Ao vencedor as ruínas de Tróia…

História e Poesia se encontram, se divorciam ou caminham juntas. Mas apenas em um momento a Poesia conseguiu se tornar mais importante do que a História. Isto ocorreu nos primeiros séculos depois de Cristo.

Virgílio (Eneida) e Tito Lívio (Ab Urbe Condita Libri) descreveram a fundação de Roma. A versão do Historiador é quase tão fantasiosa quanto a construída pelo Poeta. Mas o poema épico se tornou tão ou mais popular que a narrativa histórica.

Da Eneida extrai um pequeno fragmento que me parece se ajustar perfeitamente ao momento que vivemos:

“noctem hiememque ferens, et inhorruit unda tenebris.  

continuo venti volvunt mare magnaque surgunt

aequora, dispersi iactamur gurgite vasto;

involvere diem nimbi et nox umida caelum

abstulit, ingeminant abruptis nubibus ignes,

excutimur cursu et caecis erramus in undis.

ipse diem noctemque negat discernere caelo

nec meminisse viae media Palinurus in unda.

tris adeo incertos caeca caligine soles

erramus pelago, totidem sine sidere noctes.

quarto terra die primum se attollere tandem”

VERGILI MARONIS AENEIDOS LIBER TERTIVS

http://www.thelatinlibrary.com/vergil/aen3.shtml

“Feia borrasca sobre nós carrega

Treva e horror pelas águas estendendo.

O vento em brenhas escarcéus levanta,

Nos joga e espalha pelo vasto pego.

Tolda-se o dia, e pluviosa a noite

Nos rouba a luz polar; rasgadas nuvens

Trovejam, relampeiam. Flutuamos

Sem rumo à toa; Palinuro mesmo

Perde o tino, e confunde a noite e o dia.

Nem fulge estrela nas opacas horas,

E em cerração três dúbios sóis vagamos.

Ao quarto, arrumação, que a olho aumenta.”

Eneida, Livro III, Virgílio, tradução de Odorico Mendes (Ateliê Editorial, Cotia SP, 2005, p. 84)

A feia borrasca que se abate sobre o Brasil é o golpe do Impedimento mediante fraude. Treva e horror, duas palavras que simbolizam perfeitamente as propostas destrutivas do usurpador. Temer se esforça para roubar os direitos, o futuro e as vidas dos pobres brasileiros como se fosse uma tempestade. Flutuamos…

O Ministro da Educação nomeado pelo tirano troveja e relampeia contra os estudantes. Ele quer nos fazer crer que a pedagogia do carcereiro pode substituir a pedagogia do oprimido. Uma noite opressiva e pluviosa escurece o sistema educacional brasileiro. Enquanto isto, o STF confunde a noite e o dia, negando aos 54,5 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff o direito de ser por ela governados.

Fomos condenados a vagar em cerração por três anos solares. No quarto, a República poderá ser arrumada.

Os personagens de Virgílio tinham esperança de chegar num local propício. Lá eles fundariam uma cidade que igualaria ou superaria as glórias da urbe destruída pelos aqueus. Roma é uma esperança poética.  A esperança dos brasileiros neste momento é poder eleger Lula.

Para fundar Roma, Enéias foi obrigado a desafiar e sobrepujar forças naturais, humanas e divinas. Lula corre contra o tempo, contra o Judiciário e contra aqueles que se consideram eleitos por Deus para destruir o PT.

Nenhuma adversidade foi capaz de impedir o herói de Virgílio de cumprir seu destino. O mesmo não pode ser dito do herói dos brasileiros. Nossa história nunca foi, não é e nunca será poética.

Ninguém sabe o que será do Brasil se Lula for morto, preso ou impedido de disputar as próximas eleições presidências. Mas uma coisa é certa, em qualquer um destes casos o futuro do Brasil será mais parecido com o da queda e destruição de Tróia do que com o nascimento e expansão gloriosa de Roma. O que Temer destruir nenhum Enéias conseguirá ressuscitar. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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