O flagelo paulista, por Luciano Martins Costa

Os flagelados de São Paulo

Por Luciano Martins Costa 

Do Observatório da Imprensa

A manipulação de fatos e indicadores entrou tão fundamente no processo de produção da mídia tradicional no Brasil que mesmo o leitor crítico, que pela experiência sai vasculhando contradições e inconsistências, tem dificuldade para encontrar o viés que os editores querem impor ao público. Não basta analisar as manchetes e avaliar as escolhas de destaques entre as principais notícias; também não é suficiente ler nas entrelinhas o que a narrativa jornalística tenta esconder: é preciso adivinhar a malícia e seguir suas pegadas.

Vejamos, por exemplo, o que acontece com o noticiário sobre a crise de abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo: a estratégia de comunicação do governo paulista consiste em desviar a atenção para a questão da energia, e com isso colocar na perspectiva do público a parte de responsabilidade que cabe ao governo federal.

Como se faz isso? Com parcelas da verdade, cuidadosamente articuladas para que pareçam compor a verdade inteira. Por exemplo, ao afirmar que 1,2 milhão de moradores da região Oeste de São Paulo ficaram sem água na quarta-feira (21/1), porque faltou energia numa estação de bombeamento, a Sabesp não está mentindo. Está apenas colocando um fato menor como tapume para esconder a causa principal da crise hídrica: a falta de investimento na melhoria de sua rede. Mas essa vertente cria uma chance para a imprensa fazer a perigosa mistura de água e eletricidade e criticar o governo federal.

Essa estratégia é referendada pelo próprio Palácio dos Bandeirantes e realizada pelos principais veículos de comunicação, que gostosamente embarcam na ficção criada para esconder a irresponsabilidade dos que governam o mais rico estado da Federação desde antes da virada do século.

Mas a mentira dissimulada em meias-verdades tem pernas curtas: uma pesquisa realizada pelo Ibope entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2014 e publicada na sexta-feira (23/1) revela que 68% dos paulistanos – ou alguém da família – tinham sofrido problemas de falta de água já nos últimos meses do ano passado, ou seja, antes da onda de calor que inaugurou o verão. E a maioria deles afirma que a crise hídrica foi provocada por “falta de planejamento do governo estadual”.

Pau-de-arara de paulista

A consulta faz parte do estudo conhecido como Irbem – Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município –, encomendado pela ONG Rede Nossa São Paulo e pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Os dados apontam, segundo o Globo, que 91% dos paulistanos puseram a culpa do problema no governo do estado e na Companhia de Saneamento Básico (Sabesp). Sobre as perspectivas diante da crise de abastecimento, há um evidente pessimismo: 82% acreditavam, em dezembro, que é grande o risco de a água acabar completamente.

O estudo inclui 25 temas na percepção dos moradores da capital paulista sobre suas condições de vida, entre eles saúde, educação, habitação, lazer, trabalho, sexualidade e consumo. Além de mostrar que o noticiário não consegue esconder completamente a verdade da população, o estudo revela que, no quadro geral, o paulistano ainda considera que a crise não afetou severamente sua percepção de bem estar: mesmo com a falta de água e apesar do intenso noticiário falando em crise econômica, metade dos entrevistados diz que a qualidade de vida ficou estável no ano passado e 37% afirmam que até melhorou.

Considerando-se os dois grupos, pode-se concluir que a grande maioria tem uma visão muito mais otimista da realidade do que a imprensa. No entanto, a pesquisa mostra uma evidência clara da deterioração das condições gerais de vida na maior cidade do país: 57% dos entrevistados afirmaram que, se tivessem a oportunidade, se mudariam para outra cidade.

Os jornais escondem essa realidade, porque a constatação de que a maioria dos paulistanos pensa em inverter o fluxo migratório os obrigaria a criticar as políticas públicas adotadas em território paulista nos últimos anos.

A imagem de uma enorme fila de orgulhosos paulistanos engarrafando as estradas rumo ao Nordeste, numa inversão do processo migratório clássico, é uma ideia que a imprensa não pode assimilar.

Mas é isso que os indicadores do estudo apontam: se pudessem, muitos daqueles que reelegeram Geraldo Alckmin embarcariam aliviados num pau-de-arara (com ar condicionado, claro), em busca de uma vida melhor.

Redação

12 Comentários

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  1. nenhum

    Não leio zóia. Nem em consultorios.

    Não leio estadin nem falha nem caras. (pena que acabou bundas).

    Não assisto nenhum jornal de tv. Não assisto nenhum canal aberto de tv.

    Prefiro ficar desinformado do que informado erroneamente.

    Algumas das coisas já não as faço a vinte (20) anos. outras a pelo menos dez (10).

    Minha vida melhorou depois que aboli aqueles estranhos habitos. Sou muito mais feliz. 

  2. Quem vai nos salvar

    …se pudessem, muitos embarcariam aliviados num pau-de-arara (com ar condicionado, claro), em busca de uma vida melhor.

    São Paulo é um verdadeiro inferno. Mesmo sem falta de agua e agora tambem com falta de eletricidade.

    Qdo converso com as pessoas, mesmo tendo a convicção de que o culpado pela falta de agua é a sabesp e o governo, demonstram certa alienação do descaso da administração, qdo eu falo do estado da billings, muitas arregalam os olhos surpresas comprovando desconhecer o estado calamitoso da mesma. A indignação que demonstram aumenta e concordam tristemente ao perceber que dificilmente uma solução de curto prazo seja possivel.

    Só mais uma coisinha… A maioria não votou no alckimim, votou contra o pt.

    1. Engano seu, meu camarada… 


      Engano seu, meu camarada…  A maioria não votou contra o PT, não, votou com o PiG* !!!

       

      (* PiG = Partido da Imprensa Golpista)

       

      “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é  um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  3. Somos iguais.

         Os nossos irmãos paulistas estão a espiar neste momento, o que tanto odiaram , o Nordeste. Gente batalhadora, que faz das dificuldades , emboladas, e do sofrimento , repentes. O ódio , a empáfia bem típica do quatrocentão , se desfaz. reduz-se a pó. De nada vale a Sta Efigênia, Os Jardins,o Morumbi . Não tem Água, e ponto. Precisam desesperadamente de água, como animais, vegetais , . Estão sêcos ,fétidos , ressecados , esturricados. Precisam de àgua, sem ela ninguém sobrevive. Assim como,pasmem paulistas; Nordestinos.

  4. Caramba, ainda tem quem ache

    Caramba, ainda tem quem ache sutis essas manipulações da mídia!

    Nem os donos da comunicação estão se preocupando mais em serem sutis. O clima de “nós contra eles” está escancarado desde 2012. A gota dágua foi a primeira eleição de Dilma, o poste do Lula.

    Eles entenderam que se as condições de emprego e salário forem relativamente boas isso favorece até um poste. Por isso que até uma economia com “pleno emprego” passou a ser retratada diariamente como o se fosse um caos. Ao passo que censurava-se qualquer fato negativo dos aliados.

    Enfim, guerra total.

    E quase ganharam! Por que parariam agora?

    E ainda tem quem ache que foi tudo muito sutil?! Meu deus!

  5. E se muitos ainda acham que a

    E se muitos ainda acham que a vida melhorou em São Paulo é por causa do PT e dos governos progressistas que disponibilizaam crédito, aumentaram o salário rmínimo, criaram muitos programas sociais redistributrivos e uma situação de pleno emprego nunca antes vivenciada pelo país. Não fosse isso e São Paulo já estaria vivendo um em clima de guerra civil há muito tempo.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  6. Sertão da Cantareira

    Nassif: recebi uma tele-internetada mensagem de ninguém menos que Luiz Gonzaga que me pediu, em face do sertão da Cantareira, tentasse uma readaptação do seu famoso “Último Pau-de-Arara”. Pensei no governador, pai do perrengue, e tentei, sem a galhardia do bardo de Exu, explicar o desespero do caso. Ficou assim:

    “A vida aqui só é ruim / Quando não chove no chão / Mas se chover dá de tudo / Fartura tem de montão / Tomara que chova logo / Tomara meu deus tomara / SÓ DEIXO O MEU MURIMBI / No último pau-de-arara / (…) Enquanto a minha EMPREGADA / Tiver o couro e o osso / E puder com o chocalho / Pendurado no pescoço / vou ficando por aqui / Que Deus do céu me ajude / Quem sai da terra natal / Em outros cantos não para / SÓ DEIXO O MEU MURIMBI / No último pau-de-arara”

    PS.: tem gente dizendo que depois do Carnaval o governador sai de fininho, para espairecer do calor e vai descansar em Lausanne. Não a paulista, mas a suíça. Tá bom ou quer mais?

  7. ouvi do stedeli, do mst, que

    ouvi do stedeli, do mst, que um dos  fatores que mais influenciou

    nessa seca é a extensa plantação de cana em são paulo.

    a aprofundar, entonces….

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