Quer trabalhar menos? Pare de sentir pena de si mesmo

Talvez alguns de vocês se lembrem de um hit do Lobão que repetia insistentemente a frase “é tudo pose”. Ao sentar para escrever, a música não saía de minha cabeça. Acho que sei porquê.

Aqui no Templo, somos cerca de 20 pessoas para dividir uma quantidade insana de trabalho. Além das obrigações diárias, você precisa “cuidar da família”. É como largar o Daniel San trabalhando numa cozinha industrial e, ao mesmo tempo, numa empresa de mudanças. Em 10 dias lavei mais louça do que nos últimos três anos, além de carregar estátuas pesadas, passar “Tapa Trinca” no telhado, configurar rede de internet a rádio, escrever, entre outras coisas. Algumas delas debaixo de chuva.

O Templo está na fase de acabamento, então há tudo por fazer. Dependemos muito uns dos outros. Assim, é comum, durante o dia, a conversa girar em torno do “como sou trabalhador”. Nos piores momentos, “fulano deveria ter trabalhado mais” ou “fiz mais que ele, percebe?”. Tudo pose.

Noto que venho assumindo alguns comportamentos ornamentais. Quer dizer: falar ou fazer algo só para conseguir aprovação do grupo. Um teatrinho estúpido e improdutivo, auto-siticom, tentando provar para mim mesmo que agüento o tranco e que – alguém me note – estou trabalhando muito. Acho que não estou sozinho nesta: muitas vezes os cafés e almoços parecem uma reunião do sindicato da autopiedade. Percebi isso ontem, quando fui perguntar para a nossa Lama onde estava uma determinada pessoa. Ela riu e disse: “está no quarto, sentindo pena de si mesma”.

Se tivéssemos como medir o tempo que gastamos com ações ornamentais (para os outros ou para nós mesmos), veríamos que jogamos boa parte do dia no ralo. Poderíamos nos divertir ou fazer outras coisas, mas passamos uma vida inteira apegados a essa imagem social de que “somos esforçados, trabalhadores e eficientes”. Não importa tanto se você trabalha, é preciso parecer que está ocupado, ofegante, acelerado. Ou então contar suas peripécias em frente de uma platéia (entediada, por sinal).

Louvores ao herói, o carregador do piano do universo. O que você ganha com isso? Afinal, trabalhamos para pagar as contas ou para manter o teatro em ação? É tudo pose.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Muito interessante essa sua
    Muito interessante essa sua visão!Eu sempre fui uma pessoa que trabalhava demais e não possuia tempo pra nada.Essa rotina já estava afetando a minha saúde foi quando decidi parar com esse ritmo frenético de trabalho.Hoje sou uma nova pessoa!!Tenho tempo para viver!!!!Abraços!!!

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