Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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O aventureiro das canções, por Aquiles Rique Reis

Zeca Baleiro está lançando CD e DVD novos: Calma aí, Coração (Som Livre). Vamos nos ater ao CD. Gravado ao vivo no Vivo Rio, ele contempla 12 faixas e mais duas de bônus. Baleiro canta, toca violão e ukelele; Tuco Marcondes está na guitarra, banjo, gaita e vocais; Fernando Nunes no baixo, bass ukelele e vocais; Kuki Stolarski na bateria, percussão, violão e vocais; Pedro Cunha nos teclados, loops, metalofone, percussão, escaleta e vocais; e Adriano Magoo nos teclados, acordeom, cajón, iPhone e vocais. Uma turma da pesada, apta a criar o clima propício para o desenrolar da arte musical de Zeca.

Já me referi a ele como cronista do improvável, alguém que busca temas que não se classificam entre os mais fáceis, são sempre arejados. E mais: ao escolher canções alheias para interpretar, age como se dele elas fossem, como se dele fossem seus versos.

Neste novo trabalho, Zeca, o cantor, se esmera em divisões rítmicas que salutarmente “maculam” o esperado; o compositor Zeca avança ainda mais na linguagem pop, impregnando-a de irreverente atualidade, subvertendo conceitos e alargando experimentações.

Extremamente diversificado, ainda assim o repertório é coeso. Tem um quê de algo que nunca estanca, que está sempre em busca de alcançar o que para muitos pode parecer inatingível, menos para quem tem em si o dom de ser um aventureiro da música, aquele que não mede esforços e nem poupa riscos de se expor, sem eira nem beira, aos que o escutam.

O rap “O Desejo” (Zeca Baleiro) abre o disco. Zeca dá asas à sua verve poética, valendo-se de palavras que brotam como o sangue de um talho na pele: Você quer rezar, mas pra quem?/ Se os deuses estão mortos/ Não há mais divindades, ritos, ninguém/ Pra ouvir você no confessionário/ Na noite escura, gelada, vazia/ Contando os seus pecados sem perdão/ Sua omissão por não dar a mão/ Ao irmão que precisa de cigarros/ Comida, água, consolo, camisa. Impressiona o valor que ele dá à musicalidade das palavras.

Uma versão roqueira para “Disritmia”, de Martinho da Vila, mostra que Zeca não reprime suas ideias musicais. Sua interpretação dá uma nova intenção ao samba, levando-nos aos lábios um sorriso de aprovação.

Dentre outras, tem uma parceria de Zeca com Alice Ruiz, “Quase Nada”, cujos versos sugerem as dúvidas que se abatem sobre inquietudes que buscam não explicações, mas experimentos para conviver com o ciclo existencial: Será um atalho/ Ou um desvio/ Um rio raso/ Um passo em falso/ Um prato fundo/ Pra toda fome/ Que há no mundo

Uma das faixas bônus, “A Maçã”, de Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Mota, é outra cujos versos atestam a importância que têm as palavras para Zeca Baleiro, servindo-lhe de norte: Amor só dura em liberdade/ O ciúme é só vaidade/ Sofro mas eu vou te libertar/ O que é que eu quero/ Se eu te privo/ Do que eu mais venero/ Que é a beleza de deitar.

Assim vejo Zeca Baleiro: um cara que “profana” convicções, tratando-as com o devido desrespeito.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

1 Comentário

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  1. Assisti ontem aqui em São

    Assisti ontem aqui em São Bernardo uma apresentação dele.Muito bom,som de primeiríssima qualidade.Recomendo àqueles que tem bom gosto.

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