CPMI do 8/1 volta com ‘tese’ bolsonarista reforçada pela imprensa, por Hugo Souza

Folha dá peso a relatório de militares isentando eles próprios pelo 8/1 e apontando “indícios de responsabilidade” do governo Lula.

do Come Ananás

CPMI do 8/1 volta com ‘tese’ bolsonarista reforçada pela imprensa

por Hugo Souza

No dia 18 de abril, quando o governo Lula ainda movia a musculatura para evitar ou pelo menos retardar a CPMI do 8/1, Rodrigo Pacheco adiou a leitura do requerimento de criação da comissão e, consequentemente, sua instalação. No dia seguinte, a CNN divulgou imagens do chefe do GSI, general Gonçalves Dias, transitando à paisana, algo perdido, no Palácio do Planalto, na hora dos ataques à Praça dos Três Poderes.

As imagens, da maneira como foram divulgadas pela CNN, alimentaram o delírio velhaco do bolsonarismo de que o 8/1 foi obra do próprio governo atacado, “por ação ou omissão”.

A leitura do requerimento da CPMI aconteceu no dia 26 de abril, e a comissão foi efetivamente instalada no dia 25 de maio. Menos de uma semana depois, no dia 31, o jornal O Globo publicou reportagem de Malu Gaspar intitulada “Ex-GSI de Lula falsificou relatório do 8/1 enviado à comissão de inteligência do Congresso”.

A referência era ao general Gonçalves Dias. Todo um encadeamento de fatos apontavam, apontam para o envolvimento do Exército no fomento do 8/1, agora sim, por ação ou omissão, e a notícia de um general fraudando um relatório da Abin, após manter no GSI uma penca de militares nomeados por Augusto Heleno, evidentemente deveria fazer parte desta concatenação. A preferência, porém, foi por rifar a questão militar do título e do cerne da matéria, substituindo-a por “ex-GSI de Lula”.

O bolsonarismo voltou a fazer a festa. O delírio velhaco do bolsonarismo, até dois meses atrás visto como não mais que isso, visto como natimorto em sua pretensão de causar tumulto, ganhou corpo.

Vários requerimentos de convocação do general Gonçalves Dias foram aprovados na CPMI no dia 20 de junho, após terem sido rejeitados em um primeiro momento. Os autores dos requerimentos são, por exemplo, Sergio Moro, Magno Malta e Marco Feliciano.

Após o oitiva muda do tenente-coronel Mauro Cid, a CMPI parou no âmbito do “recesso branco” do Congresso. A comissão volta aos trabalhos nesta terça-feira, 1º de agosto, em reunião para ouvir o depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Moura da Cunha. Trata-se justamente de quem assinou o relatório da Abin adulterado por GDias.

Nesta segunda, 31, véspera da volta da CPI com a oitiva de Cunha, a Folha de S.Paulo publicou em seu site matéria intitulada “Inquérito de militares sobre 8/1 exime tropas e culpa governo Lula”. A matéria com o relatório vazado para a Folha com timing perfeito é manchete do jornal impresso nesta terça, ganhando peso e citando “indícios de responsabilidade” no subtítulo.

Com uma imprensa dessa, que golpismo precisa de Sergio Moro, Magno Malta e Marco Feliciano?

Hugo Souza é jornalista.

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Hugo Souza

1 Comentário

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  1. Quem instigou os bolsonaristas a acampar e a invadir Brasília foi a família bolsonarista e os militares bolsonaristas. Quem financiou a intentona de 08 de janeiro de 2023 foram os empresários e ruralistas bolsonaristas. Quem ajudou um terrorista a preparar a bomba que explodiria o aeroporto foi um mulitar. Quem ficou cogitando o golpe de estado com seus camaradas de farda foi o militar ajudante de ordens do presidente. Quem tolerou os acampamentos nas portas dos quartões foram os comandantes dos mesmos Quem se recusou a evitar as invasões do Palácio do Planalto, do STF e do Congresso Nacional foram os comandantes militares. Portanto, a culpa é de Lula.

    Essa vabundagem militar tem que ser reprimida com rigor. NÃO COMPETE AOS MILITARES INVESTIGAR E PUNIR CIVIS E MILITARES QUE COMETEM CRIMES COMUNS. Fim. Esse Inquérito farsesco feito por militares para garantir a impunidade dos militares só tem uma utilidade: provar o compromisso deles com a ruptura da legalidade. Ele tem que ser enfiado no rabo dos militares que o fizeram.

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