O silêncio da cegueira

 

O silêncio da cegueira

 

Ontem, aqui no blog, postei que não haveria imagem da desocupação pela PM do prédio da Reitoria da USP.

Não poderiam mostrar as fotos de meninos e meninas sendo arrastados pela polícia. Mostrá-los caminhando com as mãos na cabeça passando entre um corredor formado por políciais a caminho das viaturas que os conduziriam detidos à delegacia. Tais imagens remeteriam imediatamente às imagens semelhantes ocorridas na ditadura.

O desgaste para o governo do PSDB e para o Governador Alckmin seria muito grande.

Seria novamente lembrar a direita intolerante, autoritária e de como os estudantes, sua juventude e o livre pensar dos campus universitários os incomoda.

E foi o que ocorreu. Acordei de manhã fui à Folha, ao Estado e ao Bom dia Brasil, onde estão as imagens?  Não as há.

Lembrei da frase “ a revolução não será televisionada”.

Ela é bonita mas, pensei, se eu digitar no Google Imagens “UNE+Ibiúna” ou “Invasão da PUC” ou “invasão+USP+Gov.Serra” as imagens estão lá.

Tantos momentos de intolerância e autoritarismos. A mesma direita, os mesmos estudantes e as mesmas iamgens.

Então, onde estão as imagens de ontem?

Algo mudou. O que mudou?

A imprensa mudou.

A “imprensa”, entendendo como tal os grandes veículos de comunicação,  neste momento, não é mais a testemunha ocular da história, isenta e crítica, na medida do que se possa ser isento e crítico em relação à história.

São os agentes, estão diretamente envolvidos, logo, não podem se auto-documentar, escondem-se para não se auto-denunciarem.

Ocorre que esconder se é um preço alto, o preço do suicídio. A imprensa não pode mais noticiar para não se incriminar.

Não é mais imprensa.

Onde estão as imagens, onde está o áudio, onde estão os fatos?

Houve fotos. Dos estudantes “agredindo” jornalistas, dos estudantes “provocando os jornalistas da Globo” e sendo impedidos pelos “seguranças da emissora”, dos estudantes “impedindo a entrada dos jornalistas”.

Some-se a isso o constrangimento sofrido por Caco Barcelos e perguntemos:

Porque a imprensa é vista como inimiga por uma parte pensante da nossa juventude?

Quando isso aconteceu antes?

Foi constrangedor ver Chico Pinheiro ao vivo não ter nada a mostrar, estavam incômodados, ele e os outros. Mesmo no “Bom-dia Brasil”, palco das balzaquianas “reaças” da plutocracia paulistana, onde se pratica o jornalismo de “caras-e-bocas”, não fazer jornalismo não deve ter sido fácil. Afinal, creio que ainda se julgam jornalistas.

Um preço alto a ser pago. Não mais imprensa apenas o silêncio da cegueira.

Ensurdecedor como tais silêncios são e constrangedor como apresentar se nú em público.

Aí dos que têm de pagá-lo.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador