O achaque contra o jornal Clarín

Da Folha

Extorsão é praxe, diz líder do bloqueio contra o “Clarín”

Luis Alberto Siri foi flagrado em vídeo pedindo R$ 4,7 milhões para jornal argentino não deixar de circular

Em entrevista a uma rádio, Siri classificou a divulgação das imagens como uma “ruptura dos códigos de ética”
LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Apontado como líder do bloqueio que impediu a circulação do “Clarín”, há dez dias, o líder trabalhista Luis Alberto Siri disse ontem a uma rádio de Buenos Aires que em “negociações sindicais sempre há extorsão”.

Ele se referia ao vídeo em que foi flagrado pedindo dinheiro a diretores da empresa Artes Gráficas Rio-platense (AGR), do Grupo Clarín, para que o diário não tivesse problemas com circulação.

DesdDesde dezembro o “Clarín”, maior jornal da Argentina (média diária de 300 mil exemplares), é vítima de vários protestos em seu parque gráfico. O último, em 27 de março, impediu a circulação do jornal e do diário esportivo “Olé”, do mesmo grupo.

Ao comentar a gravação, considerada por ele uma “ruptura dos códigos de ética”, o sindicalista sugeriu que o vídeo foi editado. Sobre o dinheiro que pediu, afirmou tratar-se de indenização por ter sido afastado da AGR (há um processo trabalhista entre ele e o Grupo Clarín).

“Nas negociações entre sindicalistas e empresário sempre há extorsão, é uma questão mais comum do que se pensa. Tivemos várias reuniões como essa.”

No vídeo divulgado pelo jornal no último domingo, Siri pede 9 milhões de pesos (R$ 4,7 milhões) para que os protestos não atrapalhassem a circulação do “Clarín” (3 milhões de pesos seriam só para ele) e diz que o conflito é “político, não sindical”.

“A capacidade que nós temos de gerar danos a vocês é imensa. Se eu não quiser que o diário “Clarín” não saia, não sai. O que vocês estão comprando é a tranquilidade de vocês”, diz Siri na gravação.

Ele afirmou também que há um “acordo não escrito” com o governo Kirchner, citou o ministro Aníbal Fernández (chefe de Gabinete) como interlocutor e contou ter ligações com Hugo Moyano, maior líder trabalhista da Argentina e aliado da Casa Rosada. Moyano nega participação, mas é acusado de estimular o protesto que bloqueou a gráfica.

O encontro gravado, no dia 17 de fevereiro, reuniu o sindicalista e diretores da Artes Gráficas Rio-platense. Segundo o diário, o vídeo foi produzido para provar que o sindicalista queria extorquir a empresa. O material foi encaminhado à Justiça, que investiga a suspeita de extorsão, no dia 4 de março, antes ainda do bloqueio.

Em sua entrevista ontem, Siri disse que diretores da empresa AGR o perguntaram quanto ele queria para “sumir”. O líder sindical negou ainda conhecer Aníbal Fernández, como citado por ele na gravação, e diz nunca ter frequentado a Casa Rosada.

O governo Cristina Kirchner, que considera a imprensa um inimigo declarado, não contestou os últimos episódios, considerando-os um “conflito trabalhista”, não representando uma ameaça à liberdade de imprensa.

Até os EUA manifestaram preocupação com a situação.
Para Arturo Valenzuela, titular do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, os fatos recentes na Argentina são “perigosos” pois afetam “valores fundamentais da democracia”. 

Luis Nassif

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