Fraude no Datafolha é “coerente com a linha geral da mídia, de apoio a Temer”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Hoje, a imprensa vive um “esforço duplo”, diz João Feres Junior: “Tem que elogiar cada vez mais o Temer ou fazer cobertura neutra, com destaque para política econômica ou coisas que as pessoas possam achar positivas, e ao mesmo tempo tratar a Dilma como se fosse passado.”

Jornal GGN – Um dia após a blogosfera revelar que a Folha de S. Paulo omitiu a parte da pesquisa Datafolha onde 62% dizem que querem que Michel Temer e Dilma Rousseff renunciem juntos e convoquem novas eleições ainda neste ano, o que reina é o silêncio absoluto nos veículos de comunicação consolidados. Para o analista João Feres Junior, isso é sinal de “corporativismo sim, mas menos para proteger a Folha [da denúncia de fraude jornalística] e mais para proteger a linha editorial geral da mídia atual, de apoio ao governo Temer”.

Coordenador do Manchetômetro (laboratório de estudo de mídias), doutor em ciência política e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, João Feres Junior disse ao GGN, em entrevista por telefone, nesta quinta (27), que não há nada de surpreendente neste novo episódio de manipulação por parte da Folha. “A Folha faz isso há muito tempo.”

A verdade veio à tona na manhã de quarta (20), após o portal The Intercept divulgar que 50% querem que Temer continue poder porque a outra alternativa dada ao entrevistado pelo Datafolha era a volta de Dilma. À noite, o Tijolaço revelou que a Folha escondeu a pergunta sobre novas eleições gerais, que registrou apoio de 62%.

Segundo Feres, é importante ler a fraude na divulgação da pesquisa de opinião pública no domingo (17) dentro do contexto de blindagem ao governo Temer. “Para entender o nível da manipulação, tem que dar uma olhada na cobertura do jornal como um todo. Por exemplo: no dia 15 de julho, eles não deram nada, sequer uma nota na capa sobre o Ministério Público Federal ter determinado o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da União sobre as pedaladas de Dilma”, lembrou o especialista.

“Eles publicaram a pesquisa manipulando os dados na mesma edição em que há um editorial com posição bem clara, falando que Temer trouxe estabilidade à economia. A manipulação está totalmente coerente com a linha editorial do jornal. Estão embarcando na aventura Temer.”
Desmascarada no caso Datafolha, a direção do jornal divulgou uma matéria informando que não publicou nem no dia 17 nem posteriormente que 62% querem novas eleições porque a redação não viu “relevância” nesse dado.

Para Feres, é natural que a Folha não dê o braço a torcer, pois a linha do jornal é fingir pluralidade perante os leitores. “O fato é que os editores acham que tem muita gente que se convence da política de neutralidade da Folha. Eles mantêm Boulos, Duvivier e Saflate, que são três contra 30 colunistas à direita, para dar o verniz de pluralidade.”

Furando o bloqueio

Em 2014, Feres coordenadou o projeto Manchetômetro, que qualificou a cobertura da imprensa ao longo das eleições daquele ano em relação à Dilma Rousseff, então candidata à reeleição, e seus principais adversários. O resultado foi que Folha, Estadão e o O Globo massacraram a candidata governista.

Hoje, a imprensa vive um “esforço duplo”, diz Feres. “Tem que elogiar cada vez mais o Temer ou fazer cobertura neutra, com destaque para política econômica ou coisas que as pessoas possam achar positivas, e ao mesmo tempo tratar a Dilma como se fosse passado.”

Para o cientista político, a saída é construir “alternativas à mídia tradicional”, que já deu mais de um “golpe neste país e não vai mudar os modos”.

“É imprescindível que as forças progressistas e a imprensa independente se unam e criem o esforço para uma mídia alternativa, algo que vá além da pulverização dos blogs. Os blogs são ótimos, mas são muito pulverizados. Era preciso uma centralização mínima para que não ficassem todos fazendo o mesmo trabalho, para que pudessem produzir mais e aumentar o alcance da cobertura. Só assim a gente consegue se livrar do oligopólio da imprensa tradicional.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. De parabens o Prof.João Feres

    De parabens o Prof.João Feres Junior:”A Folha faz isso há muito tempo”.Talvez o que faltava na alcova de Giacomo Casanova Frias,era o batom na cueca.

  2. Tão coerente que…

    Já inventaram luta contra o terrorismo e esconderam a noticia da fraude embaixo da cartola. Vai ser um show de TV tentando botar cara de árabe em alguns meninos favelados.Vão interrogar até ao Emerson Sheik.

    E o jogador de voley William, do Cruzeiro, já foi chamado para interrogatorio

    O bicho está pegando!

  3. A mídia compromissada tem

    A mídia compromissada tem como esporte favorito engabelar seu público. Este poderia, se quisesse, apelar para a Lei de Defesa do Consumidor em razão de fraudes nos produtos vendidos. Estão livres disso porque seu público fiel, infelizmente, “gostiaaa” dado que ela lhes fornecem o que querem. Até quando perdurará esse relacionamento promiscuo, ninguém sabe.

    Qualquer um menos desavisado nota a clara mudança de tom e de enfoque após a posse do governo interino-usurpador. Antes, o fim do Mundo; a chegada do devir; necas de esperança. Agora……….Até a Míriam Leitão, alcunhada de uruburóloga, hoje se transformou na Deusa grega Fortuna. 

    “Agora, pessoal, tudo vai dar certo. Cruzem os dedos. O ambiente é favorável. Voltou a confiança.Relaxem que não vai doer tanto assim as medidas do novo governo.”!

    O “imortal” cara de berimbau  Merval Pereira está irreconhecível. Mais doce nas suas análises que a Fada Madrinha. Aquele blogueiro  da VEJA. o deus Narciso e nas horas vagas o deus Rola-Bosta, e só´tergiversação e conversa padrão miolo de pote. Nem parece aquele costumeiro detentor de todas as verdades.

    E viva a Natureza!

  4. Pelo que li nas ultimas horas

    Pelo que li nas ultimas horas sobre o “desacaramento” provado e comprovado,das entranhas dessa pesquisa do Datafolha,quando mandaram pelos ares qualquer requinte de decência jornalistica,torna-se fundamental o aprofudamento e apuração por parte do Blog, das patifarias que nortearam essa devassidão.O Blog sabe que essa pesquisa não foi feita a troco de nada.Não arriscariam o pescoço a troco de quinquilharias ou trecos.A jogada foi em parceria com a “Omertá” palaciana.O Datafolha sabia,principalmente em tempos de vigilancia desde a aurora,que havia riscos,e usou isso para evitar a bancarrota do jornalismo impresso.O Editor do Blog sabe como ninguem,desvendar assuntos dessa envergadura e explosão.A Datafolha foi para o vinagre.Falta a pá de cal.Pode está a caminho pelas linhas tortas da blogosfera limpa.

  5. Manipulação da mídia tradicional

    O João Feres, ao comentar sobre a manipulação da mídia tradicional, indica, no caso da Folha de São Paulo, que “Eles mantêm Boulos, Duvivier e Saflate, que são três contra 30 colunistas à direita, para dar o verniz de pluralidade.”

    Lembro que o Otavinho havia falado que tinha colunistas à esquerda para se defender naquele debate em Londres, onde acusaram a mídia brasileira de ser manipuladora.

    Sobre a fala do Otavinho, sempre é bom lembrar que não é na escolha dos colunistas que um jornal manipula.

    É principalmente na escolha das manchetes e nas chamadas de pimeira página.

    1. You got the point!
      É isso

      You got the point!

      É isso mesmo, Cláudio.

      Ter colunistas de esquerda, além de confirmar de que lado o jornal faz parte, não quer dizer absolutamente nada. É uma tentativa idiota de disfarçar pluralidade e imparcialidade.

      Os colunistas apenas emitem opinião num espaço de menor importância e exclusivamente destinado a isso.

      A real manipulação se percebe na escolha das matérias e das manchetes que são noticiadas em destaque.

  6. Acabei de ler um editorial do

    Acabei de ler um editorial do Jornal Folha de São Paulo de abril deste ano,a respeito do Impechemant de Dilma Rousseff.Não leio a Folha de há muito.Fui até assinante.Simplesmente estarrecedor,triste,patético como um jornal de tradição secular,chega um nível de esgoto desta forma.Superou a Revista Veja,em imoralidade,indecência e safadeza.Não fiquem surpreso com minha indignação.Parem para pensar,quantas eleições foram manipuladas,fraudadas,modidificdas pelo DataFolha?A sociedade brasileira a acreditar piamente no que publicava “o mais sério Instituto de Pesquisa do Brasil”.Peco encarecidamente vênia ao editor do Blog,para registrar que questionei duramente o Jornalista Ricardo Kotscho,sério até onde sei,sobre a verdadeira Bíblia que era esse Instituto para ele.O editor desse espaço,por certo,não deixará esse fato que nódoa o jornalismo brasileiro de forma definitiva,e configura de forma cabal,que em certos momentos,nos envergonha pertencer à raça humana,passar despercebido.Com a palavra o Blog,e seu editor.

  7. Meio distraído,abalado com a

    Meio distraído,abalado com a descaracao do Jornal Folha do São Paulo e sua pesquisa canalha,imaginei imediatamente na ferramenta das CPI’S.Tomei uma baita susto,e comecei a sorrir,continuei sorrindo durante uns 15 minutos.So conseguir controlar-me quando lembrei-me dos poemas do Padrinho Temer.Prometi a mim mesmo,presentear todos os meus livros de Neruda.

  8. Dissimulados
    O doído é constatar essa gente criando prêmios para presentearem uns aos outros em festas e bailes onde existe de tudo, menos vergonha na cara.

  9. Leu o último parágrafo, Senhor Nassif?

    Prezados,

     

    Há muito tempo eu tenho dito e escrito que a única forma de os jornalistas independentes fazerem frente ao PIG/PPV é se associando e montando um grande portal de notícias. O trabalho solitário, pulverizado em pequenos em blogs, não tem condições de competir com o oligopólio do PIG/PPV. Vou repetir aqui o último parágrafo de João Feres Jr, pois ele sintetiza o que eu tenho escrito em meus comentários, há quase dois anos.

    “É imprescindível que as forças progressistas e a imprensa independente se unam e criem o esforço para uma mídia alternativa, algo que vá além da pulverização dos blogs. Os blogs são ótimos, mas são muito pulverizados. Era preciso uma centralização mínima para que não ficassem todos fazendo o mesmo trabalho, para que pudessem produzir mais e aumentar o alcance da cobertura. Só assim a gente consegue se livrar do oligopólio da imprensa tradicional.”

    Portanto, Nassif e demais jornalistas e blogueiros independentes, sigam o conselho do professor João feres Jr.

    1. É isso, João.
      Em vista dos

      É isso, João.

      Em vista dos eventos recentes, como o claro boicote à mídia alternativa por parte de Temer ao cortar as verbas de publicidade aos portais progressitas e ainda mais agora que tudo indica que Temer reforçará mais ainda o aporte de recursos à mídia hegemônica, a sugestão é essa: para fazer frente ao PIG (não gosto muito desse termo, mas é o que mais se ajusta) é necessário reforçar os laços ideológicos e criar uma união com esforço conjunto para

      A internet é aliada neste momento. Nassif, pense nisso.

  10. Boulos põe em cheque a ideoneidade da pesquisa

    Em artigo de hoje, na própria Folha, Guilherrme Boulos é bastante incisivo. Acredito que seu emprego está em risco.

    “É difícil crer que a manchete enviesada a partir de uma pergunta binária tenha sido um simples descuido. Principalmente em se tratando de um tema tão decisivo para a situação política atual. Tanto o instituto quanto a Folha devem explicações aos seus leitores e à sociedade.”

     

  11. Dou asas a minha fértil

    Dou asas a minha fértil imaginação,e imagino uma CPI do DataFolha assim composta:Presidência- O Bandido da Luz Vermelha;Vice-Presidência-O Maniaco do Parque;Relatoria-Lúcio Flávio,o Passageiro da Agonia.Os 15 titulares e os 15 suplentes,condenados por corrupção passiva e ativa,lavagem de dinheiro,formação de quadrilha,evasão de divisas,crimes contra a ordem tributária,ocultação de patrimônio,peculato e obstrução da justiça.Todos,sem exceção,com penas acima de 60 anos,em regime fechado,arbitrada pelo Juiz da camisa preta.Bandidos julgando bandidos,e condenados por bandido.Dai a minha frouxidão de risos.

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