Tinhorão aponta plágio em “As Rosas Não Falam”

Do Jornal opcao, via twitter

Imprensa
Euler de França Belém

José Ramos Tinhorão Cartola é plagiário e João Gilberto é “espertalhão”

Tom Jobim e Cartola (à direita), compositores da mais alta qualidade,
são denunciados como “plagiários” pelo crítico José Ramos Tinhorão

O mais polêmico e destemido crítico de música do Brasil volta a atacar, agora na revista “Cult”. Na entrevista “João Gilberto é um bom malandro”, concedida ao jornalista Daniel Silveira, José Ramos Tinhorão não economiza palavras fortes nas suas críticas e prova que permanece como um “devorador” de mitos. A música “Chega de saudade”, de Tom Jobim, “vem do tema do filme ‘Sob o Domínio do Mal’, de 1962, de John Frankenheimer. ‘Desafinado’ é igual a uma canção de Gilberto Alves, e ‘Eu sei que vou te amar’ é a mesma melodia de ‘Dancing in the dark’”. Tinhorão não usa a palavra “plagiário”, mas aponta, sem tergiversar, as “fontes” de Jobim.

Ao mesmo tempo em que implica com João Gilberto, antigo desafeto, e Tom Jobim, Tinhorão é menos cruel com Cartola: “Fiz uma descoberta que me deixou muito triste. Descobri que a melodia de ‘As rosas não falam’, de Cartola, na verdade é de dois caras do jazz. A melodia vem de ‘La Rosita’, de Coleman Hawkins e Ben Wester”. No caso de Jobim, o repórter nada pontua; no de Cartola, não perdoa e cita a palavra “plágio”. A resposta de Tinhorão: “Pode ser um plágio involuntário, mas que ele ouviu isso, não há a menor dúvida”.

Embora as denúncias de plágio sejam duras, e a turma da bossa nova possivelmente irá defender Tom Jobim do “mal-humorado” Tinhorão, as críticas mais contundentes são dirigidas a João Gilberto (e devo dizer que simpatizo com os petardos de Tinhorão): “João Gilberto é um bom malandro. Ele inventou uma coisa, inegavelmente. Aquela batida de violão, o aproveitamento dos contratempos dentro do [compasso] dois por quatro. Em vez de ser uma coisa metronômica, batida certinha, ele vai e volta. Como é uma batida que permite a superposição de uma harmonia de música norte-americana, acabou dando certo. Ele é um cara meio fora do esquadro. Não é uma sujeito de ligar muito para as pessoas, e foi malandro, aproveitou-se dessa fama e cultiva o folclore em torno disso, do atraso, da dúvida sobre ele ir ou não aos shows. E aí todo mundo o chama de gênio. O mérito dele é inegável, mas esses caras viram elefantes brancos. Coitado, já viu como está a voz dele? Nem consegue mais articular direito. E a culpa é do ar condicionado. Esse eu admiro, é um espertalhão”.

A bossa nova é inspirada na música americana, diz Tinhorão, repetindo uma crítica antiga (e ainda válida). “Monta-se uma harmonia norte-americana tão disfarçada que parece música brasileira. Isso não é uma vitória da música brasileira. Os brasileiros ofereceram aos norte-americanos uma nova visão da própria música. É mais fácil para o americano ouvir. Por que Sinatra canta Tom Jobim e não Nelson Cavaquinho? Porque não casaria. Sinatra canta Jobim porque aquilo casa com o que ele já fazia nos Estados Unidos.”

Tinhorão agora está estudando para escrever um livro sobre congada, “talvez a festa mais popular do Brasil”. Vale a pena ler toda a entrevista. A “Cult”, que está nas bancas, contém um dossiê sobre o filósofo francês Michel Foucault.

Comentário

Meu velho amigo Tinhorão comete com Cartola a mesma injustiça que já cometeu com Tom Jobim. A música popular não é um poço permanente de invenções. Dentro de padrões harmônicos, muitas vezes se repetem sequencias, harmonias, melodias. É praticamente impossível pensar em uma canção isolada do contexto maior da música. No fundo, a música popular é um puzzle, em que se combinam de formas diferentes os mesmos temas harmônicos.

“As Rosas Não Falam”, assim como as inúmeras músicas de Jobim, são criação únicas, ainda que trechos delas possam ser coincidentes ou mesmo ter se espelhado em outras músicas.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Pois o próprio Tinhorão falou besteira, a melodia que a trilha sonora do “The Manchurian Candidate” (1962) sugere, apenas numa primeira sequência de notas não se trata de “Chega de Saudade” (1958) mas sim da introdução de “A Felicidade” (1959) que pertence ao “Orfeu da Conceição”. Tinhorão, tem bom ouvido, mas não é tão bom assim, como ele pensa. Se fosse mesmo, saberia que “Só danço samba” é a mesma harmonia que “Take The A Train”, tem ouvido mas só saca algumas melodias. Isso (usar a mesma harmonia pra uma nova melodia) era de praxe pra turma do Bebop, contemporâneos do Tom. Tinhorão é uma figura, vivia contando causos nos botecos do centro, mas ainda assim é só mais um crítico sem nenhum respaldo musical pra cutucar o gênio do Tom Jobim. Tirando isso, adoro o apreço que ele tem pela música mais “raiz” dos compositores que vieram do samba-choro.

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