BRASIL: um país doente

Todos nós – sem exceção – que fomos criados no Brasil, recebemos o impacto de um caos mental intolerável de graves deficiências de percepção e de julgamento. Percebemos mal a relação: tempo x espaço, as conexões causais na vida prática e o nexo de ação e resultado, posto os valores e proporções da vida moral.

Tive a sorte de perceber isso mediante o confronto do meu desempenho na vida com o de pessoas de origem europeia, quando morei em São Paulo. De fato posso afirmar, categoricamente, que não sabemos viver.

Quando estudamos a origem das coisas e a presença do universo físico, a origem do marxismo, tudo se transforma em um choque de realidade e logo percebemos que só algumas pessoas têm essa noção densa da existência. Realidade essa que se constitui de uma presença física e de uma ação inestimável que se desempenha no tecido da nossa própria vida.

Não obstante, passamos a perceber que somos uns sonsos, uns bobões em toda a linha e, mesmo estarrecidos, podemos começar um trabalho de autorreforma que pode ser perdurável.

Até hoje é digno de estudo científico a inépcia e a falta de sentido prático dos brasileiros. Não raro, mal compensado por alguma atividade profissional específica, por exemplo: o sujeito é um empresário e investidor, sabe fazer dinheiro e se esnoba de ser um homem prático; mas não sabe resolver conflitos domésticos banais ou planejar as suas férias sem transformá-las em uma letargia.

Tem o domínio prático na profissão, mas não tem na vida. Então, ter um sentido prático especializado em uma área ínfima – a profissão – é diferente de ter o domínio prático na vida. Isso leva a não ter sentido prático algum. Essa noção é o que falta para todos os brasileiros. Todos sem exceção. A não ser aqueles que foram beneficiados com outra cultura.

É notável que a partir de 1.986 o Brasil, pela primeira vez, tenha apresentado uma solução plausível para um problema prático na sociedade, pois até então tudo virava uma tragédia. Quando, de repente, nosso país tentou acabar com o temido dragão da inflação, víamos que, os brasileiros, analisávamos minunciosamente os fatos sociais.

Como sempre, se costuma imaginar que a América é a terra do possível e o Brasil a terra do impossível; na mente do brasileiro, ter a atitude de resolver um problema é ter que resolver a vida inteira antes. O número de pessoas que pensam assim e que estão ao nosso redor é muito grande e tudo, realmente, fica quase impossível.

 Agora vou dizer por experiência própria, eu nunca tive uma única ideia, na minha vida, em que as pessoas consultadas, dissessem: “_ Vai dar certo”. Sem falar naqueles que eu não os consultei, mas que vieram até mim, para reverberar sentimento contrário de inveja ou insatisfação.

Sempre dizem: “_ Você está com muita ilusão.”; “_ Você não tem experiência da vida.”; “_ Você vai se ferrar.” Sempre foi assim, eu já não dou ouvidos a esse tipo de coisa.

As pessoas compensam a sua incapacidade prática castrando a capacidade prática do outro e castrando, também, o desejo de agir do outro, então, é claro que nós estamos em um país doente.

Onde está a doença?

Ela pode está na comunidade que fazes parte, mas pode está na empresa onde você trabalha, na família a qual você faz parte, e, em seu coração também. Você é doente; todos os brasileiros, sob essa perspectiva, somos doentes e incapazes.

Para nos tornarmos capazes, temos que fazer uma reforma dentro de nós, a começar por perceber isso. Devemos ter um olhar reflexivo-introspectivo e dizermos: “_ Eu não sei fazer nada.” E depois, começarmos a aprender a fazer uma coisa e depois outra e assim sucessivamente.

Você pode não saber algo, mas em algum lugar existe alguém que sabe; existe uma tradição, uma cultura em que houve um aprendizado que foi passado de geração em geração, logo, aquilo que você não sabe alguém sabe, e, procurar por isso significa adquirir cultura.

Acontece que, no Brasil, cultura é uma coisa e vida prática é outra totalmente diferente, então, esse é o problema. É um “problema kantiano”. Entendes o por quê? Estas questões deveriam ser paralelas, e não questões sociais concorrentes.

Como fazer para resolver uma coisa sem adquirir um conhecimento necessário sobre a tal coisa? Como eu faço para enxergar, sem enxergar? Como ser, no mundo, percebido se não for percebido? Então, é uma pegadinha absolutamente infernal. Quanto mais o ser humano está fragilizado, mais ele cai nessas pegadinhas devonianas e isso torna a sua vida impossível.

Necessário é aprender com o fracasso, já nos admoestam a literatura e a religião. Fazer e errar são experiências, enquanto não fazer é fracasso. Devemos nos preocupar com as chances perdidas quando nem mesmo tentamos? Sobremaneira não, porque o fracasso só fortifica os fortes.

Somente quando o sujeito toma ciência de sua serendipidade, isto é, quando ele passa a saber a real diferença entre o que ele tem o que ele não possui, é que o fracasso e o sucesso são igualmente separados, tornando límpida a  realidade.

O sucesso é vaidoso, nasce em função do fracasso e não raro sobrevive à custa dele.

Temos de lutar e acreditar que alcançaremos o sucesso, pois ele decorre da perseverança e da persistência, não da teimosia, é só com a obstinação que os paranoicos sobrevivem.

Aos brasileiros é necessário ter a certeza que o sucesso de nosso país é inerente também ao exercício da paciência, mais do que da administração do tempo, afim de não termos de sucumbir à tentação de agradar a todos.

O poder para a reforma de nosso país doente começa dentro de nós. Isso porque a humildade em aceitar os pequenos detalhes da vida como os mais relevantes é sempre mais importante do que os grandes planos.

*Neemias dos Santos Almeida é Professor e Pedagogo. Colunista, Articulista, Membro da ONG Atuação Voluntária, Escritor, Voluntário junto ao órgão internacional PNUD/Brasil, e ávido leitor que vive a internet e suas excentricidades desde 2001.

Redação

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