Quando Gilberto Gil teve seu dia de mingau, por Luis Nassif

Em “A Paz” ele cometeu uma das frases mais politicamente incorretas da história da música popular brasileira.

Já dizia os caboclos: “Toda araruta tem seu dia de mingau”.

O grande Gilberto Gil, meu ídolo absoluto, teve seu dia de mingau em uma de suas músicas mais belas: “A Paz”. Lá, ele cometeu uma das frases mais politicamente incorretas da história da música popular brasileira. Mas como era Gilberto Gil, poucos repararam. Mas ele faz uma defesa explícita das bombas sobre Nagasaki e Hiroshima:

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino, a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

PeloamordeDeus, não deixe Benjamin Netanyahu ouvir a versão em ídiche, senão será capaz de transformar no Hino de Gaza.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Ahnn…deixem-me meter minha colher de rabugice sessentona nesse caldo. Li em algum lugar, há muitos anos, que a derrota dos suecos diante dos russos, na Batalha de Poltava (se não me engano, em 1709), selou o destino das duas nações; a Suécia, derrotada, voltou-se para si mesma, largou de mão os planos expansionistas, e prosperou em paz. A Rússia, vencedora, sob Pedro I o Grande (se não me engano, novamente), prosseguiu em seu destino de ambições imperiais, lançando-se num período de atribulações e sofrimentos decorrentes das vitórias e das derrotas, fausto nas cortes e miséria nas ruas, do qual não teria saído até hoje. Creio que isso é uma grande bobagem, mas dá bem uma dimensão de como olhamos para esses acontecimentos de uma perspectiva que pouco tem a ver com a realidade dos lados envolvidos. Temos sempre nosso pendor, por menor que seja, para algum tipo de determinismo, que torna as coisas tão mais inteligíveis, e fáceis de entender. Tudo isso para absolver Gil da acusação de ter sido politicamente incorreto; é apenas a licença poética de julgar que, após uma grande lição e algum sofrimento, somos capazes de descobrir o que há de melhor em nós, e compartilhá-lo com os outros. Não creio que o Japão pós-1945 seja um Japão da Paz, assim como não creio que a Suécia deva sua prosperidade e IDH à derrota de Poltava. Tudo é licença poética e wishful thinking dos homens de bem, como o Nassif, como o João Donato, e Gilberto Gil. Quanto ao Netanyahu, Nassif, esqueça; ele não ouve música, não lê poesia, e não é capaz de ver os anjos de Deus cantando de alegria onde outros veem apenas o nascer do sol. Ele só quer saber da contagem dos mortos, com ou sem licença poética. Viva João Donato, viva Gilberto Gil, viva os palestinos e os judeus de boa vontade.

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