Antes de mais nada, um desabafo. Ao ouvir Caminhos de Mim (Mills Records), surpreendido que fui pela voz da intérprete Ninah Jo neste seu primeiro CD, veio a mim uma pergunta: “Que dom é esse, meu Deus, que engolfa uma mulher, tornando-a tão extraordinária?” Desta, derivaram outras: “Quem é essa mulher que se aferra a cantar, mesmo consciente de que poderá ser para poucos? Que força é essa, capaz de impulsioná-la rumo a um previsível semianonimato, mesmo ciente das misérias do mercado? Quem é essa mulher que empenha suas fichas num sonho, mesmo imaginando que poderá não ser escutada o quanto merece por ouvidos atentos e em grande número?”
Ora, são conhecidos os entraves que brotam à frente de um novo valor que tenta mostrar seu talento musical. Mas a música acaricia, excita… Eu mesmo escrevi que “fazer arte no Brasil é correr atrás, matar e cozinhar um leão por minuto. Vivemos da arte de sobreviver. Criamos da lama. Plantamos no asfalto. Colhemos do sacrifício. Sonhamos para dormir. Levantamos para suar. Muitas vezes dormindo sem esperança e acordando cheio dela (…)”
Com direção musical e arranjos do violonista Pedro Braga e direção artística de Paulo Cesar Feital, o álbum começa com Ninah cantando “Renascer” (Camile Saint-Saens, com letra e adaptação de Altay Veloso), tendo apenas o piano de Wagner Tiso a acompanhá-la. Aqui se deu o impacto que motivou o desabafo que inicia este texto.
Ela tem a voz ardente, intensa, que bole a sensibilidade, deixando-a em carne viva, pronta para se deixar seduzir; tem a voz grave, dando aos versos o peso que precisam para luzir em poesia; tem a voz nasalada, redonda, que escorre por entre as notas, eriçando-as, preparando-as para que se abram em reverência; tem a voz afinada, firme, como a de uma veterana, embora com o frescor de uma amadora em início de carreira.
“Cabaré” (João Bosco e Aldir Blanc) demonstra a capacidade da intérprete de trazer para si o universo do compositor. Tendo como destaque o acordeom de Marcelo Caldi, Ninah dá um show. Show que prossegue em “Meu Cordel” (uma das três parcerias dela com Paulo Feital), com a viola de dez cordas de Pedro Braga ponteando.
Fátima Guedes e Jorge Vercillo compuseram uma das mais belas músicas gravadas por Ninah, “Mãe de Menina”, cuja delicadeza da letra é de uma sensibilidade tocante. É claro que Ninah arrasa cantando. Outro arraso é quando ela canta “Fruta Mulher” (Vevé Calazans).
A penúltima música é “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” (Sergio Sampaio). Num arranjo de grande força, a percussão impera. Vai num crescendo tal que dá vontade de seguir o bloco imaginário. Acho que o disco deveria acabar aqui. A última faixa “Amanhã” (Guilherme Arantes), apesar de ser um enorme sucesso, ter um bom arranjo e tudo o mais, soa como um anticlímax do que ouvimos anteriormente.
Mas Ninah Jo deve ser cumprimentada como uma grande revelação. E não somente isso: quem puder, deve ouvir o seu Caminhos de Mim.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
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O canal so tem esse primeiro
O canal so tem esse primeiro video da lindissima musica que da o titulo ao album mas tem muita coisa dela no Yt.
[video:http://www.youtube.com/watch?v=fC3-wbXDPYk%5D
[video:http://www.youtube.com/watch?v=iUzIdNRYgIQ%5D
Com Bibi Ferreira -a voz da velhinha- em trabalho anterior:
[video:http://www.youtube.com/watch?v=1YW7-qpX0f8%5D