Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Réquiem ao Jornalismo na redação-cenário do “novo” Jornal Nacional, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Todos os jornalistas da Globo de pé assistindo ao discurso do patrão, Roberto Irineu Marinho, na redação-cenário da “nova casa” do Jornal Nacional inaugurada com toda pompa e circunstância. Todos atentos como se ouvissem a convocação do seu general arregimentado a tropa para uma nova guerra. Um discurso que revela o conflito de interesses da Globo entre manter a “saúde da empresa” e a missão de buscar um “jornalismo independente”. Esse foi o constrangedor réquiem ao jornalismo em um visual que superou a tradicional “space opera” de Hans Donner para ingressar na estética holográfica do filme “Tron: O Legado”. O JN lança seu novo cenário high tech e robótico como mais uma resposta tautista à crise de credibilidade e do negócio da TV aberta – vender espaço comercial em troca de entretenimento. A inauguração da “nova casa” do JN com todo estardalhaço metalinguístico é mais uma reação da emissora ao seu declínio. Agora o JN apresenta cenários com superfícies transparentes e translúcidas para esconder a opacidade do próprio jornalismo.  

Era uma vez o Brasil que vivia a ditadura militar na qual, graças à rígida formação intelectual dentro do Positivismo de Augusto Comte, os militares de alta patente de plantão no poder acreditavam na tecnocracia – somente uma elite de técnicos (distantes da Política e do Povo) poderia liderar o milagre econômico e o desenvolvimento nacional. Era a utopia do “Brasil Grande”.

A Globo, junto com o designer gráfico austríaco Hans Donner, compreenderam muito bem o zeitgeist desses anos 1970: o futurismo das primeiras vinhetas animadas em computador com esferas, pirâmides e cones se movimentando em fundos infinitos era a moldura high tech dessa utopia autoritária. 

E a bancada do Jornal Nacional, à semelhança de uma nave espacial, era a apoteose, em cores e ao vivo, para milhões de brasileiros que viam um país que supostamente avançava para o futuro, enquanto lá fora o mundo era mostrado em crise e à beira de uma guerra nuclear. 

Mas tudo isso acabou: a hiperinflação e a proletarização da classe média pôs fim ao milagre econômico. Mas os sólidos geométricos platônicos de Donner continuaram voando nas vinhetas da Globo, ao lado das beldades platinadas do Fantástico.

Mas hoje, além de mais uma crise econômica nacional, a Globo vive sua própria crise: de audiência, credibilidade e de um modelo industrial que desaparece – a venda de espaço comercial em troca de entretenimento na TV aberta.

 

Depois de levar a reboque a oposição política e liderar (ao lado do Judiciário) o movimento de impeachment, hoje vive acuada por críticas de todo o espectro político-ideológico.

Até conservadores e a direita atacam a Globo de supostamente tentar agora proteger Lula em um grande acordão pós queda do desinterino Michel Temer – principalmente depois publicação na revista Época da entrevista com Joesley: nas redes sociais leitores furiosos acusaram a revista de “armação da Globo para proteger Lula” – clique aqui.

Reações tautistas da Globo

Em crise de audiência e credibilidade a Globo reagiu, como sempre, de forma tautista: primeiro, na comemoração dos seus 50 anos, passou mais tempo se defendendo das críticas históricas do que celebrando conquistas (clique aqui). 

Segundo, em 2014 repaginou o visual do Fantástico abandonando a estética Hans Donner space opera – tornou-se mais “orgânico”, metalinguístico (com reuniões de pauta ao vivo) para criar a percepção de “transparência” e “credibilidade” jornalística (clique aqui).

Terceiro, partiu para uma estratégia orwelliana (“quem controla o passado, controla o presente”): com um oportuno timing, em momento de guerra aberta da emissora contra o desinterino Temer, a Globo lançou a série Os Dias Eram Assim.

Mas em dias bem atuais quando começam a crescer nas ruas o grito “Diretas Já!”, a Globo se apressa em misturar realidade e ficção para reconstruir seu passado na série como se, desde 1984, fosse sempre à favor das eleições diretas (clique aqui).

E, nessa última segunda-feira, o quarto movimento para tentar se blindar: o “novo” cenário do Jornal Nacional – na verdade, uma versão ampliada e high tech do Rede TV!News e alusão ao visual da BBC News, Al Jazeera e a espanhola Antena 3.

 

Jornal Nacional e a estética holográfica

Com a matiz azul dominante, superfícies translúcidas, telões de LED, câmeras com braços robóticos e uma bancada em cores neon, supera a estética Hans Donner: abandona a space opera para ingressar na estética holográfica do filme Tron. Mais especificamente de Tron: O Legado.

Mas o efeito ideológico continua o mesmo: lá nos anos 1970 e assim como em 2017, o foco é em high tech, telões (lá nos 70’s o mote era “transmissão via satélite”), transparências e platinados, para criar toda uma mitologia em torno da “transparência” e “objetividade” como se o telejornal fosse uma máquina de notícias. E, portanto, como veículo tecnocrático, crível e confiável por ser “maquinal”, “tecnológico”, sem intervenção humana. 

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

10 Comentários

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  1. Farei uma analogia ao tema

    Farei uma analogia ao tema com o que aprendi sobre grandes profissionais da saúde.

    Durante muitos anos da minha vida, me impressionava ao entrar num consultório médico, e, na sala de espera, enxergar diversos diplomas do profissional nas paredes. Eram, às vezes, de várias universidades do mundo. Aí, eu pensava estar no lugar certo, inclusive pelo luxo que via representado pelo mobiliário, etc.

    Até que um dia encontrei no RJ um dos maiores médicos que conheci na vida. A sala de recepção era muita feia, porque só tinha mobília muito velha; até as flores que estavam sobre uma mesa eram artificiais, amassadas e amareladas pelo tempo. Mas, o que me importava aquilo? Foi por me encontrar nas mãos do maior médico que conheci na vida, que, mesmo tendo plano, pagava a consulta, durante mais de 15 anos. Só me despedi dele quando fui morar em Brasília.

    O que se espera de um jornal, seja ele qual for, é o conteúdo, a seriedade e profissionalismo dos jornalistas e repórteres. Eu mesma nem quis ver o espetáculo da nova roupagem do jornal da Globo, porque conheço de há muito essas alegorias, que não me dizem nada. E sei que de nada adianta enfeitar bolo se a massa é estragada.

    A Globo, em geral, nasceu, e se cria com base no engodo, ma mentira, mas, e sobretudo, na maldade; na mais vil crueldade, por dar mais espaço a bandido, e enxovalhar a imagem de pessoas sem a menor vergonha de suas ações. Sabem, como tem visto nas ruas, que a mentira tem pernas curtas, e a cada manipulação desavergonhada, seguirão os repúdios das massas não-manipuláveis.

    O que essa mísera empresa fez contra Lula e Dilma pode ser considerado um crime hediondo, porque esse mal se enraizou no próprio país onde ela, empresa, se ergueu quando Roberto Marinho vivia de mãos dadas com os generais, acobertando as torturas, os degredos, as mortes e desaparecimentos de meninos e gente grande que lutavam pela democracia. 

    Não é exagero dizer que uma imprensa desse tipo fez mais mal ao Brasil que os próprios generais, ou que a gente hoje está sofrendo em demasia pela propaganda nazistas desses infelizes.

     

    1. Diplomas e láureas

      Exatamente. Os mais luxuosos consultórios, as paredes mais cobertas de diplomas internacionais e participações em congressos, esses médicos “extraordinários” são os que nos deixam com as maiores sequelas. Algumas delas irrecuperáveis.

      Excelente analogia .Corroboro inteiramente.

    2. E além da massa  ser

      E além da massa  ser estragada, a cobertura é muito enfeitada^,  mas com pasta americana, é muito ruim , não há quem coma. Em tempo:  o nome acaba sendo ironico para o caso, mas é esse mesmo, acho que deve ter sido criada por lá  nos USA a tal cobertura.

  2. nunca serão mais nada além de

    nunca serão mais nada além de fonte de ridículo. o risivel. o atraso.

    e eles sabem, mas agora não mentem mais sozinhos e dependem de bancar mentiras pra outros faladores – e o jogo complica. eles nunca foram bons de papo ou negociação.

    desespero cresce e ja´percebem descem a ladeira rumo ao muro.

    fim da gloebbels em brevem, inevtável. 

    eles ja´se movimenam pra vender a tele antes de explodir a bomba cbf-globo-fbi e gostariam de ficar com apenas produção de entreterimento ee speculação imobiliaria/turismo em paraty. o JN novo é cortina de fumaça, demitiram seusjornalistas e não serão os meninos novos e nem o kamelin-do leva-e -traz q vai escrever coisa boa.

    aquilo ali é uma piramide pra se enterrar.

  3. Se fosse possível…

    O Brasil daria um grande salto se fizessemos uma troca:

    A famiglia marinho e sua trupe de colaboradores (membros dos supreminhos, pf, mp`s, etc..) e degenerados leitores e telespectadores fossem expulsos para algum pedaço do território brasileiro (pode ser a Ilha de Fernando de Noronha ou o Acre) e nos deixasse em paz .

    Que tal neste pedaço de terra eles criassem um sultanato só deles ?

    Dirigentes :

    Ministério da casa civíl = Kamelo

    Educação = Merdal

    Planejamento = Míriam Porcão

    Economia = Sardembergh

    Defesa = Waack

    Agricultura = Regina Duarte

    Cultura = Hulcko

    Comunicação = Faustão

    Saúde = Ana maria brega

     

  4. Os blogs

    “sujos” estão incomodando a rede de esgoto de televisão (cabeça do PIG) e a perseguição aos blogs sujos vai ser incansável. O PIG não aguenta um debate plural porque o mesmo só fala mentira e os coxinhas acreditam piamente. Se o PIG noticiasse que merda faz bem pra saúde os coxinhas acreditariam.

     

  5. E por incrível que pareça

    Em meu entender ainda fazem o melhor programa em TV aberta: Globo Rural. Alguns mais entendidos em agricultura e/ou agronegócio podem contestar, mas como leigo continuo achando fantástico – apesar das propagandas.

  6. O azul da Globo é o mesmo

    O azul da Globo é o mesmo azul do PSDB. Teve até um imbróglio dos 45 anos de TV Globo na campanha presidencial em que 45 era o número do candidato daquele partido.

    Como será que a Globo vai fazer para tentar desvincular-se de Aécio, FHC, Serra, Alckmin, Dória e a sujeirada toda que usa esse azul?

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