07 de setembro de 2015, um dia para invejar José Dirceu

07 de setembro de 2015, mais independente do que jamais foi, o Brasil está em festa. Mas os derrotados lambem suas feridas, um advogado promete arrancar a cabeça da presidenta e um pastor prega aos seus fiéis a morte de Lula e Dilma na Praça da Sé. Só consigo pensar no destino cruel de José Dirceu, arquiteto mor desta independência por alguns tão indesejada.

Escolho um livro ao acaso, abro-o aleatoriamente e me deparo com os seguintes fragmentos:

“Por que um ancião de oitenta e três annos resolve fazer a longa e perigosa viagem de Ferney a Paris? ‘Ir a paris, eu? Escrevia elle. Sabeis que ha nessa cidade quarenta mil achas para me fazerem fogueira? – Mas, sabeis – replicava o amigo que o exhortava a essa viagem – que tendes em Paris oitenta mil amigos que acorrerão para extinguir o fogo, queimando, se isso vos agradar, os portadores da lenha?’” (Voltaire, André Maurois, editora Pongetti, Rio de Janeiro, 1938, p. 223)

“Não pode assistir á estréa da sua tragédia, mas por ocasião da sexta representação, a 30 de Março, está bem disposto para sahir. A scena foi comovente. Paris enlouquece. Num carro azul semeiado de estrellas de ouro,o velho esqueleto em roupas de velludo, uma pequena bengala na mão, atravessa a cidade. Toda Academia vem recebel-o no limiar, exceto os bispos. Na rua uma multidão compacta gritava: ‘Alas para Voltaire!’ Os guardas rodeiam-lhe o carro e depois o acompanham até o seu camarote. Ao entrar os espectadores se levantam, gritando: ‘Viva Voltaire! Gloria ao defensor de Calas! Glória ao homem universal!’

Enfim, o publico exige que os actores lhe levassem uma corôa. Entre os dois actos o panno se ergue; no palco estava uma estátua de Voltaire. Todos os actores e actrizes desfilaram deante dessa estatua, pondo sobre a cabeça corôas de louros; e de cada vez a multidão de pé, gritava para Voltaire: ‘É o povo que te corôa!’” (Voltaire, André Maurois, editora Pongetti, Rio de Janeiro, 1938, p. 228/229)

“Enfim, a 11 de Maio, toma-o um accesso de febre. Tronchin diagnostica um cancer de prostata. Soffre muito; delira. As narrativas da sua morte são contradictorias; cada um dos partidos, a Egreja e os philosophos, quiseram mostral-a como um exemplo. O cura da parochia recusa a sepultura ao seu cadaver, e ameaça, como Voltaire receiava, lançal-o aos fôssos. Enterram-n’o, então, em Selliéres, onde era abbade seu sobrinho. O coração foi mandado para a Biblioteca Nacional -lá está ainda.” (Voltaire, André Maurois, editora Pongetti, Rio de Janeiro, 1938, p. 230)

François Marie Arouet (21/11/1694 – 30/05/1778), dito Voltaire, era um homem de letras. José Dirceu de Oliveira e Silva (16/03/1946 – ), vulgo José Dirceu, é um homem de ação. Ambos tem em comum uma grande capacidade de fazer inimigos e amigos. Os dois foram exilados na flor da idade: Voltaire aos 20 anos, José Dirceu aos 22 anos. É impossível conceber uma História da França sem Voltaire. Não há História recente do Brasil sem José Dirceu.

Após a morte de Voltaire o coração dele foi arrancado e preservado na Biblioteca Nacional. O coração dos franceses repousa no coração cultural da França. A julgar pelo sorriso que José Dirceu ostenta na prisão o coração dele continua saudável e, paradoxalmente, livre https://www.facebook.com/photo.php?fbid=459566374251977&set=a.125308714344413.1073741836.100005958553038&type=1&pnref=story.

Pobre de mim… a única coisa que tenho em comum com Voltaire e José Dirceu é ter estudado Direito. Não escrevi nada digno de aplausos, tudo que fiz me concedeu apenas a glória do anonimato. Sou apenas um ser mortal e como tal sujeito às mordidas da inveja, sentimento terrível que também tem sede no coração:

“O ato de cobiçar, como sabia muito bem o autor dos mandamentos, um atento observador do coração humano, está no núcleo da inveja.” (Inveja, Joseph Epstein, coleção sete pecados capitais, editora Arx, 2004, p. 44)

O coração é sede da inveja, mas também do heroísmo:

“…A deusa guardiã do poço inesgotável – seja ela descoberta tal como Fergus, Actéon ou o Príncipe da Ilha Solitária a descobriram – requer que o herói seja dotado daquilo que os trovadores e menestréis denominavam ‘coração gentil’. Ela não pode ser compreendida e apropriadamente servida pelo desejo animal de um Actéon, nem pela repulsa insolente de um Fergus, mas apenas pela gentileza; awaré (‘simpatia gentil’)…” (O Herói das Mil Faces, Joseph Campbell, Cultrix/Pensamento, São Paulo, 2013, p. 118/119)

O sorriso de José Dirceu na prisão é gentil. FHC (escritor e político hipócrita), José Serra (senador entreguista e corrupto), Gilmar Mendes (juiz parcial e canalha), Geraldo Alckmin (governador incompetente e violento) e Aloysio Nunes (senador iracundo e desonesto) estão livres, mas não tem um sorriso tão gentil quanto o do herói petista. O coração dos tucanos secou no exato momento em que eles começaram a odiar o povo que pretendem governar. O que eles fizeram nunca será tão importante para os brasileiros quanto o que José Dirceu fez. Nada do que eles escreverem terá a mesma importância para o Brasil como os escritos de Voltaire tiveram e tem para a França.

Hoje é 07 de setembro e eu confesso: invejo José Dirceu e Voltaire porque sou humano. Se fosse desumano invejaria vilões como FHC, José Serra, Gilmar Mendes, Geraldo Alckmin e Aloysio Nunes.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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