O sofrimento e a canção

Na sua fase áurea, nunca cheguei a me tornar um fã de Maria Creuza. Era a figura bonita que enfeitava as apresentações de Vinicius e Toquinho, com uma voz bonita, mas uma interpretação que não chegava a me sensibilizar.

Fui vê-la, quase por acaso, no “Vinicius”, casa de shows em frente o Garota de Ipanema. Quando entrou no palco, estava irreconhecível. Imensa, envelhecida, um tanto alcoolizada. Entrou com um copo de vodka que fez questão de passar para os demais músicos. Um garçom diz que ela lava com vodka e enxágua com caipirinha.

Mas quando começou a cantar, levei um susto.

É voz de uma pessoa sofrida, a aparência é de uma pessoa sofrida. Mas a voz mudou.Em alguns momentos é mais seca e precisa do que antes. Em outros, consegue uma reverberação que lembra as grandes cantoras trágicas dos anos 50, como Dalva de Oliveira, mais contemporânea e com interpretação bem mais contida (e intensa) que a Maria Creuza dos anos 80.

Vale a pena entender como a saga de Billie Holiday e Orlando Silva da segunda fase, do sofrimento esculpindo um grande intérprete.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Nassif, não precisa publicar
    Nassif, não precisa publicar este comentário , só queria sugerir que você desse uma olhada no YouTube nos vídeos de Carlos Kleiber regendo a Concertgebouw executando a Sétima de Beethoven, sobretudo o quarto movimento.
    Kleiber era um maestro meio recluso, não era titular de nenhuma orquestra, regia pouco, mas que energia e vibração. Mesmo assim é considerado a última grande lenda da batuta do século XX, morreu em 2004.

    Um abraço.

  2. Caro Nassif,
    Assim como tu,
    Caro Nassif,
    Assim como tu, (isso já é uma frase de uma lêtra de música), gosto muito de música também. Gosto de choro, jazz, blues, classicos, etc…
    Pesquisando na internet, fiquei sabendo de um tal Festival de Blues&Jazz de Guaramiranga-Ceará, que ocorre todo ano sempre no mes de fevereiro, coincidindo com o carnaval.
    É uma coisa inusitada, talvez única nesse Brasil tão cheio de surpresas e misturas-finas. Guaramiranga, localizada numa região serrana do Ceará, fica a quase 900 mts de altura e tem um clima ameno com temperatura que varia de 18 a 25 graus. Nada mau para uma cidade a 130 km. de Fortaleza e próxima ao sertão cearense.Possue um clima bastante parecido com o da região serrana do Sul de Minas divisa com São PAulo. Esse, por si só já é um fato inusitado. O outro diz respeito ao Festival de Blues&Jazz na região,no mesmo mes do Carnaval. Isso está mais para sulistas, quero crer.
    Esse festival foi inventado, por causa das pessoas que detestavam carnaval e refugiavam-se por aquelas bandas.
    No entanto, aí está um belo festival, pelo que li, e já está em sua 8a. edição e tem mostrado musicos muito bons, inclusive com atrações internacionais. É uma força para o municipio, trazendo muitos turistas, empregos e recursos à cidade.
    No entanto, sequer ouvi ou li uma nota da imprensa sobre esse festival, que me parece uma coisa séria, envolvendo muitos profissionais e que merecia maior divulgação, para o deleite de amantes do Blues e Jazz. Coisa rara de acontecer em nosso País, já que são ritimos quase que “elitizados” e adorados por uma minoria.
    Em nome da boa música, e daqueles que curtem bons momentos musicais como este, espero que esse tipo de evento tenha mais espaço na mídia em geral.
    Nem só de “éguinhas pocotó” vivem os cidadão de bom gosto musical desse País.
    Apesar de não ter participado do festival,(é bem distante da minha cidade) quero parabenizar os organizadores do evento e o povo de Guaramiranga pela atitude.
    Sou do interior do Est.SP, Americana, e nunca vi um festival de JAzz e Blues por essas bandas, infelizmente.

    Com meu abraço
    O.Jacob

  3. Prefiro às lembranças e os
    Prefiro às lembranças e os discos.Desmistificar é doloroso.
    Orlando Silva,interpretando “Nada além”,ou “Mulher”,respectivamente de Custódio e Lago,o ouvido recusa as marchinhas carnavalescas de seu ocaso musical…

  4. Mas eu me esquecera de dizer,
    Mas eu me esquecera de dizer, que sempre que o Stevie vem ao Brasil e canta Vc Abusou, algum repórter do Jornal Hoje consegue localizar a dupla Antônio Carlos & Jocafi em alguma praia do Nordeste, barbudos e vermelhos como um camarão, e tomando uma pra variar… Queria saber se é verdade que essa canção foi plagiada por um francês e virou o hino dos protestos juvenis em Paris de 68…

  5. A Maria Creuza, era aquela
    A Maria Creuza, era aquela casada com Antônio Carlos e Jocafi, como diria o povo? A propósito estes dois andam sumidos… Só lembram deles quando Stevie Wonder vem ao Brasil e sempre canta uma palhinha de: “Você abusou, tirou partido de mim, abusou”… Acho que é a única música que ele sabe cantar em português… A próposito, essa música poderia ser cantada hoje com muita propriedade e coincidência pela Maria Creuza…

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