Junho de 2013 nos angustia. Por quê?, por Valerio Arcary

As mobilizações de junho de 2013 foram, essencialmente, caóticas. Foram, politicamente, ambíguas e confusas

Dora Longo Bahia, A polícia vem, a polícia vai, 2018 Acrílica sobre vidro laminado trincado 50 x 80 cm

do A Terra É Redonda

Junho de 2013 nos angustia. Por quê?

por Valerio Arcary

“Os camponeses estão votando com os pés” (Vladimir Ilitch Ulianov, aliás, Lênin, quando informado que os camponeses estavam desertando em massa do Exército czarista na Primeira Guerra Mundial).

Junho de 2013 ainda nos atormenta e angustia. A esquerda manteve a hegemonia nas ruas no Brasil, durante três décadas e meia, desde o final dos anos 1970. Perdeu esta supremacia nas jornadas de junho. Mas, isso não autoriza a conclusão de que as forças de direita, liberais ou extremistas, lideraram. Junho esteve em disputa e ninguém dirigiu. Junho foi acéfalo.

Uma análise das razões desta explosão em 2013, e não antes nem depois, deve considerar muitos fatores. O país ainda estava distante da recessão que se abriu em 2015, e o desemprego era baixo. A desigualdade pessoal e até funcional da renda estava em queda lenta, mas em queda. Essas e outras variáveis levaram muitos na esquerda a desconsiderar a centralidade das determinações econômico-sociais, e a procurar uma explicação “cultural” ou até mesmo “ideológica” para as Jornadas de Junho. Não é um bom caminho, porque é impossível explicar a dimensão gigantesca da espontaneidade da adesão sem reconhecer que crescimento econômico não é o bastante. As limitadas e lentas reformas progressivas de dez anos de governos liderados pelo PT não foram suficientes para silenciar o protesto.

Mas há um grão de verdade nesta hipótese. O Brasil de 2013 já era muito diferente do Brasil de 1983, na véspera das Diretas-Já, mas não só em função da disseminação de celulares com internet. Junho escancarou uma transição geracional. A juventude mais escolarizada queria mais.

O aumento das tarifas de ônibus foi somente a centelha que acendeu o incêndio. Uma pesquisa do Ibope sobre as razões da participação nas manifestações revela que a grande maioria estava nas ruas em defesa de serviços públicos e gratuitos, e contra a corrupção.[i] Assistimos a uma desconcertante explosão de protesto e euforia. Não devemos nos preocupar demais com o que vimos de inconsistente, irreverente e até um pouco crédulo.

As mobilizações de junho de 2013 foram, essencialmente, caóticas. Foram, politicamente, ambíguas e confusas. Mas tentar desqualificar o seu significado com a caracterização de que seriam, essencialmente, a expressão do mal-estar das camadas médias urbanas mais escolarizadas e hostis ao PT, ou seja, reacionárias, não é razoável.

Foi na sequência de Junho que o movimento LGBT saiu ás ruas com impulso antifascista contra Marcos Feliciano. Foi depois de Junho que ocorreu uma onda de greves que colocou em movimento professores e até bombeiros. Junho deu potência aos movimentos ambientalistas e indígenas. A Mídia Ninja conquistou audiência de massas denunciando a violência da repressão das Polícias Militares. Junho abriu o caminho para a formação de uma nova geração de ativistas de esquerda.

O sentido dominante das Jornadas de Junho, apesar de muito tumultuoso, foi complexo. A esmagadora maioria dos cartazes se restringia aos limites de reivindicações democráticas, mas eram progressivos: “se o povo acordar, eles não dormem! Não adianta atirar, as ideias são à prova de balas! Não é por centavos, é por direitos! Põe a tarifa na conta da Fifa! Verás que um filho teu não foge à luta! Se seu filho adoecer, leve-o ao estádio! Ô fardado, você também é explorado!”

Deslumbrar-se com a força das marchas, e desconhecer suas limitações seria miopia. Enxergar com ceticismo a dimensão destas três semanas de lutas, ou seja, perceber somente suas inconsistências, também. Há três respostas na esquerda brasileira para esta questão crucial. Qual delas se confirmou no “laboratório” da história? A saída do “labirinto” da situação reacionária em que ainda nos encontramos, depois de seis anos e meio desde o impeachment de Dilma Rousseff, quatro de governo Bolsonaro, depende, em alguma medida, de uma resposta correta.

A primeira resposta é aquela que vê nas mobilizações abertas por junho de 2013 o ovo da serpente. Junho seria a semente da saída às ruas da extrema direita, e o momento da inversão desfavorável da relação social de forças. Atribui às jornadas de junho um sentido reacionário porque seria o início da ofensiva da “onda conservadora”, e sua direção não podia ser disputada pela esquerda.

Junho de 2013 seria o “esquenta” das mobilizações dos “amarelinhos” em março/abril de 2015 e 2016, alguns milhões ecoando “nossa bandeira jamais será vermelha”. Mas teoria da conspiração não é bom marxismo. A operação Lava Jato começou quase um ano depois. Junho não foi uma revolução “colorida” manipulada pelo imperialismo norte-americano. Não foi uma operação política liderada pela rede Globo e a mídia burguesa para tentar derrubar o governo Dilma. Mas é verdade que a Globo fez um giro de 180 graus no dia 20 de junho, suspendeu até as novelas e, despudoramente, convocou às ruas.

A segunda hipótese é oposta pela raiz, porque identifica uma dinâmica progressiva quase ininterrupta no processo aberto em junho de 2013. Atribui a Junho o sentido de uma revolta contra o regime político que saiu da transição negociada pelo alto, no Colégio eleitoral, ao final da ditadura, e que assumiu a forma da Nova República, ou presidencialismo de coalizão. Diminui a natureza contraditória do impulso social, oculta a disputa que aconteceu nas ruas com as forças de direita, e desconhece que ocorreu uma derrota.

A terceira é a mais complexa, porque reconhece o caráter progressivo de algumas reivindicações, mas constata, também, a presença de um núcleo reacionário com audiência de massas, e observa que a acefalia política deixou a dinâmica das mobilizações à deriva. Tudo estava em disputa.

Se em Junho apareceu o que existe de mais generoso e solidário no coração da juventude, surgiu, também, o que existe de ingênuo, confuso e até reacionário, como em todos os processos históricos, quando as mobilizações são ainda policlassistas, e o peso social da classe trabalhadora não se impôs. As massas populares não foram protagonistas principais em Junho 2013.

Provocadores embriagados de nacionalismo exaltado, embrulhados na bandeira nacional, atacaram as colunas da esquerda. Os episódios de choques com quadrilhas neofascistas que queriam derrubar as bandeiras vermelhas foram dramáticos. Embora graves, estes conflitos não foram o mais importante, ainda que tenham sido o mais triste. Os extremistas de direita eram uma minoria. A imensa maioria dos que saíram às ruas desenharam os seus próprios cartazes. “Sem bandeiras” foi a forma que assumiu a desconfiança e o temor de uma massa que não queria ser manipulada por qualquer partido.

Junho de 2013 foi uma desconcertante explosão de protesto e euforia. Em qualquer análise, respeitar o sentido das proporções é indispensável. Não devemos nos impressionar com o que aconteceu de irreverente e crédulo, ou até perigoso e reacionário. Quando da interpretação de grandes acontecimentos existe sempre o duplo perigo de subestimação ou de sobre-estimação.

Uma sequência de quatro protestos de rua contra o aumento das passagens de ônibus, em São Paulo, com alguns milhares de jovens das camadas populares, foi uma faísca. Reprimidos pela polícia com uma violência selvagem e inusitada, fora das periferias, detonaram uma explosão social surpreendente. Um conflito que parecia marginal deflagrou uma onda nacional de mobilizações que o país não conhecia desde o Fora Collor, vinte e um anos antes. A partir do dia 17 de junho uma geração de juventude das camadas médias tomou as ruas pela primeira vez.

A iniciativa do MPL (Movimento Passe Livre), um núcleo de ativistas de inspiração autonomista, sem que qualquer direção política mais importante estivesse comprometida com a convocação, abriu o processo. Os próprios manifestantes declararam, espontaneamente, aos milhares, ao que vieram: “não é por centavos!”.

Nas jornadas de junho centenas de milhares de jovens invadiram as ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na dimensão nacional algo próximo a dois milhões de pessoas saíram às ruas em quatrocentas cidades em poucas semanas. Essa onda se estendeu de variadas formas no segundo semestre. Por um lado, a campanha “Aonde está Amarildo?” comoveu o país. Por outro, grupos de black blocs, alguns com infiltrações policiais, multiplicaram ações simbólicas violentas. Mas a onda se esgotou em fevereiro de 2014, depois da morte trágica do cinegrafista da Band diante da Central do Brasil.

Prevalece ainda em uma parcela da esquerda a percepção de que é possível discernir uma causalidade entre Junho de 2013, e o golpe institucional que derrubou o governo Dilma Rousseff em 2016, e tudo que veio depois: a posse de Michel Temer, o apogeu da operação Lava Jato, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Uma dinâmica de derrotas. Mas esta interpretação é unilateral. Afinal, quais foram as conexões entre junho de 2013 e o impeachment, lembrando que Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves no final de 2014?

Esta luta por transportes, educação e saúde pública gratuita e de qualidade chocou, frontalmente, com o PT de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo e o PSDB de Geraldo Alckmin. Sérgio Cabral e Eduardo Paes do PMDB nos governos do Rio não foram poupados. Em Recife o PSB de Eduardo Campos foi, igualmente, atingido. Depois a avalanche de mobilizações se alastrou na forma de um tsunami nacional. Muitas cidades viram as maiores passeatas de sua história. Em não poucas delas, mobilizações maiores que as que conheceram quando das Diretas em 1984.

O apoio ao governo Dilma, que era amplamente majoritário – mais de 65% – em menos de um mês, passou a ser minoritário: menos de 30%. A força social de choque destas mobilizações deixou as instituições do Estado, por quase uma semana, semiparalisadas. A classe dominante se dividia entre os que exigiam mais repressão, e aqueles que temiam uma completa desmoralização política dos governos, caso a fúria policial descontrolada provocasse um ou mais mortos. O recuo no aumento das passagens não foi o bastante para retirar as massas das ruas durante alguns meses. Uma maioria dos setores médios deslocou-se para o apoio aos manifestantes.

Mas, apesar da vitória eleitoral de 2014, tudo evoluiu muito mal na sequência. O que significa que muitos erros foram cometidos. Temos, portanto, muito que aprender.

*Valério Arcary é professor aposentado do IFSP. Autor, entre outros livros, de Ninguém disse que seria fácil (Boitempo).

Nota


[i] http://especial.g1.globo.com/fantastico/pesquisa-de-opiniao-publica-sobre os-manifestantes

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Redação

3 Comentários

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  1. ‘Junho não foi uma revolução “colorida” manipulada pelo imperialismo norte-americano.’ fazer esse tipo de afirmação é desconhecer/ignorar totalmente o cenário político nacional/internacional desse período da história recente! A análise da professora Marilena Chaui, acerca desses eventos ainda continua sendo a mais sensata.

  2. Protestos: da origem democrática à tragédia e à barbárie II
    A transformação e evolução trágica dos protestos, que tinham em sua gênese, cunho de manifestação democrática, e eram contra o império do poder econômico e político, o qual, mantém até hoje suas estruturas oligárquicas e exploradoras do povo brasileiro.
    No caso, o protesto do movimento passe livre contra as condições do transporte coletivo em São Paulo – por ocasião do aumento da passagem dos ônibus.
    Como é que, no desenrolar destes movimentos, a mídia subverteu tais manifestações e as transformou em um instrumento destinado a atacar o governo federal, o PT de Dilma Rousseff -, culminando como um instrumento indutor da barbárie e da violência.
    O porque de uma parte da esquerda, neófita em guerras hibridas, ter se lançado açodadamente neste movimento, acerca do qual, muitos, ainda hoje, não tiveram a necessária compreensão para perceberem como foram efetivamente usados para destruir a democracia, quando acreditavam estar ajudando a construí-la.
    Uma breve remissão histórica.
    No combate ao regime militar, o protesto, sem sombra de dúvida, ainda que violento e ainda que destrutivo, dirigia-se contra o aparelho de Estado, tinha sua razão de ser, destinava-se a dar visibilidade a uma forma de pensar que levaria a democracia e a liberdade de expressão.
    Em síntese, os que participavam dos protestos durante o período da ditadura militar, queriam a volta da democracia e da livre expressão e pelo término da repressão policial.
    Todos que participavam tinham plena consciência do que significava a manutenção da ditadura em detrimento da população em geral.
    Neste ponto, faço uma breve remissão, ao movimento que foi um dos maiores protestos, o das DIRETAS JÁ.
    NO caso, todos que lá estavam (no movimento das diretas) sabiam aonde estavam, com quem estavam, contra o quê e contra quem estavam lutando… e, fundamentalmente, porque estavam ali.
    Quem promovia o vandalismo era a polícia que atacava todos os movimentos, ainda que pacíficos. Era a repressão pura, oriunda da forma de pensar dos governantes de então.
    Mas, eis aí a grande diferença, neste período tais atos geravam politização, cidadania, liberdade.
    ….
    Em contrapartida, os protestos de junho de 2013, que começaram com a mesma motivação, ou seja, contra a truculência da polícia do governo do Estado de São Paulo, ou seja, contra a repressão policial… em razão do oportunismo midiático, em pouco tempo se transformaram em uma manifestação que não tinha mais norte. Passou a ser contra tudo que esta aí.
    E neste tudo que está aí estavam no movimento, desde skinheads, fascistas, minorias lgbtqia+(contra o Feliciano), movimento passe livre, sem teto, grupos de esquerda (psol e pstu), justiceiros, grupos contra a corrupção, black blocs…
    Exatamente pela diversidade, não se sabia a favor do que ou contra o que estavam se manifestando/apoiando. Daí surgiu o mote: estamos protestando contra tudo isso que está aí…
    E vieram cenas lamentáveis. o Congresso foi atacado, pequenos comerciantes tiveram suas bancas incendiadas, cidadãos comuns tiveram seus carros incendiados e pequenos lojistas viram suas lojas serem saqueadas.
    E aí, em todo este desenrolar, a grande mídia, que sempre condenou tais vandalismos e censurava toda e qualquer manifestação. de uma hora para outra passou a cobrir de forma incessante as manifestações, ainda que violentas, quase que transformando-as em manifestações cívicas, tudo com o propósito de imputar responsabilidades e acusar o governo, um governo de centro mas com ênfase nos direitos sociais.
    Em termos claros: mostrar e insuflar , pontualmente, a insatisfação do povo brasileiro, para depois editar os motivos da insatisfação.
    E muitos foram iludidos e defenderam a manifestação popular, direito fundamental da democracia.
    Esqueceram que esta somente é fundamental quando é livre, e estas manifestações, a partir do momento que foram aparelhadas pela mídia perderam sua essência, viraram joguete nas mãos de seus piores inimigos. Viraram instrumento da Globo, da Folha de São Paulo, do Estadão, da Veja, de todo este grupo conservador e antipopular.
    Passou-se a defender a violência e a depredação feita pelos black blocs como fenômeno democrático.
    A polícia e o patrimônio público passaram a ser atacados.
    Esqueceu-se que, num regime democrático, a polícia tem a função de defender a liberdade, ao contrário do regime militar. São servidores públicos iguais a tantos outros.
    Ressalvo que, como todo aparato militar de segurança, pode ter sua atuação desvirtuada pelo governante de ocasião (exatamente o que aconteceu). Quando Geraldo Alckmin (PSDB) reprimiu com o uso da policia as manifestações, .
    …as manifestações eram contra o aumento das passagens dos ônibus e pela instalação de uma CPI para averiguar desvios no transporte coletivo (metrô de São Paulo e o cartel, corrupção, propina…e o sucateamento dos trens como resultado deste descalabro).
    Pois bem.
    Em linhas gerais, bem amplas, estes são alguns dos aspectos que compuseram tal cenário.
    Houveram várias outras componentes, mas, nesta análise, que não tem a mínima pretensão de ser exaustiva, prendo-me a estas diretrizes.
    …..
    De tal cenário, como erroneamente apregoaram diversos analistas políticos(da grande mídia), não surgiu uma maior politização, entendida como um espaço maior na liberdade de expressão e manifestação em busca de objetivos comuns à sociedade em que vivemos.
    Ao contrário, resultou em um aumento da barbárie e proporcionou o surgimento de ícones fascistas (justiça pelas próprias mãos, repressão aos pobres da periferia pelos rolezinhos, vandalismo, e a toda hora manifestações que resultavam em depredações várias, ou no trancamento puro e simples de vários acessos vitais).
    Com o tempo, os protestos, com tal falta de unidade de desígnios, que uniam manifestantes de shopping centers a jovens da periferia e militantes de esquerda, etc , que passaram a ter apenas o mote midiático “de contra tudo que esta aí”,enquanto manifestações massivas, se tornaram insubsistentes e definharam, .
    A ânsia em participar de manifestações coletivas, a adrenalina do protesto em si mesmo, a catarse coletiva, logo consumiu seu fôlego, cedeu ao apelo da razão na maior parte dos coletivos e movimentos de esquerda, passou a ser um imperativo a pergunta: porque estou aqui? E, a palavra de ordem, “contra tudo isso que está aí”, por ser vazia de sentido e não ter objetos definidos e claros, deixou de ter apelo determinante.
    Aqueles chavões genéricos – contra a corrupção, a juventude se manifestando, o povo na rua, contra a repressão, etc, eram amplos demais e, ao mesmo tempo que diziam tudo, não se referiam a nada,eram pura manipulação. Passaram a soar como discursos de outros Demóstenes, ou Collors de Mello, paladinos da Justiça e caçadores de marajás, já desmascarados, ou por desmascarar.
    A maior parte dos participantes não se identificava com os black blocs, que participavam vandalizando, destruindo e sendo protagonistas na arte de hostilizar os policiais.
    Aos poucos a desilusão, a noção de terem sido manipulados, a sensação de serem objeto da mídia passou de forma subliminar a tomar conta. Não, não foi e, não é ainda hoje, uma coisa consciente. Muitos destes, apenas se sentem incomodados quando se veem ou veem isso na mídia. Mas, ainda é tempo de compreensão, principalmente porque somente restou a barbárie.
    De outro lado, movimentos sem conotação partidária expressa, como a Marcha das Vadias, ou com objetivos definidos como o MST ou até mesmo o Movimento Passe Livre e os de militantes de partidos políticos, aos poucos voltaram a ter sua real representação e a ter suas manifestações e movimentações excluídas da informação midiática nos grandes jornais.
    Ficou somente o rescaldo do aumento da barbárie como resultado dos movimentos de protesto, que deveriam ser manifestações de apoio e construção da democracia, e que por motivação expressa dos donos da mídia tradicional transformaram-se no oposto.
    Mais uma vez criaram um monstro.
    Foi o primeiro teste no Brasil da forma híbrida de insuflar e pautar movimentos sociais de massa, e naquele momento a hegemonia das grandes redes de comunicação, jornais e televisão, se mostraram e toda sua extensão, e não se fale em redes sociais, as quais incipientes aqui no Brasil, eram alimentadas, justamente por este monopólio das comunicações.
    Fundamentalmente, foi uma demonstração soberba do poder da mídia de alterar a motivação geral dos manifestantes nos protestos, de editá-la, e, pior, de redirecioná-la no sentido que eles quisessem.
    Tais forças destrutivas, depois de liberadas, fogem ao controle.
    Neste compasso, tenham muito cuidado, as forças da destruição e da barbárie todos os dias ecoam nos grandes jornais e televisões, e, agora, com força nas redes sociais, seu canto de sereia, querendo levar à perdição quem acreditar em seus porta-vozes.
    Depois deste primeiro período, houve a perda de poder da mídia tradicional, mas, o modus operandi, continuou o mesmo, só que através do aparelhamento das redes sociais, como o que levou, em 2018, um obscuro político de conotação fascista e antidemocratica e seu grupo, ao poder maior, a Presidência da República e a hegemonia política.

  3. Nossa, já faz 10 anos. Em contagem de tempo, junho de 2013 para junho de 2023 parecem 10 dias. Em contagem de acontecimentos esses 10 anos pareceram 100. O articulista elenca todos os fatos sucedidos nesses 10 anos sem, contudo, olhar para fora e, como sabemos, quando estamos na floresta só vemos as árvores mais próximas. As “jornadas de junho”, longe de serem um ato isolado e fortuito, contrariamente ao seu sentido “inocente” e acéfalo, tinham mestres externos que fizeram do nosso país um laboratório. Se Lula governasse com Dilma no segundo mandato, ainda seríamos um país em desenvolvimento. Como Lula perdeu o “time” e Dilma resolveu limpar a casa sem utilizar EPIs (equipamentos de proteção individual), foi primeiro picada pelas pragas e depois expulsa da casa, não sem antes ser contaminada e levar ao extermínio quase toda a sua família política. Mas, sobrevivemos e voltamos a ser país em desenvolvimento em vez de país destruído.

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