RJ: ato em solidariedade ao povo palestino, por Roberto Bitencourt da Silva

O ato foi convocado e contou com a participação de círculos, coletivos e partidos políticos de esquerda, destituídos de expressão eleitoral

RJ: ato em solidariedade ao povo palestino e a carência programática das esquerdas hegemônicas

por Roberto Bitencourt da Silva

Nesta terça-feira (10/10) foi promovido um ato em solidariedade ao povo palestino no Centro da cidade do Rio de Janeiro, em frente à Câmara dos Vereadores. Esta iniciativa política esteve sintonizada com manifestações realizadas em outras cidades brasileiras.

O ato foi convocado e contou com a participação de círculos, coletivos e partidos políticos de esquerda, destituídos de maior expressão eleitoral, mas que almejam oferecer visões alternativas aos problemas brasileiros e mundiais; em linhas gerais, visões dotadas de uma razoável veia anti-imperialista e antirracista.

Alguns destes atores coletivos foram, entre outros, a Unidade Popular pelo Socialismo, o Partido Comunista Brasileiro, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o Partido da Causa Operária, o agrupamento Juntos (ligado ao Psol), o Movimento Revolucionário de Trabalhadores e a Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores. Representante da União Nacional dos Estudantes igualmente prestou apoio à causa palestina.  Vale frisar que ocorreram algumas poucas provocações aos manifestantes, com indivíduos isolados que proferiram palavras e gestos favoráveis ao Estado de Israel.

Cumpre salientar que nenhuma liderança de proa das esquerdas institucionais, profundamente integradas ao sistema político liberal-representativo, participou do ato. Uma verdadeira demonstração de docilidade à agenda delineada e defendida pelos veículos massivos de comunicação. Estes veículos adotam, de maneira contumaz, a postura de porta-vozes da Casa Branca e, por extensão, do fiel aliado estadunidense, o Estado de Israel.

O referido comportamento revela uma incapacidade da ampla parcela das esquerdas cariocas (e, claro, brasileiras) em exercer um trabalho pedagógico que propicie a veiculação de valores e perspectivas que confrontem a linha editorial da grande mídia. De resto, fica reforçado o desarme ideológico do grosso das classes médias, trabalhadoras e marginalizadas do Brasil, abandonadas a uma operação de lavagem cerebral imperialista e capitalista feita pelo mainstream infocomunicacional.

Trata-se de uma enorme carência programática e uma limitação atitudinal, mesmo sob parâmetros políticos reformistas, não revolucionários. Isto é, mobilizando as categorias interpretativas da arguta análise da cientista política Marta Harnecker, a respeito das mazelas contemporâneas de parcelas significativas das esquerdas latino-americanas, pode-se dizer que o reformismo não propõe a ruptura com o capitalismo e a dependência tecnológica, com o subdesenvolvimento e a enorme marginalização social dos nossos povos.

Mas, sim, o reformismo instrumentaliza uma e outra iniciativa que possam amenizar as desgraças sofridas pelos trabalhadores empregados e pelos crônicos marginalizados e subempregados, bem como busca melhor acomodar certos princípios e aspirações nacionais dentro do sistema de poder, nos planos doméstico e global. Forçoso dizer, mesmo estas modestas preocupações são difíceis identificar nas esquerdas portadoras de maior capilaridade eleitoral (PT, PDT, PC do B, PSOL). Na verdade, a integral domesticação frente ao poder ultimamente tem sido a regra no país.

Isso posto, sem deixar de lamentar a triste tragédia ocorrida no sábado, os oradores do ato carioca de solidariedade ao povo palestino apresentaram diversas críticas ao Estado de Israel e revelaram certo consenso em torno das seguintes questões:

  • O terrorismo perpetrado pelo Estado de Israel é responsável por constantes vidas ceifadas na Palestina, particularmente de crianças.
  • Esse terrorismo cria as condições para a autodefesa, legítima, ainda que desesperada, de grupos armados palestinos contra o status colonial que subjuga o povo.
  • A “Nakba” (a catástrofe), assentada na expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas casas e terras para a edificação do Estado de Israel, nos anos 1940, constitui a origem dos graves problemas árabe-israelenses. Corresponde a uma premissa, o ponto de partida para qualquer avaliação sobre o dramático cenário na região.
  • Diga-se, tais expropriações persistem até hoje. Um grande filósofo alemão, de ascendência judaica, chamaria tais ocorrências de “acumulação primitiva do capital”. Em bom português, roubo de patrimônio alheio.
  • Necessidade de denúncia das recorrentes violações dos direitos humanos praticadas pelo Estado de Israel.
  • Crítica ao apartheid e ao fascismo que desumaniza e humilha os palestinos, aí incluídos os atuais bombardeios e cortes de luz e água para a população, que visam provocar uma punição indiscriminada aos palestinos.
  • O imperativo da formação de um Estado para o povo palestino.
  • Necessidade da implementação de medidas que sancionem o Estado de Israel, por parte da comunidade internacional, inclusive pelo Brasil. 
  • A urgência da irradiação de campanhas de politização popular pelos agrupamentos de esquerda, almejando esclarecimentos públicos sobre o que se passa na Palestina.
  • Com efeito, mobilizando todos os meios políticos e informativos possíveis, a forçosa contestação dos enquadramentos noticiosos absolutamente unilaterais, que somente fazem a celebração de Israel e dos EUA e demonizam os palestinos.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Redação

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