Carnaval de Olinda abre alas para a arte e filosofia

Por Antonio Nelson*

Teatro e filosofia em pleno carnaval! O palco é na Praça do Fortim do Queijo, em Olinda, Pernambuco. Amor ao Destino é o nome da peça escrita por Walesco Andrade. Nascido em Santa Rita, Paraíba (PB), Walesco tem paixão por filosofia e arte. O autor traz na noite pré-carnavalesca olindense, neste sábado 8, a partir das 18h, reflexões filosóficas sobre a potencialidade humana para pernambucanos e turistas celebrarem o carnaval além do culto hedonista. Confira a rápida entrevista realizada com Walesco por telefone e rede social, para o site do Luis Nassif!

Antonio Nelson – Como nasceu a ideia e por que tratar de filosofia numa peça teatral para o carnaval em Olinda?

Walesko Andrade – O evento nasce da exigência de guerra contra tudo que limita, apouca e paralisa a vida com valores decadentes. Pois, não devemos matar a potencialidade individual em prol do culto aos valores antigos. Com relação a tratar de filosofia numa peça teatral em pleno carnaval, ou em outra festividade, vejo como algo extremamente importante, pois reflexões filosóficas, que fazem pensar, evitam a massificação e trabalham em função da superação da espécie humana. Então, nossa manifestação artística vem fincada na ciência filosófica.

Antonio Nelson – A peça fundamenta-se na dualidade “bem/mal”? Como será o figurino e a interação com o público?

Walesko Andrade – Não! A peça e o evento fundamentam-se no além do bem e do mal. Pois, toda nossa produção artística expressa que toda moral, seja ela de qual povo for, não tem nada de verdade. Porque o bem e o mal são relativos, só basta visitarmos outros povos e costumes para compreender isso. Logo, absolutismo do bem e do mal, é um desejo infantil na crença de um “Deus” existente, que deixa de ser ideia humana, para ser um ser que impõe seu bem e seu mal.

Os figurinos dos personagens são roupas comuns do dia a dia, e faremos o possível para facilitar o acesso à compreensão do público.

Antonio Nelson – O carnaval vai além da cultura hedonista?

Walesko Andrade – Sim! Pois, prazer (felicidade) é sensação de poder, de vencer algo. Logo, para vencer, passamos por obstáculos desprazerosos, vivemos o desprazer. Então, não fragmentamos o processo. E nossa arte produz as duas coisas para um tipo de prazer ainda mais inocente, pois entende o processo.

Antonio Nelson – Com base nesta afirmação, a peça tem alguma adaptação com a cultura local?  

Walesko Andrade: De fato, aqui, o carnaval hoje se manifesta dessa forma. Porém, a sua origem é muito mais remota, e sempre passou por criações, sincretismo e adaptações. O que queremos é mudar o pensamento para criar um novo modelo de homem, mais forte e mais seguro da vida, que acredita em si mesmo e que irá criar novos valores. No entanto, esse pensamento, pode ser expresso em qualquer modalidade de representação artística. Seja ela nova ou a mais antiga. O que está em jogo não é acabar com o velho, e nem tão pouco deixar de incentivar a produção de novas culturas. Pois, cultura não é um cemitério de valores antigos, isso se chama culto. Cultura é cultivo, cultivo de novos valores. E, toda cultura nova foi produzida através de resistência. Quem sabe, daqui a alguns anos, isso faça parte da cultura vigente. Falar que não há adaptação, mesmo que distante, é esquecer que o riso, a dança, a alegria, o êxtase não fazem parte da cultura carnavalesca.

Antonio Nelson – Existe apoio da prefeitura?

Walesko Andrade – Existe sim, apenas “uma tapinha nas costas, vá em frente e boa sorte!” Depois de muita conversa e argumentos, mostrando que se tratava de algo inédito e de grande relevância para produção cultural de qualquer estado, onde o estado deveria abraçar a ideia, pois é muito construtiva para a formação de um estado mais avançado, onde o preconceito em manter a ignorância dos cidadãos, não passa de uma ideia atrasada e gera um atraso internacional, em relação às outras nações, em todos os sentidos. Então, não encontrei nenhum homem do governo, com olhos clínicos, que percebesse a importância da manifestação artística em prol do estado, que pudesse utilizar de recursos públicos, já que se trata de entretenimento para o público, em um evento aberto e de grande interesse social.

Antonio Nelson – Quem participa do elenco?

Walesko Andrade – As ideias, criadas pelos idealizadores. Pois entendemos que nenhum artista (o elenco), vai ficar acima da arte, nem da ideia, muito menos da vida. Pois, nossa arte simboliza o fim da vaidade do artista em prol, apenas, da sua ideia.

 

Kelzinha por Walter Damatta

 

*Antonio Nelson é jornalista.
Redação

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