O Estadão e o exercício da mesquinharia

Trabalhei no Jornal da Tarde, do grupo Estado, em plena crise do grupo. Dei minha contribuição. Criei a seção Seu Dinheiro e o Jornal do Carro. Quando o JT foi morto – depois de uma série incrível de erros estratégicos – o único veículo que restou foi o Jornal do Carro. De um Mesquita ouvi certa vez que o faturamento do Jornal do Carro deu sobrevida ao JT.

Lá, passei a fase mais tranquila de minha carreira de jornalista. Consegui espaço para opinar, mesmo contra a linha da casa, dando como contrapartida projetos, reportagens, peso editorial à Economia, e não a adesão incondicional ao pensamento da casa.

Dos Mesquita, trouxe lembranças. Implicantes, preconceituosos, sim. Mas leais e pouco propensos a mesquinharias. Era inimaginável imaginar mesquinharias em um jornal dirigido por Júlio Mesquita Filho ou Ruy Mesquita.

O jornal manteve o conservadorismo mas perdeu o pedigree. Virou um meme de Internet.

A maneira que encontrou para atacar blogueiros comentaristas da TV Brasil se insere nesse novo padrão. Com uma redação minúscula em Brasília, produzindo duas páginas de jornal por dia, com a profusão de temas relevantes exigindo cobertura competente, dá-se ao trabalho de ocupar o tempo de um repórter para uma matéria totalmente irrelevante. Mas que lhe proporcionará o supremo prazer de colocar no jornal o meme contra blogueiros, para ser propagado na rede por perfis parceiros – Revoltados Online e companhia.

A maneira com que tentou encontrar um gancho para a matéria é risível:

Caro sr. Luís Nassif, boa tarde.

Sou repórter do Estadão em Brasília. Estou escrevendo um texto sobre sindicância aberta pela EBC para descobrir os responsáveis por sátiras veiculadas no Facebook. Essas sátiras são imagens publicadas em um grupo criado e administrado por funcionários da EBC no Facebook. Apesar disso, a autoria das imagens ainda é desconhecida.

Uma das imagens cita seu nome. Diz o seguinte: “Se aumentarmos o piso dos jornalistas, como vamos pagar o Nassif, o PML [Paulo Moreira Leite] e o Emir?”.

O sr. se sente ofendido com essa mensagem? Já sabia que esse tipo de crítica está sendo veiculado em grupo de funcionários da EBC? Acha necessário tomar alguma providência? Qual?

Obrigado,

Minha resposta:

Em todos os veículos de mídia comentaristas ganham mais do que funcionários. Do mesmo modo que colunistas ganham proporcionalmente mais do que repórteres. É o padrão que vigora na TV Cultura, na Globonews, no Canal Rural, no Estadão, na Folha, na Veja. 

Não vejo razão nem para me sentir ofendido, nem para tomar nenhuma atitude, nem para achar que esse tema tenha qualquer relevância jornalísticaˆ.

Aí, sai a matéria e o meme.

Só lembro as diferenças entre o nosso jornalismo e o do Estadão.

A capacidade de elogiar e criticar faz parte do jornalismo. No Blog e na TV Brasil dou-me o direito de elogiar e, muito mais frequentemente, criticar medidas de governo. Já os jornalistas do Estadão perderam qualquer direito de trazer uma informação sequer que colida com a linha adotada pela direção.

PS – Não coloquei o nome do repórter porque obviamente, apesar de jovem e inexperiente, ele não tem nenhuma responsabilidade pelo amadorismo das chefias. Quando fiz jornalismo, dizia-se: com seis meses de redação você aprendeu tudo o que a escola leva quatro anos ensinando. Hoje, a máxima é a seguinte: com seis meses de redação desaprende-se tudo o que a escola ensinou por quatro anos.

 

Luis Nassif

13 Comentários

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  1. Meme do Estadão

    Ficou engraçado.

    Principalmente a parte que lhe cita (assim como o Paulo Moreira Leite e o Emir Sader) de apoiadores do govreno petista.

    Vai virar piada na web.

  2. Há ainda um problema sério

    Há ainda um problema sério nas escolas de jornalismo: inculcar nos graduandos que a profissão deve ser encarada como uma “missão cívica”, e não o apego à informação.

    É essa a matéria prima que chega nas redações dirigidas por militantes. Com o salário cada vez mais achatados fazem mais questão de serem “aceitos” pelos coxinhas.

  3. Arrisco dizer que essa queda

    Arrisco dizer que essa queda começou com a contratação do Ricardo Gandour que era especialista nos fascículos da felha. 

  4. Sem fulanizar, existe uma

    Sem fulanizar, existe uma guerra aberta entre os blogueiros e o que chamam de velha mídia.

    Existe sim uma “federação” de jornalistas que estão mais alinhados com o governo e atacam os jornais tradicionais, o tal do PIG. A recíproca é verdadeira.

    Do mesmo jeito que o DARF da Globo é assunto de interesse jornalístico, o que se passa com a  TV Brasil, que é pública, interessa sim.

    São os “pobres” da TV Brasil se insurgindo contra as elites…

     

     

    1. “Guerra aberta” só se for na

      “Guerra aberta” só se for na tua mente.

      O que existe é um justo e legítimo direito dos cidadãos de exigir que concessionários de radiodifusão, como a Rede Globo, bancados quase que integralmente com verbas públicas, não conspirem contra a República.

      Salário de comentarista é perfumaria.

      Conspiração não é.

  5. Vai chover na minha horta

    “A presidente Dilma Rousseff convidou nesta sexta-feira (27) o ex-tesoureiro de sua campanha à reeleição, o petista Edinho Silva, para ser o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. A posse está marcada para a terça (31), às 11h.

    Com a saída de Traumann, o PT se mobilizou pela indicação de um nome mais próximo ao partido porque defende que os veículos ideologicamente identificados com a legenda recebam mais recursos da publicidade federal, em detrimento dos órgãos tradicionais de imprensa.”

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1609065-dilma-nomeia-ex-tesoureiro-de-campanha-para-comunicacao-social.shtml

  6. Sei que a internet é a grande

    Sei que a internet é a grande responsável pelo fim do jornal impresso, mas esse tipo de jornalismo que impera atualmente no Brasil é responsável por acelerar o seu fim.

    Ninguém em sã consciência gasta dinheiro para ler picuinha, desinformação, manipulação.

    Mesmo que tenha simpatia pela linha “ideológica” o leitor sabe que a linha editorial é tendenciosa, e como foi citado no texto, incapazes de elogiar a atitude mais digna do governo.

    É bom saber que aos poucos estão se auto-destruindo, cavando a sepultura a cada edição.

    Digo e repito, não conheço ninguém abaixo dos 40/45 que leia jornal ou assine revista.

  7. Escrevi para o GGN,

    mas não acompanhei para saber se foi publicado, um texto que dizia que o “Outro Lado” só pode ser conhecido, entre as 19 e 20 horas, ouvindo-se a “Voz do Brasil”. Guardadas as proporções, o mesmo pode ser dito da TV Brasil.

    À exceção de alguns colunistas e repórteres intocáveis pelos seus históricos, as folhas e telas tradicionais noticiam e comentam apenas com um objetivo: desequilibrar o atual eixo do Poder e, se possível, mais tarde apeá-lo.

    Trabalham nisso com afinco atualmente. O tal de “sangrar”, preparando o São Bartholomeu para 2018. A eventualidade de o governo Dilma estabilizar a economia e entregar a faixa presidencial a Lula é o que mais aterroriza a elite funcional e estimula seus porta-vozes. Ouço isso, diariamente, de empresários e anexos.

    Sempre argumentei aqui, às vezes na contramão do Nassif, de que não haveria trégua, acordo, bolinhos de chuva para o chá da tarde. 

    Trata-se de tomar o Poder de um País, que durante esses anos recentes mostrou extrema capacidade de desenvolvimento e se tornar sério protagonista mundial.

    Quem, partícipe do Acordo Secular de Elites, não gostaria de tocar em frente essa herança e entrar pra História? Mesmo, hoje em dia, sendo um simulacro da esquerda, é difícil pensá-los deixando isso para o PT/lulismo. 

  8. O que incomoda a Globo e a
    O que incomoda a Globo e a mídia monopolista é a lei das mídias. Eles estão colocando todo o arsenal deles prá fazer fogo contra os mandos do governo. Os repórteres de jornais (que ninguém mais lê) estão se ocupando com os blogs e as revistas dão cobertura aos parceiros da oposição como Cunha e Calheiros. Já as TV e o rádio (sim, esse também), onde estão a maior concentração de público, disparam diretamente contra a presidente.
    Assim, eles vão tumultuando o cenário tentando levar as coisas (mal que se encontram) como estão.
    A guerra de forças está armada, nada vai mudar esse quadro. Se o governo demorar pra começar a disparar, vai estar só aumentando as próprias baixas.

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