Tutty Moreno conhece todos os ritmos, por Maurício Gouvêa

Tutty chama também de sua a carreira que trilha ao lado de Joyce, tamanha é a sinergia de ambos

O músico Tutty Moreno completou 74 anos no mês de outubro. Dono de carreira brilhante como baterista, ele foi protagonista de um programa produzido pela Tropicália Discos em parceria com a 3 Para 1 Projetos e Produções. Dividido em duas partes, o programa está disponível na íntegra a partir de hoje no canal do Youtube da Tropicália (@tropicaliadiscos), apresentando a trajetória deste músico extraordinário.

Tutty Moreno conhece todos os ritmos

por Maurício Gouvêa

A frase lapidar que dá o título deste texto não é minha, mas de Joyce Moreno, presente na canção “Moreno”, faixa do álbum “Água e Luz” lançado pela EMI-Odeon em 1981. Artista consagrada da música brasileira, Joyce estabeleceu uma relação de vida e música com o baterista, em um amálgama sonoro poucas vezes visto no mundo artístico. Desde o primeiro disco que gravaram juntos, “Feminina”, de 1980, esta parceria só gerou fruta boa. Por isso, com toda a propriedade, Tutty chama também de sua a carreira que trilha ao lado de Joyce, tamanha é a sinergia de ambos e a contribuição mútua que criou um som que ultrapassou as fronteiras nacionais e ganhou fama mundo afora.

Esta é apenas uma das histórias que o programa “Disco da Semana” apresenta em duas partes. Tendo como base um depoimento de Tutty em uma tarde na loja Tropicália Discos, localizada no centro do Rio de Janeiro, conduzida por mim e Marcio Rocha, um dos sócios da Tropicália, a entrevista desvelou a carreira de Tutty desde o seu início: a presença e influência de irmãos artistas, o apoio do seu pai e, sobretudo, a dedicação comovente de sua mãe para que o filho pudesse tornar-se o músico internacionalmente reconhecido que é.

As histórias são tão fascinantes que optamos por dividir o especial em duas partes. A primeira cobre o período “Salvador + Londres”, com a participação de Tutty em trabalhos interessantíssimos na Bahia e, na sequência, partindo para Londres para discos e shows ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso, com quem gravou o antológico álbum “Transa” em 1972. A segunda parte tem o foco em “Nova York + Rio”, cobrindo sua ida para os Estados Unidos, para se aproximar da cena jazz norte-americana. Quis o destino que lá se consumasse seu encontro com Joyce, o que mudaria sua vida por completo, trazendo-o de volta para o Brasil, para morar no Rio de Janeiro.

Além de dezenas de discos lançados ao lado de Joyce, Tutty Moreno gravou com diversos artistas da música brasileira: Maria Bethânia, Rosinha de Valença, Milton Nascimento, Jorge Mautner, Gal Costa, Antonio Adolfo, Erasmo Carlos, Francis Hime, João Donato, Clara Moreno, Ana Martins, Olívia Hime, Zé Renato, para citar apenas alguns, além de nomes da música internacional como Lisa Ono e Harry Allen. Ele está presente em discos fundamentais como “EXPRESSO 2222” de Gilberto Gil, “ARAÇÁ AZUL” de Caetano Veloso, “CAETANO E CHICO JUNTOS E AO VIVO” de Caetano Veloso e Chico Buarque e “JARDS MACALÉ”, do próprio. Como principal mote do programa está o seu primeiro disco solo chamado “TOCANDO SENTINDO SUANDO”, gravado em 1981 no Rio de Janeiro e cuja fita ficou guardada por anos em sua casa, até ser lançado pela Far Out Recordings em 1996.

Além de conhecer todos os ritmos, como eternizou Joyce Moreno, Tutty criou um estilo próprio, tornando-se um estilista do instrumento. Por estas qualidades diferenciadas, invariavelmente protagoniza, ainda que involuntariamente, qualquer show ou gravação que participe. Sua personalidade absoluta e marcante como baterista está encapsulada em uma alma generosa e de muita simplicidade, unanimidade entre todos os que têm o privilégio do seu convívio.

Convido a todos e todas para assistirem o programa. Tutty é um dos grandes da nossa música em todos os sentidos. Tocando, sentindo e suando.

Maurício Gouvêa é colecionador, pesquisador e amante incorrigível da música brasileira.

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Redação

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