Ópera premiada sobre abuso sexual escrita por mulher estreia no Theatro Municipal

Vencedora do prêmio Pulitzer de música em 2019 a obra traz a tona a agonia e o terror psicológico que aflige uma vítima de abuso sexual

Foto: Divulgação
Theatro Municipal apresenta Prism, ópera premiada escrita por uma mulher
Por Mariana Nassif

O abuso sexual é uma epidemia. Isso é sério demais, forte demais e silencioso demais. Todas as vítimas dessa atrocidade passam por extremas dificuldades estruturais na vida, dentre elas a manifestação da verdade como essencial. O segredo, o não falar, o abafamento do ocorrido são sintomas que contribuem para o aumento do trauma e a não restruturação do que foi corrompido ali, na importante infância.

Uma ópera premiada, escrita por uma mulher, exposta num dos mais importantes teatros do País, durante um governo extremamente machista, homofóbico e assassino, que silencia e estimula selvagerias, enfim, há de servir para, além de tudo, aliviar a angústia de quem ainda não conseguiu re-formar o trauma e segue batalhando por aqui, na vida real, para que, quem sabe, a dor e as confusões virem música, amparando a retirada da mordaça que amaldiçoa a vida de um número impossível de acreditar de vítimas. 

Theatro Municipal anuncia ópera escrita por uma mulher, inédita no Brasil vencedora do Pulitzer 

Do Theatro Municipal

Como a principal casa de óperas do Brasil, mais montagens líricas não poderiam faltar. Após os clássicos O Barbeiro de Sevilha e Rigoletto,  o Municipal realiza, em setembro, a ópera contemporânea Prism, de Ellen Reid, com estreia no dia 4. Vencedora do prêmio Pulitzer de música em 2019 a obra traz a tona a agonia e o terror psicológico que aflige uma vítima de abuso sexual.

No enredo a jovem Bibi vive com sua mãe super protetora e amorosa Lumme. A garota de aparência frágil que necessita da ajuda até mesmo para comer parece ter contraído uma doença que a deixou incapaz de andar. No entanto o que se descobre aos poucos é que na verdade Bibi luta contra um trauma de abuso sexual e o público vai se sensibilizando com a agonia, a desorganização da vida pessoal da personagem e o sentimento de repugnância pela violação.

“A minha busca era por óperas consagradas ou novas que abordassem temáticas contemporâneas. A questão do abuso e do feminicídio que estão infelizmente presentes na atualidade são colocadas nesta produção e reconhecidas por um prêmio de tamanha importância. Ao saber disso, quis trazer para que as pessoas possam refletir sobre essas questões porque a arte vai além do entretenimento, ela sensibiliza, questiona, reflete questões da sociedade em que está inserida”, explica Hugo Possolo.

A produção contemporânea realiza o seu “debut” no Brasil no Municipal após estrear em Los Angeles, em novembro de 2018, no Off Grand, iniciativa da LA Opera que leva produções líricas e concertos para diversos locais espalhados pela cidade da Califórnia. Prism será executada no Theatro com grande parte da equipe da montagem original, sendo a direção de James Darrah, cenografia de Adam Rigg, figurinos de Molley Irelan, desenho de luz de Pablo Santiago e de som de Garth MacAleavey. A soprano Anna Schubert e a mezzo-soprano Rebecca Jo Loeb continuarão como as intérpretes das únicas personagens da trama, Bibi e Lumee, respectivamente. A compositora Ellen Reid, de 36 anos, vencedora do prêmio pulitzer de música em 2019 por Prism, sua primeira ópera, e a libretista Roxie Perxins também estarão no país acompanhando a encenação.

As cantoras terão o acompanhamento da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, sob a regência do seu maestro titular Roberto Minczuk, e do Coral Paulistano, sob a preparação da maestrina Naomi Munakata.

As récitas ocorrem nos dias 04, 05, 07, 08, 10, 11, 13 e 14, sendo de terça a sábado às 20h e no domingo às 18h. Os ingressos variam de R$ 20 a R$ 120.

Mariana A. Nassif

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