, Ola Bini foi preso no aeroporto internacional de Quito, quando embarcava para o Japão para um evento de artes marciais. A acusação é aquela de sempre para quem é da área; “Hacker”.

Craig Murray um ex-diplomata, ativista de diversas causas tem acompanhado de perto por todo esse período o caso de Assange, principalmente desde ele foi confinado em Belmarsh. Tem sofrido processos relacionados a sua militância pela independência da Escócia, mas é claro que isso se deve da sua proximidade com Assange.

É preciso continuar a luta pela liberdade de Julian Assange, mesmo porque ela precisa ser seguida e continuada. Não se pode desistir principalmente nesse momento em que estamos todos vivendo.

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Para nos proteger

Para nos calar

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+info:

https://www.wsws.org/en/articles/2020/04/06/coll-a06.html

https://www.wsws.org/en/articles/2020/07/31/assa-j31.html

https://chacoalhando.com/2020/05/05/ameaca-a-liberdade-de-expressao-no-reino-unido-justica-indicia-craig-murray-ativista-pela-independencia-da-escocia-por-ruben-rosenthal/

https://www.counterpunch.org/2020/08/20/torturing-assange-an-interview-with-andrew-fowler/

https://www.unz.com/jcook/for-years-journalists-cheered-assanges-abuse-now-theyve-paved-his-path-to-a-us-gulag/

https://jornalggn.com.br/artigos/alem-de-palavras-por-craig-murray/

https://www.rt.com/news/456212-julian-assange-embassy-eviction/

https://www.esquerda.net/artigo/chelsea-manning-campanha-dos-militares-dos-eua-contra-liberdade-de-imprensa/33048

https://jornalggn.com.br/analise/a-prisao-de-olin-bini-como-elemento-para-turbinar-a-acusacao-de-assange/

https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/a-morte-da-historia-por-john-pilger/

 

Redação

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