O protesto contra a construção do Complexo do Tapajós

Sugestão M.Paiva

Sem barragens: Tapajós Vivo e Livre – Ribeirinhos e lideranças Munduruku protestam contra a construção do Complexo do Tapajós 

https://www.youtube.com/watch?v=Y0NiVoZbD-0]

“Dizer que isso é fato consumado viola o direito dessas populações tradicionais e viola o próprio processo de consulta prévia. É também um desrespeito à própria Justiça, pois a decisão judicial determina a consulta prévia, e queremos que ela seja feita de forma verdadeira” [Felício Pontes, Procurador da República no Pará

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Sem-barragens-Tapajos-Vivo-e-Livre-/

 

Sem barragens: Tapajós Vivo e Livre

Notícia – 2 – dez – 2014

Encontro reúne bispos da Igreja Católica, lideranças do povo Munduruku, movimentos sociais e organizações da sociedade civil para protestar contra o licenciamento do Complexo hidrelétrico do Tapajós

 

Lideranças do povo Munduruku protestam contra a construção do Complexo do Tapajós (©Greenpeace/Bruno Kelly)

“Imagina se você é moradora daqui, vive aqui, se consultam o que você acha e você não pode dizer ‘eu não quero’, e o povo todo não pode dizer ‘nós não queremos’!”. É com essa reflexão que Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, fala sobre a construção do Complexo hidrelétrico do Tapajós, o mais novo megaprojeto de energia do governo para a Amazônia que, seguindo os passos de Belo Monte, está sendo desenvolvido sem consultar de forma apropriada as populações tradicionais que serão afetadas pelo empreendimento.

“Querem repetir o que estão fazendo em Altamira, querem sacrificar o rio Tapajós com consequências irreversíveis para um povo do tamanho do povo Munduruku, que defende a cultura que herdou de seus antepassados”, afirma ele. “O governo é um rolo-compressor”.

Dom Erwin esteve na Caravana em Defesa do Rio Tapajós, que ocorreu na semana passada na comunidade de São Luiz do Tapajós, próxima a Itaituba (PA), onde está prevista a primeira de cinco hidrelétricas programadas para a região. Ao longo do rio vivem cerca de 12 mil índios da etnia Munduruku, que, ao lado dos povos ribeirinhos, são contrários ao projeto.

No dia anterior à Caravana, ativistas do Greenpeace se uniram a cerca de 60 Munduruku para protestar contra o licenciamento do Complexo escrevendo a enorme mensagem “Tapajós Livre” com pedras na areia de uma praia próxima à comunidade.

“A natureza que a gente está vendo, mais tarde a gente não vai poder ver. Não queremos perder o patrimônio que o nosso Deus, Karosakuybu, fez pra gente cuidar, que é o rio e a floresta”, diz Juarez Saw Munduruku, cacique da aldeia Sawré Muybu, que corre o risco de ser alagada caso a hidrelétrica seja construída. Além dessa aldeia, a região que pode ficar debaixo d’água é rica em biodiversidade e abriga uma das principais porções de floresta intacta do país, composta por unidades de conservação e terras indígenas. 

Mesmo com todas as demonstrações contra o empreendimento, no início de novembro, em entrevista à BBC Brasil, o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que o governo não abrirá mão das hidrelétricas.

Segundo Felício Pontes, Procurador da República no Pará, afirmar que as hidrelétricas serão construídas de qualquer jeito é uma atitude desrespeitosa em relação aos povos da floresta: “Dizer que isso é fato consumado viola o direito dessas populações tradicionais e viola o próprio processo de consulta prévia. É também um desrespeito à própria Justiça, pois a decisão judicial determina aconsulta prévia, e queremos que ela seja feita de forma verdadeira” afirma ele, defendendo que a consulta seja realizada em todas as aldeias Munduruku, e não apenas com alguns representantes, respeitando assim a forma de organização desse povo.

“Mais do que nunca a foz do Tapajós tem que se unir às cabeceiras do Tapajós onde está o território Munduruku. Mais do que nunca isso é necessário, pois estamos num processo crucial de luta e defesa pela Amazônia e, dependendo de quem vença essa luta, nós vamos saber se existe ou não existe mais Amazônia”, conclui Pontes.

 

     

    Redação

    9 Comentários

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    1. Só uma curiosidade o

      Só uma curiosidade o povo Munduruku é monoteísta ou a referência de um deus Karosakuybu já é uma tradução do deus cristão? As igrejas católica e batista na região são de 1911 e 1960 respectivamente.

      1. http://pib.socioambiental.org

        http://pib.socioambiental.org/pt/povo/munduruku/798

        Religiosidade

        Nas práticas religiosas os pajés exercem um papel primordial de cura através de manipulação de ervas, atos de defumação e contato com o mundo dos espíritos. A religiosidade tradicional é muito presente entre os Munduruku, mesmo com as mudanças sofridas com a colonização.  A religiosidade está presente em todos  os aspectos da vida cotidiana, regendo as relações com a natureza, as práticas do mundo do trabalho e as relações sociais.

        Há a presença de duas missões religiosas. A Missão São Francisco, localizada na aldeia Missão, no rio Cururu, instalada em 1911; e a Missão Batista, que iniciou suas atividades em fins da década de 1960, estando situada na aldeia Sai Cinza, no rio Tapajós, com uma distância de cerca de 40 minutos de lancha da pequena cidade de Jacareacanga. Como falei anteriormente, as interferências na vida cultural e religiosa dos Munduruku estão presentes devido à atuação das duas instituições religiosas, porém, os Munduruku em sua maioria, apesar de participarem dos rituais católicos e protestantes, dificilmente podem ser considerados como plenamente convertidos. Atualmente não há mais uma objeção aberta por parte das Missões às práticas de pajelança. E ao que parece os Munduruku não atribuem grande importância às condenações feitas pelas  religiões cristãs à sua religiosidade tradicional.  A presença de missões de diferentes religiões não causou entre os Munduruku rivalidades ou disputas deste cunho, fato que pode significar que eles atribuem soluções e interpretações próprias no que diz respeito a religião.

         

        1. Ou seja, adotaram o sincretismo religioso!

          O socioambiental eu já havia consultado, inclusive fui em algumas dissertações de mestrado em que se fazia a análise e a RECONSTRUÇÃO da língua Munduruku. Um exemplo disto foi feito na disseração Terminologia em língua indígena: a construção do dicionário escolar Português-Mundurukú na área do Magistério de  Tânia Borges Ferreira, em que até há a preocupação em estabelecer definições em Mundurukú de palavras tais como bulling, cyberbullying e LDB, que traduzida para a língua indígena fica, itaybinap mug eap ma xi, ou seja “mãe do que devemos fazer para o ensino-aprendizagem”, facinho né.

          Eu estou achando que o que ocorreu com os Kayapós (Raoni e Payakã) está se reproduzindo na Amazonia, no site do socioambiental tem uma observação sobre a ação das ONGs conservacionistas que vou reproduzí-la por completo (http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/192):

          “No início dos anos 90, portanto, a associação dos Kayapó com o discurso ambientalista internacional estava no auge. É possível que, dadas as circunstâncias, os líderes Kayapó tenham se valido dessa representação para chamar a atenção da opinião pública internacional acerca dos problemas que os afligiam, sobretudo a situação de suas terras. Mas a imagem idealizada que parte do movimento ambientalista tinha dos Kayapó impediu de ver que a defesa que estes faziam da floresta e da natureza não tinha um fim em si mesmo, nem baseava-se numa suposta pureza silvícola. Fica a impressão de que a ajuda internacional só se interessava pelos índios na medida que eles se comportavam como defensores da natureza. Como observou o antropólogo William Fisher (1994:229), era como se o modo de vida indígena só valesse a pena ser preservado na medida em que fosse benéfico ao meio-ambiente, e não em razão de seus direitos de auto-determinação enquanto povo. E se é verdade que um simples olhar em imagens de satélite atesta que, na Amazônia, as áreas indígenas, incluindo a dos Kayapó, são ilhas de cobertura vegetal, cercadas pelo desflorestamento do entorno, isso certamente não ocorre pelo fato de os índios pensarem como os ecologistas

          Nesse contexto, ao mesmo tempo em que, no nível global, eram vistos defendendo a floresta, localmente os Kayapó faziam negócios com aqueles agentes econômicos que mais provocam danos ambientais na Amazônia: a exploração de madeira e o garimpo….”

          Em outro parágrafo está escrito algo enigmático, mas que explica muita coisa:

          “No entanto, da perspectiva dos índios, alinhar-se com os ambientalistas e negociar com a economia local com a qual convivem de longa data faz igualmente parte de suas estratégias de relacionamento com o mundo dos brancos, parte do seu modo de enfrentar as novas condições históricas que se lhes apresentam. Na ausência de uma política governamental para a questão indígena, os Kayapó trataram de obter por conta própria recursos (simbólicos, políticos e econômicos) fundamentais para sua reprodução social. Não apenas bens de consumo, serviços, atendimento médico, mas também possíveis parceiros e colaboradores. Daí a necessidade de chamar atenção internacional para o problema da demarcação de suas terras, para quem estava disposto a ouvir. Daí negociar parte dos recursos naturais de suas terras em troca de dinheiro.”

          Ou seja, os índios utilizam o discurso ambiental como uma forma de garantir as suas terras, mas para sobreviver eles usam as suas terras. Logo aquele conceito de um índio como um guarda florestal que garantirá a preservação total e sem nenhuma alteração, parece mais um sonho na cabeça dos ambientalistas do que um desejo dos povos indígenas.

      2.  
        Segundo seu mito de origem,

         

        Segundo seu mito de origem, os mundurucus foram criados por Karosakaybo na aldeia Wakopadi, próximo às cabeceiras do rio Krepori. Na segunda metade do século 18, começaram os primeiros contatos registrados com os não índios. Nessa época, os mundurucurus dominavam o vale do rio Tapajós, região que era conhecida como Mundurucânia. Era costume dos mundurucus mumificarem os crânios de seus inimigos derrotados, aos quais atribuíam propriedades mágicas. Com a derrota dos mundurucus frente às várias expedições militares portuguesas, eles foram alojados em aldeamentos missionários e passaram a fornecer as chamadas drogas do sertão.

        A partir de meados do século 19, o advento do ciclo da borracha marcou o aumento da presença de não índios em território tradicional mundurucu. Atualmente, os mundurucus lutam para preservar a posse de seu território tradicional diante de garimpos ilegais, construção de hidrelétricas e criação de hidrovias.

        http://pt.wikipedia.org/wiki/Mundurucus

         

         

      1. Logicamente sempre as mesmas.

        Jair, será uma das empreiteiras, principalmente porque o projeto foi tão sofisticado para atender a necessidades ambientais que vai ser utilizada tecnologia de construção de plataformas de petróleo, ou seja para que não seja necessário a construção de um canteiro de obras com pessoas que iriam interagir com os índios, a barragem vai ser construída em trechos mais distantes e transportada por rio até a região em que será feito o aproveitamento.

    2. Interessante que o link da

      Interessante que o link da noticia esta hospedado no site da Ong internacional Greenpeace

      bancada pelo governo Holandes ( Os velhos piratas de sempre ). 

      Igreja Catolica + Evangelicos + ONGS internacionais + Indios que de bobos nao tem nada = Formacao de quadrilha

      para se apossar do territorio nacional do Brasil.  

      E isto ai, simples assim.

    3. Sem dúvida deve fazer parte

      Sem dúvida deve fazer parte do nosso amadurecimento [nós, os “brancos”] o abandono da imagem do “índio puro, ingênuo, nu”. Esse abandono nos ajudaria a admitir que são indígenas, independente das roupas que usam por exemplo, como parece ter sido o caso desse juiz que não os reconheceu como indígenas. Ou porque usam celulares, ou porque falam português, ou porque foram tão massacrados que só agora lutam pelo resgate do seu orgulho, dos seus costumes … e do seu fundamental território, claro.

      O fato de usarem estratégias de diálogo ou interlocução ou negociação com os não índios não deveria ser surpresa, já que nem tiveram outra escolha face à invasão de seu território e violência com que muitos foram exterminados. E não os faz não-indios. Aliás, admitir que não ajam de acordo como nós achamos que deveriam agir também seria imensamente salutar para a necessária convivência com a diferença e os diferentes.

      Quanto ao relacionamento com ongs, os mais esclarecidos [inclusive os povos tradicionais, extrativistas] já perceberam que as tais REDDs [pagamento por compensações ambientais] só servem para proibir que façam seus manejos tradicionais da floresta, o que absolutamente não lhes interessa.

      O que não se pode negar é que a ocupação humana da Amazonia é milenar e o modo como esses povos manejaram a floresta não foi predatória … existem inclusive teorias que consideram que parte da floresta foi na verdade plantada por essas populações [as castanheiras têm um padrão de ocupação do território que parece incompatível com processos “naturais”] .

      [Amazônia ano 1000

      Na Amazônia de mil anos atrás, civilizações experimentavam um florescimento cultural]

      E, sim, “é verdade que um simples olhar em imagens de satélite atesta que, na Amazônia, as áreas indígenas, […] são ilhas de cobertura vegetal, cercadas pelo desflorestamento do entorno …” , o que vai de encontro com o desejo dos ambientalistas [pelo menos dos que não negociam REDDs em bolsas de valores].

       

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