Releitura: Na Vaza Jato, o retrato vergonhoso do conluio entre mídia e “República de Curitiba”

Vazar para procurador estratégia de gestão de crise e outras informações de empresas investigadas e desafetos, pedir a benção antes de publicar uma matéria. O jornalismo virou tietagem

Publicada originalmente em 20/12/2019

Jornal GGN – A Vaza Jato desta sexta (20), publicada pela Folha de S. Paulo em parceria com o Intercept Brasil, revela os detalhes da relação promíscua entre alguns jornalistas da grande mídia e os procuradores da Lava Jato em Curitiba.

De acordo com a matéria, Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima eram os controladores de toda a estratégia midiática da Lava Jato. Ninguém poderia falar com jornalistas sem que eles tivessem conhecimento.

A chamada “República de Curitiba” tinha por hábito favorecer repórteres que consideravam mais alinhados à Lava Jato, e em pelo menos duas ocasiões, contaram com a ajuda de Sergio Moro para garantir que os escolhidos saíssem na frente da concorrência com a notícia.

Folha não quis revelar nenhum detalhe que pudesse expôr a identidade dos jornalistas e seus respectivos veículos. Mas lançou luz sobre o nível de tietagem em que esses profissionais mergulharam.

“Alguns repórteres submeteram ao coordenador da força-tarefa os textos de suas reportagens antes da publicação, para que apontasse erros ou imprecisões. Outros concordaram em publicar entrevistas que Deltan respondeu por escrito, inclusive com o acréscimo de perguntas que não tinham sido feitas”, narrou a Folha.

Em outros casos, os jornalistas enviavam mensagens elogiosas a Deltan e até recolheram assinaturas, na redação, para ajudar a emplacar o pacote das 10 medidas contra a corrupção.

Em 2015, um editor repassou para Deltan informações que poderiam municiar a campanha contra o Supremo Tribunal Federal. O profissional disse que “o filho de um ministro do Supremo Tribunal Federal estava vendendo facilidades no mercado. O jornalista afirmou que o procurador podia contar sempre com sua colaboração, porque tinham objetivos comuns.”

Não suficiente, na mesma época, 3 jornalistas procuraram Deltan para vazar informações obtidas de empresas investigadas. Eles contaram que “assessorias de comunicação que trabalhavam para empreiteiras investigadas pela Lava Jato estavam alimentando as Redações com informações sobre disputas internas na Polícia Federal.”

Além disso, um deles vazou ou tentou vazar a estratégia de gestão de crise de uma das empresas, que havia concedido a ele uma entrevista. Até a Folha assinalou que os jornalistas cruzaram a linha da ética profissional.

Para a Folha, é natural que as fontes passem a privilegiar alguns veículos ou jornalistas em detrimento de outros, que consideram inimigos ou menos alinhados.

O que não é normal é a Lava Jato vender uma imagem de que era transparente quando, nos bastidores, os procuradores eram seletivos e “usaram seus contatos na imprensa para garantir que a visão do Ministério Público prevalecesse na cobertura do caso e assim ganhasse influência dentro e fora dos tribunais.”

 

 

Redação

11 Comentários

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  1. Não tem o nome de ninguém. Apenas disse que disse. Pura fofoca. O corporativismo dos jornalistas está presente até nos sites ditos progressistas. JORNALISMO VERGONHOSO, ou melhor, não jornalismo.

  2. Essa vaza-jato me lembra um filme que ví, cujo nome não recordo.
    Cenário: vila litorânea, onde havia um jornal de fofocas.
    O forasteiro, estranhando esse tipo de jornal em uma vila:
    – Por que eles lêem o jornal? Saber as últimas fofocas?
    – Não! Isso todos sabem muito antes de sair no jornal. É apenas para ver se foram pegos em flagrante.

    1. Uma mídia independente jamais teria adotado o termo “República de Curitiba”, que só enaltece as atividades corruptas e criminosas de milicianos que se adonaram do Estado (a designação tem caráter elogioso, remete à “República do Galeão”, que levou Getúlio Vargas ao suicídio). Mas até a esquerda se encantou com a designação, quando deveria ter aplicado um tratamento adequado à verdadeira “guerra de comunicação” que a Lava Jato colocou em prática para obter apoio popular às suas práticas ilegais. Milícia de Curitiba seria um termo bem mais adequado para designar a força tarefa sob Moro. Quanto aos “jornalistas” sabujo de patrão, é preciso realmente dar nomes aos bois para diferenciar o que é a prática absolutamente legítima de obter informações em primeira mão daquilo que se assemelha a “dormir de conchinha com a fonte”.

  3. É a não-noticia…..quando.escondem os nomes praticam.o jornalismo mais canalha existente…..
    Melhor que ficassem calados, passariam menos vergonha, se a mídia porcorotiva fosse capaz disso…..embostalhada até o pescoço como é…….

  4. todos os jornalistas da grande imprensa além de notórios golpistas – e por isso mesmo – são office-boys dos patroes reacionarios e fascistas e reis da financeirização da economia – essa elite, segundo jessé souza vive da expropriação do dinheiro público através dos altos juros pagoa pelo governo por dívidas jamais explicitadas ao povo espoliado.

  5. A FSP tem o dever de publicar os nomes. São maus profissionais. Envergonham as empresas, a profissão e o jornalismo. Enganam a sociedade. Não há razão do segredo. Muito pelo contrário. Que os cinco sejam revelados para que todos nos protejamos.

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