Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
[email protected]

Homenageando São Pedro com Clementina e Manuel Bandeira

Hoje comemoramos São Pedro, o apóstolo escolhido por Cristo para erigir e disseminar aos quatro ventos a sua palavra e sua igreja. É o guardião das chaves do céu, o santo bonachão, a anfitrião que todos nós queremos visitar um dia, mas que seja longínquo…

Acordei cedíssimo com a idéia de escrever esse post despretencioso e que traz um paralelo que não quer ficar em mim guardado. Dormindo, entre o sono, sonho e realidade, lembrei da correlação existente entre a Irene de Manuel Bandeira e a nossa querida Clementina de Jesus, ambas negras, boas, sempre de bom humor. Talvez isso seja tão somente coisa da minha cabeça, porém aproveito para fazer homenagem a São Pedro, Clementina de Jesus, Martinho da Vila e ao poeta Manuel Bandeira. Assim mato não três, porém quatro excelentes coelhos, pedindo perdão pela comparação, de uma só cajadada.

 Manuel Bandeira: Irene no céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

 

E Clementina de Jesus, de Martinho da Vila:

 

Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Eu não quero as crianças roubando
A veinha esmolando uma xepa na feira
Eu não quero esse medo estampado
Na cara duns nêgo sem eira nem beira

Asbre as cadeias
Pros inocentes
Dá liberdade pros homens de opinião
Quando um nêgo tá morto de fome
Um outro não tem o que comer
Quando um nêgo tá num pau-de-arara
Tem nego penando num outro sofrer

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Deus é pai, Deus é filho, Espírito Santo é Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Clementina é filha de Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Muito bom, Paulo Gurgel!

      Copio aqui para facilitar a visualização de todos.

      Abraço do luciano

       

      O BLOG DO PAULO GURGEL

       

      11 março, 2011

      Reconstruindo Irene

      Nos idos de 2010 escrevi o Irene na Terra. Sem a pretensão de que os pósteros o elegessem como o maior poema da língua portuguesa. Cabia por inteiro numa “tuitada”. Além disso, seus três primeiros versos fazem parte de “Irene no céu”, de Manoel Bandeira, e o seu quarto (e último) verso conheceu tempos melhores na canção “Irene”, de Caetano.
      Não era um poema que pudesse fazer frente, por exemplo, ao Maabáratra, de Krishna Dvapayana Vyasa. O poema deste hindu tem 74 mil versos. E se nele formos incluir o “Harivamsa” já sobe para 90 mil versos.
      Acontece que, dias atrás, em uma das minhas caminhadas crepusculares por Two Thousand City (Cidade 2000), escutei por acaso uma gravação de Agnaldo Timóteo.
      Numa Vitrolex (link não patrocinado), o ex-motorista da Ângela Maria estava a cantar A casa de Irene, versão de um sucesso de Nico Fidenco.
      E, nesse instante de grande enlevo, dei-me conta de que tinha um poema inacabado. Então, sem delongas, retornei a ele que assim ficou:

      Irene preta
      Irene boa
      Irene sempre de bom humor
      Na casa de Irene a tristeza se vai
      – Quero ver Irene dar sua risada.
       

       

  1. Tinha um sanfoneiro no canto da rua…

    Amigo Luciano nos lembrando de não nos esquermos de nossas tradições. São Pedro me faz pensar na pedra da minha vida, rs. São Pedro bonachão… Bonachão era o poeta. 

    Hoje acordei com saudade do Brasil da minha infância. Não que fosse melhor do Brasil de hoje. Era diferente. Ouvi tanto mal do meu Brasil esses dias por parte de meus conterrâneos, que fiquei com dor pelo meu Brasil, que se encontra no olho do furacão. Como Dilma Rousseff… 

    Fechei os olhos e, ao invés dos sonhos premonitorios do Avatar (acho que é ele que sonha sempre), lembrei das mulheres que choram de Portinari. Ai, vc trouxe Clementina, que sozinha representa todas essas mulheres. Carregou toda as dores e transformou tudo em poesia. 

     

     

     

     

    1. Pra relembrar as tradições!

      Amiga Maria Luisa!

       

      Mostra esse vídeo ao Curumim e diz pra ele como nosso povo brasileiro, mesmo o povo que vive nos lugares mais longínquos e pobres, é chic. Ressalta alguns passos da QUADRILHA gritados em um puríssimo francês! (rsrsrs)

      Fiz essa edição especialmente pra você mostrar ao Curumim!

      Abração do luciano

       

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=br9YqAqtaZg%5D

       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador