Cinco anos sem Sérgio de Souza

Por Walter 22

Da página de Palmério Dória no Facebook

TÃO BOM COMO SER ACEITO NUMA BANDA DE ROCK
cinco anos sem serjão

Falam muito de Sérgio de Souza na Realidade, e é bom que falem mesmo desse new journalism à brasileira. Luiz Fernando Mercadante disse que Serjão contribui com 50 por cento para o sucesso da revista.

Mas Serjão deixou sua marca indelével nos 40 anos seguintes. Comandou coisas tão diversificadas, que até foi traído pela memória no balanço que fez à mestranda Luciana Chagas, publicado em Caros Amigos de abril de 2008. Esqueceu-se de citar o semanário Canja, que reuniu, no começo dos anos 1980, uma equipe notável e impagável, no Rio e São Paulo, só para falar de música — José Trajano, Paulo Polé, José Márcio Penido, João Máximo, João Antônio, Ricardo Gontijo, Paulo Cesar Araújo, Nelson Motta, Walter Firmo…

Quando o tabloide entrou num bandeiroso vermelho, José Trajano veio com a ideia de salvá-lo com dois shows, um no teatro Carlos Gomes, no Rio, outro no ginásio do Palmeiras, em São Paulo. O prestígio do Canja pode então ser medido pelo astros no palco — Gilberto Gil, Luís Melodia, Alceu Valença, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Placa Luminosa, Arrigo Barnabé, entre outros — e na plateia, Mick Jagger, que apareceu no Rio “disfarçado” sob um chapéu de palha.

Esta era uma especialidade do Serjão: a arte do encontro. Outra: a busca permanente de uma nova forma, uma nova visão, um novo lance. Dias antes de ser internado, apresentou à redação da Caros Amigos proposta de um tabloide semanal de polícia com o título de B.O. Imagine o impacto de um produto desses, feito pelo cara que escreveu um thriller eletrizante como O crime da novela das 8, sobre o assassinato da atriz Glória Perez. Um pouco antes pretendia trazer para a editora o projeto de uma revista de HQ, Trocentos, que vinha sendo tocado por Laerte, Adão Iturrusgarai e Caco Galhardo.

Gosto de pensar que muito da objetividade dele vinha dessa cumplicidade com o pessoal do humor. Seus olhos compassivos pareciam dizer “mantenha a simplicidade” diante de qualquer desvio de texto, pensamento ou conduta. Sem falar do Grilo, O Bondinho também lançou HQs fantásticas, assim o Ex, que saiu com a seção Comicus.

Entrei na rota do Serjão na primeira fase do Ex, pelas mãos do Myltainho e do Hamilton Almeida Filho. Era tão bom como ser aceito numa banda de rock. Ele era o que o ator Paulo César Péreio chama de “uma esfinge”, só que passou a vida tentando decifrar e despertar o que havia de melhor nas pessoas.

Força estranha, essa do Sergio de Souza, capaz de levantar o astral até de um Samuel Wainer em sua derradeira aventura jornalística, o Aqui São Paulo. Ele e Narciso Kalili eram os editores do semanário. Era o encontro da Última Hora com a Realidade, pois havia ainda o Myltainho, o Hamiltinho, que depois tocariam o jornal, e o fotógrafo Amancio Chiodi. Ali projetaram seu talento repórteres como Caco Barcellos. Assim, não era nada surpreendente que Samuel de vez em quando entrasse na redação agitando as páginas do Aqui São Paulo e jogando charme:

“Essa matéria é digna da Fortune!”

Sabe-se lá o que Samuel, Hamiltinho, Narciso, Mercadante e Serjão andam aprontando lá em cima.

Luis Nassif

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