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  1. Significado e perspectivas da crise atual, por Fabio Konder Comp

    Carta Maior

    08/11/2015

    Significado e perspectivas da crise atual

     

    Temos sido incapazes de entender que sofremos de uma moléstia que não é passageira. Ela não surgiu nem tende a desaparecer de uma hora para outra no Brasil

     

    Fábio Konder Comparato*

     

     

    Beto Rodrigues/FDRH

     

    Empregamos a todo tempo a palavra crise para caracterizar o lamentável estado atual de nossa política e de nossa economia, sem entender a semântica original do vocábulo. Ele foi criado por Hipócrates, a partir do verbo grego krito, kritein, cujos sentidos principais no grego clássico eram de separar ou discernir, de um lado, e de julgar ou decidir, de outro. Para o Pai da Medicina, krisis designava o momento preciso em que o olhar justamente dito crítico do esculápio conseguia discernir o tipo de doença que acometia o paciente, permitindo-lhe fazer com precisão o diagnóstico e o prognóstico.
     
     Infelizmente, temos sido incapazes de entender que sofremos de uma moléstia que não é passageira nem local. Muito pelo contrário, ela não surgiu nem tende a desaparecer de uma hora para outra no Brasil. Tampouco foi provocada por determinado partido, ou por este ou aquele político que ocupou ou ocupa atualmente o cargo de Chefe de Estado.
     
     Analisemos, pois, em primeiro lugar, a moléstia no âmbito mundial, para, em seguida, procurarmos diagnosticá-la na sociedade brasileira, sugerindo afinal um tratamento adequado.
     
    I
    A Consolidação Mundial do Capitalismo Financeiro
     
     A doença – séria e duradoura – cujos sintomas vieram agora à luz do dia, afeta na verdade o mundo inteiro e não pode ser tratada superficialmente; como se, diante de uma infecção generalizada, o tratamento do paciente se limitasse a ministrar analgésicos para reduzir as cefaleias. 
     
     Vivemos hoje – nós e todos os demais povos na face da Terra – as graves consequências da passagem histórica do capitalismo, como primeira civilização mundial da História, da sua fase industrial para a fase financeira (1). Se até o último quartel do século passado os empresários industriais comandavam a vida econômica, hoje são os bancos que ditam as regras, não só nessa área, mas também no campo político. 
     
     Em 2011, três matemáticos do Instituto Politécnico de Zurique, listaram os 50 maiores conglomerados empresariais do mundo. Desse total, 48 eram grupos financeiros (2).
     
    Já foram identificados 28 bancos, que controlam atualmente os mercados mundiais de câmbio, juros e valores mobiliários (3). Até a generalização das políticas neoliberais nas últimas décadas do século XX, os bancos dependiam dos Estados, que fixavam as taxas de juros e de câmbio. Hoje, tais valores são fixados pelos próprios bancos operadores, que impõem suas decisões de mercado aos bancos centrais, doravante autônomos em relação aos governos.
     
    Recentemente, uma ONG muito respeitada no mundo inteiro, a Global Policy Forum, afirmou em relatório que a ONU é manipulada por empresas transnacionais, algumas das quais violam abertamente direitos trabalhistas e normas ambientais.
     
    Mas o neoliberalismo global foi ainda mais além no campo da desregulamentação da atividade financeira empresarial. A fim de conter os efeitos da depressão econômica que tomou conta do mundo inteiro com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, os Estados Unidos haviam editado em 1932/1933 o Glass-Steagal Act, que separou as atividades dos bancos de depósito das dos bancos de investimento. Pois bem, em 1999 aquela lei foi revogada nos Estados Unidos, sendo concomitantemente abolida, nos demais países do globo, a referida separação entre aquelas atividades bancárias. Com isto, voltou-se a permitir aos bancos a utilização dos depósitos monetários de seus clientes para negócios deles próprios, bancos, inclusive a especulação nos mercados de valores mobiliários, de câmbio ou de mercadorias.
     
    Como sabido, a partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, a riqueza mundial cresceu em ritmo e intensidade jamais vistos na História. Esse crescimento, porém, vem recuando nitidamente no mundo todo, desde a segunda metade do século XX. Na China, o país de mais acelerado crescimento econômico das últimas décadas, a atividade industrial atingiu em 2015 o menor nível em 78 meses. 
     
    Os efeitos dessa desindustrialização geral já se sentem nitidamente no mercado de trabalho. Segundo relatório recente da OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, foram recenseados 47 milhões de desempregados nos 34 países que dela fazem parte. 
     
    É bem provável que se instaure desde logo, no mundo todo, uma fase de estagnação econômica generalizada, justamente devido à implantação mundial do capitalismo financeiro, em substituição ao capitalismo industrial. E a razão é óbvia: enquanto a essência da atividade industrial é a produção de bens, a atividade financeira por si mesma não produz nenhuma riqueza concreta de base. 
     
     Como se vê, a celebrada eficiência do sistema capitalista na produção de riqueza vê-se hoje totalmente desmentida. Com isso, a fantástica desigualdade social, por ele criada no mundo inteiro, já não tem a menor condição de ser reduzida, menos ainda eliminada. No início da Revolução Industrial, estimou-se que entre o povo mais rico e o mais pobre do planeta a diferença em termos econômicos era de 2 para 1; atualmente, ela é estimada em 80 para 1! Levando-se em conta o crescimento inexorável da população mundial e a estagnação geral da produção de bens, notadamente de alimentos, não é difícil visualizar o prognóstico sombrio de Malthus, feito no final do século XVIII. E as vítimas serão, como sempre, as camadas mais pobres do mundo todo.
     
    Ora, o que se constatou recentemente é que o capitalismo financeiro tem contribuído para acelerar o ritmo dessa desigualdade. Assim é que o banco Crédit Suisse, ao publicar em 2010 o seu primeiro relatório sobre a riqueza global (Global Wealth Report), estimava que os 50% mais pobres da humanidade possuíam menos de 2% dos ativos mundiais. Pois bem, no relatório do corrente ano de 2015, o Crédit Suisse constatou que a metade mais pobre da humanidade possui menos de 1% da riqueza planetária.
     
    Por incrível que pareça, se a grande depressão de 1929 provocou uma redução da desigualdade econômica mundial, tendo afetado todas as classes sociais, a crise de 2007/2008, da qual ainda não logramos sair, provocou um efeito contrário. Exemplo: nos EUA, o 1% mais rico da população absorveu 95% da riqueza produzida após a crise.
     
    As instituições financeiras, como se disse, por si sós não produzem riqueza alguma. Na melhor das hipóteses, elas servem de alavanca auxiliar da produção, mediante o serviço de crédito.
     
    Acontece que, no presente, os bancos passaram a concentrar cada vez mais suas atividades nos negócios puramente especulativos, reduzindo drasticamente o serviço de crédito. A lucratividade de tais negócios especulativos é muito maior. Mas, em compensação, eles suscitam um enorme risco de súbito e generalizado colapso, como se viu em 2008 com a brusca depreciação dos chamados derivativos, neologismo criado nos Estados Unidos para designar operações de crédito bancário, que servem de lastro à emissão de valores mobiliários em cascata, cujo valor não é contabilizado no balanço dos bancos. Estimou-se que em 2013 o valor total dos derivativos negociados no mercado mundial era de 710 trilhões de dólares; isto é, cerca de dez vezes o valor da produção anual de bens e serviços no mundo todo!
     
    Outro fator que veio reforçar a generalizada submissão dos Estados, no mundo inteiro, à dominação dos bancos foi a progressiva substituição dos tributos pela dívida pública, no financiamento das despesas estatais. Os papeis dessa dívida, como não poderia deixar de ser, são tomados pelos bancos e repassados aos investidores privados. Para estes, tal operação financeira provocou de imediato um duplo e substancial benefício: de um lado, o não-aumento (ou mesmo a redução) da carga tributária; de outro, a oportunidade de ganhos suplementares pelo recebimento de juros da dívida pública. Em pouco tempo, os empresários industriais, que já haviam se deixado seduzir pela especulação com valores mobiliários, foram se transformando, total ou parcialmente, em rentistas.
     
    A depressão global desencadeada em 2008 com o colapso do mercado de derivativos levou os bancos centrais dos Estados Unidos e da União Europeia, a fim de evitar as insolvências em cascata, a socorrer os bancos privados, tomadores daqueles papeis ditos “tóxicos”. Esse financiamento excepcional, como era de se esperar, não foi feito com recursos orçamentários, mas sim com a emissão de novos papeis da dívida pública. Para se ter uma ideia do que isso representa como risco de colapso do sistema econômico mundial, basta considerar os seguintes dados, recentemente divulgados pelo Fundo Monetário Internacional: o somatório da dívida pública dos Estados desenvolvidos do planeta, o qual em 2001 representava 75,8% da média do PIB total desses países, passou a corresponder em 2014 a 118,4% dele.
     
    Inútil dizer que os tomadores de tais papeis de dívida fazem parte do sistema bancário privado, e que este exerce enorme pressão sobre os Estados emitentes, a fim de que os juros não sejam reduzidos e, sobretudo, para que os devedores públicos não deixem de honrar os valores do principal no vencimento.
     
    Em suma, os Estados, que até o final do século XX eram reguladores das atividades dos bancos privados, tornaram-se atualmente seus reféns. O caso muito comentado da Grécia é o melhor exemplo. Feitas as contas, estima-se que os bancos alemães, tomadores dos papeis da dívida estatal grega desde 2010, obtiveram até 2015 um lucro de 100 bilhões de euros. Será ainda preciso explicar por que razão a Alemanha foi o Estado mais intransigente na negociação da dívida grega no Conselho da Europa?
     
     Vale a pena salientar tais fatos, pois eles explicam a natureza e as perspectivas de solução da atual crise política e econômica brasileira, como reflexo da crise global. Encontramo-nos, hoje, inteiramente mergulhados no capitalismo financeiro, cuja dominação é mundial.
     
    II
     
    A Submissão do Brasil ao Capitalismo Financeiro Mundial
     
    Em toda organização política, os principais fatores estruturantes sempre foram a relação de poder e a mentalidade coletiva, isto é, o conjunto de valores e costumes vigentes no seio do povo. Durante milênios, ambos esses fatores foram estritamente moldados pela religião. A partir do início da era moderna, porém, a adesão a uma fé religiosa foi perdendo importância na vida dos diferentes povos. Com o advento da sociedade massas, no final do século XIX, iniciou-se uma fase jamais vista na História, fase essa na qual a mentalidade coletiva passou a ser formada pelo sistema de poder político, de caráter não religioso na maior parte do mundo.
     
    Com efeito, ao se consolidar mundialmente a civilização capitalista em fins do século passado, a relação íntima entre esses dois fatores estruturantes da organização política foi radicalmente alterada. Desde então, o poder político passou a plasmar a mentalidade coletiva, utilizando-se, para tanto, do controle dos meios de comunicação de massa, o qual é exercido hoje, na quase totalidade dos países do globo, por oligopólios empresariais.
     
     Pois bem, entre nós, desde os primórdios da colonização portuguesa, o poder político efetivo – diferentemente do poder oficial, isto é, do poder legitimado pelo ordenamento jurídico – nunca pertenceu de fato, nem mesmo parcialmente, ao povo. Ele foi exercido, sem descontinuar, por dois grupos intimamente associados: os potentados econômicos privados e os grandes agentes estatais. Nossa oligarquia sempre apresentou, assim, um caráter binário: quem exerce o efetivo poder soberano não é apenas a burguesia empresarial, como sustentou a análise marxista, nem tampouco unicamente a burocracia estatal, como pretenderam os seguidores de Max Weber, a exemplo de Raymundo Faoro (4); mas ambos esses grupos, conjuntamente. 
     
    Esta, na verdade, a principal causa da corrupção endêmica que vigora no Brasil no plano estatal. Os grandes empresários e os principais agentes do Estado – incluídos agora nessa categoria os administradores de empresas estatais – sempre estiveram convencidos de que podem dispor, em proveito próprio, dos recursos financeiros públicos. “Nem um homem nesta terra é republico, nem zela e trata do bem comum, senão cada um do bem particular”, já afiançava o primeiro historiador do Brasil, Frei Vicente do Salvador, em livro editado originalmente em 1627 (5).
     
    Essa oligarquia binária não é, na verdade, uma originalidade brasileira, mas sim um traço essencial do sistema capitalista. Como salientou Fernand Braudel, que lecionou na Universidade de São Paulo logo após a sua fundação, o capitalismo só triunfa quando se une ao Estado, quando é o Estado (6).
     
     No curso de nossa História, tivemos uma sucessão de potentados econômicos privados, aliados aos principais agentes do Estado (inclusive magistrados): senhores de engenho; traficantes de escravos; grandes fazendeiros, sobretudo na região sudeste até a Revolução de 1930; empresários industriais; e, finalmente, controladores das grandes instituições financeiras.
     
     Na verdade, o fato mais relevante da economia brasileira nas últimas décadas tem sido o ritmo acelerado do processo de desindustrialização. Para se ter uma ideia disto, é importante considerar que em 1995 a produção industrial representava 36% do PIB brasileiro, quando vinte anos após, segundo dados apurados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, ela não ultrapassa 9%; ou seja, um quarto daquela cifra.
     
     Com isso, como não poderia deixar de acontecer, iniciou-se em 2015 um período de recessão econômica cuja conclusão é difícil de prever-se, repetindo-se assim, certamente de maneira agravada, o episódio ocorrido em 1930 e 1931, como consequência da depressão mundial provocada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929.
     
    Ainda como efeito da desindustrialização do país, o desemprego explodiu. Em julho de 2015, o total de desempregados no país somava 8,6 milhões, o número mais alto já assinalado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). E isto, considerando-se apenas os trabalhadores regulares, com carteira assinada.
     
    Intimamente ligado a esse dado é o fato de que, atualmente, meio milhão de brasileiros vive sem cobertura de plano de saúde, como informou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
     
     Na verdade, o Brasil encontra-se hoje nas mãos dos banqueiros. Os cinco maiores bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander) controlam 86% do total dos ativos financeiros; quando em 1995 o montante desses ativos por eles controlados era de 56%. No primeiro semestre de 2015, enquanto o Produto Nacional Bruto entrava em recessão, o lucro líquido contábil dos quatro maiores bancos do país crescia 46% em relação ao mesmo período do ano anterior.
     
     O desinvestimento, tanto público quanto privado, é um dos piores resultados da entrega total da economia brasileira ao controle das instituições financeiras, nacionais e estrangeiras. Em 2014, o investimento de empresas estatais no Brasil foi o menor em três anos. Ora, o ajuste fiscal proposto pela Presidente Dilma Roussef em seu segundo mandato veio estender esse encolhimento ao vasto setor das políticas sociais. Assim é que o orçamento fiscal da União Federal para 2016, já em si mesmo profundamente austero nessa área, acabou sofrendo no curso de 2015 um corte de verbas em nada menos do que 7 programas sociais, notadamente educação e saúde: um bilhão de reais no primeiro setor e mais de um bilhão no segundo. 
     
    Em compensação, como é óbvio, o governo federal não mexe no volume da dívida pública, nem reduz a taxa da Selic (sistema especial de liquidação e custódia), ou seja, o índice pelo qual são balizados os juros cobradas pelos bancos. Ora, do total do déficit orçamentário da União Federal em 2015, 96,9% são representados pelos juros acumulados da dívida e apenas 3,1% pelo excesso de despesas primárias em relação aos créditos!
     
    III
    Sugestões para o Enfrentamento da Morbidez Generalizada
     
     
     Diante de tudo o que se acaba de expor, surge inevitavelmente a indagação feita no livro publicado 1902 por um certo Vladimir Illich Ulianov, mais conhecido sob o pseudônimo de Lenin: – Que Fazer?
     
     Comecemos por reconhecer o fato de que a solução revolucionária, por ele apresentada como a mudança súbita e radical do poder na sociedade, modelo ao mesmo tempo tão louvado e temido no mundo todo até há pouco, já não convence ninguém. É que esse tipo de ruptura brusca da ordem social não só absolutiza o poder estatal, como deforma gravemente a mentalidade coletiva, suprimindo a consciência individual e social dos direitos fundamentais da pessoa humana.
     
    Foi o que se viu, de maneira dramática, com as revoluções bolchevique e maoísta, as quais deram origem aos regimes comunistas na Rússia e na China no século XX. Aliás, com a derrocada de ambos no último quartel do século, voltaram à tona, nos dois países, as velhas tradições de autocracia burocrática, doravante ligadas à integral adoção do sistema capitalista, contra o qual foram feitas as revoluções.
     
     Se quisermos, pois, iniciar o tratamento da moléstia que tomou conta da humanidade toda na época contemporânea – o capitalismo financeiro –, precisamos mudar de modo substancial e permanente as instituições de poder, bem como reformar a mentalidade coletiva, com base em novos valores que a elas se adequem. E tais valores, escusa dizer, são o oposto do individualismo privatista, próprio do capitalismo.
     
    Ora, isto não se faz e nunca se fez da noite para o dia. Em geral, tem-se em matéria de revoluções o modelo clássico, que é o da França no século XVIII. Mas o que se deixa na sombra, ao assim considerar, é o fato de que a preparação da Revolução Francesa principiou pelo menos dois séculos antes, com a mudança na visão de mundo, provocada pela Reforma Calvinista e a chamada Revolução Científica de Copérnico, Tycho Brahe e Kepler, seguidos por Galileu e Isaac Newton.
     
     Ensaiemos, pois, uma breve resposta, primeiro no plano mundial; depois, no quadro político e econômico brasileiro.
     
    O tratamento da doença no plano mundial
     
    A organização, ou melhor, desorganização do poder capitalista no mundo todo – não só o poder propriamente político, quanto o econômico, ambos complementados pelo poder ideológico – manifesta hoje sinais evidentes de impotência para enfrentar os problemas que se avolumam perigosamente, e que põem risco a sobrevivência da humanidade: o terrorismo, notadamente de índole religiosa; a destruição sistemática da biosfera; a probabilidade crescente de um colapso econômico mundial; entre outros.
     
    Ao mesmo tempo, a ética própria do capitalismo, a qual logrou moldar a mentalidade coletiva contemporânea em todos os povos da Terra – a saber, a realização do interesse material como finalidade última da vida – não somente denota uma incapacidade crescente para fazer face a tais problemas, como revela-se ainda um perigoso estimulante deles.
     
    Mas como proceder?
     
    No tocante à organização do poder mundial, começamos a sentir crescentemente o mesmo estado de espírito, que tomou conta da maioria dos governantes logo após o término da Segunda Guerra Mundial, e que propiciou a fundação da Organização das Nações Unidas em 1945, conforme enunciado na introdução da Carta de São Francisco. Ou seja, a necessidade de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra […], reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e mulheres, assim como das nações grandes e pequenas […], promover o progresso social e melhores condições de vida, dentro de uma liberdade mais ampla”.
     
    Para alcançar tais objetivos, o caminho a ser seguido só pode ser a construção de uma organização política mundial, fundada nos princípios fundamentais da República, da Democracia e do Estado de Direito. A saber: 1) a supremacia do bem comum da humanidade, em relação ao interesse próprio de qualquer povo em particular; 2) a atribuição da titularidade do poder supremo ao conjunto dos povos, reunidos em federação no plano mundial; 3) o estabelecimento de controles efetivos ao abuso de poder em todos os níveis, à luz do princípio supremo do respeito à dignidade humana.
     
    No concernente à superação da ética do egoísmo dito esclarecido, própria da civilização capitalista, é alvissareiro constatar que, atualmente, os líderes de algumas das maiores religiões do mundo vêm sublinhando a necessidade de se evitar que o princípio fundamental do altruísmo, comum a todas elas, venha a ser ensombrecido pela repetição mecânica de asserções dogmáticas (7).
     
    Em suma, importa agora mais do que nunca, no início deste novo milênio, revitalizar em todos os povos as duas Regras de Ouro, enunciadas pela primeira vez no chamado Período Axial da História (8), quais sejam: 1) não fazer aos outros o que não se quer que eles nos façam; 2) fazer o bem a todos, sem distinção de pessoas, sejam elas desconhecidas, amigas ou inimigas.
     
    Como iniciar no Brasil o tratamento da doença
     
     Para voltar ao conceito original de crise, excogitado por Hipócrates, o que importa não é fixar a atenção sobre o bom ou mau desempenho de nossos governantes para enfrentar os problemas socioeconômicos que se acumulam. Tal equivaleria a cuidar de um sintoma superficial da doença, sem diagnosticar sua verdadeira causa, que é a submissão do nosso país à soberania do capital financeiro, nacional e internacional.
     
     Não é mister grande acuidade de espírito para perceber que esse enfrentamento equivale a percorrer um caminho longo e repleto de dificuldades de toda sorte. Ele não se faz da noite para o dia, nem com base em improvisações.
     
     É indispensável e urgente atuar em duas frentes, intimamente relacionadas: a vida política e a vida econômica.
     
     No campo político, as mudanças devem ocorrer em relação aos dois fatores fundamentalmente estruturantes: a relação de poder e a mentalidade coletiva.
     
     O poder político, no Brasil, como acima salientado, sempre foi oligárquico, sendo exercido conjuntamente, em proveito próprio, pelos potentados econômicos privados e os grandes agentes estatais. Ora, atualmente, os titulares desse poder soberano acham-se na incapacidade absoluta de enfrentar a crise, pois são eles que as engendraram e são eles os únicos que dela se beneficiam. Seria ridículo esperar que as instituições financeiras aceitassem voluntariamente submeter-se ao poder regulatório do Estado, deixando que este voltasse a fixar as taxas de juros e câmbio a serem observadas no mercado, e a separar bancos de depósito e bancos de negócio, como dispôs o Glass-Steagall Act de 1933 nos Estados Unidos, editado em plena crise provocada pelo crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Urge encontrar um caminho para impor tais medidas aos atuais “donos do poder”.
     
     No terreno propriamente político, é da mesma forma urgente começar a introduzir em nosso ordenamento jurídico os mecanismos institucionais da democracia direta. O plebiscito, o referendo e a iniciativa popular legislativa, declarados no art. 14 da Constituição como instrumentos da soberania popular, acham-se até o presente – mais de um quarto de século após a promulgação da Lei Maior – totalmente bloqueados pelo controle oligárquico.
     
     Igualmente no campo político, permanece inquebrantável o oligopólio empresarial dos meios de comunicação social – grande imprensa, rádio e televisão –, utilizados como instrumentos do poder ideológico capitalista. A Constituição Federal, em seu art. 220, § 5º, declara que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Mas até hoje o Congresso Nacional não editou lei para regular essa proibição constitucional (9). 
     
    A mesma falta de regulação legislativa ocorre com a norma do art. 221, inciso I da Constituição, segundo a qual “a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão ao princípio de preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”. Escusa frisar que, numa sociedade de massas como a existente atualmente no mundo inteiro, a intercomunicação do povo por intermédio dessas instituições, livre de censuras e propagandas ideológicas dissimuladas, é indispensável para que o regime democrático possa funcionar a contento; sobretudo em sociedades profundamente desiguais sob o aspecto socioeconômico, como a brasileira.
     
    Em matéria propriamente econômica, assinalo algumas medidas que me parecem indispensáveis para enfrentar a crise atual.
     
    Importa assim, antes de tudo, dar início ao processo de reindustrialização nacional, por meio de estímulos fiscais e econômicos.
     
    Urge também regular o endividamento público. Assinalo, a esse respeito, que o art. 52, inciso VI da Constituição dispõe ser da competência privativa do Senado Federal a fixação dos limites globais do montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; mas sempre por proposta do Presidente da República. Inútil dizer que, submetidos à dominação bancária, nossos Chefes de Estado têm se revelado incapazes de atuar nessa área de acordo com os verdadeiros interesses nacionais.
     
    Assinalo, ainda, que o art. 163, inciso III da Constituição determina competir à lei complementar dispor sobre a dívida pública externa e interna, nela incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público. Até hoje, tal lei não foi editada.
     
    Eis, em resumo, o que me parece essencial para darmos início ao processo de mudança em profundidade de nossa vida política, econômica e social, no rumo de uma sucessão da vigente civilização capitalista, por uma civilização mundial realmente humanista.
     
    (1) Procurei estudar o capitalismo sob o aspecto global de uma civilização, e não apenas como sistema econômico, em A Civilização Capitalista – Para compreender o mundo em que vivemos, 2ª edição, 2013, São Paulo, Companhia das Letras.
    (2)  Stefania VITALI, James GLATTFELDER, Stefano BATTISTON, The network of global corporate control, PLOS ONE, [S.I.], Oct. 2011.
    (3) Sobre o assunto, o economista francês François Morin vem fazendo análises percucientes, com a previsão de um novo cataclismo financeiro, agora de proporções catastróficas. Cf. Un monde sans Wall Street? (Éditions du Seuil, 2011); La grande Saignée – Contre le cataclysme financier à venir (Lux Editeur, 2013); L’Hydre mondiale – L’oligopole bancaire (Lux Editeur, 2015).
    (4)  Cf. sua obra já clássica, Os Donos do Poder – Formação do patronato político brasileiro, 3ª edição revista, Editora Globo, 2001.
    (5)  História do Brasil 1500 – 1627, Livro Primeiro, Capítulo Segundo.
    (6)  La dynamique du capitalisme, Éditions Flammarion, Paris, 2008, p. 68.
    (7)  Vejam-se, a esse respeito, as considerações expostas pelo atual Dalai Lama em seu livro Ethics for the New Millenium, Riverhead Books, Nova York. Atente-se, igualmente, para os escritos e declarações públicas do Papa Francisco.
    (8)  Foi o período assim chamado por Karl Jaspers (Vom Ursprunt und Ziel der Geschichte, 1ª ed. Em 1949), compreendido entre os séculos VIII e II a.C., em que viveram alguns dos maiores sábios de todos os tempos: Buda na Índia, Lao-Tsé e Confúcio na China, os grandes profetas de Israel, os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles na Grécia.
    (9)  Tive a honra, em 2011, de patrocinar no Supremo Tribunal Federal, duas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão. Tais ações receberam parecer em grande parte favorável da Procuradoria-Geral da República em 2013, mas continuam aguardando ingresso em pauta de julgamento.
     
    *Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Principios-Fundamentais/Significado-e-perspectivas-da-crise-atual/40/34933

  2. Lula e Mujica recebidos como heróis na Colômbia

    Carta Maior

    08/11/2015

    Lula e Mujica recebidos como heróis na Colômbia

     

    Convidados pela CLACSO, Lula e Mujica chegam a Medellín para dizer que a América Latina apoia a paz, o que é muito importante para toda a região

        

    Por Darío Pignotti, enviado especial a Medellín

     

     

     Agência PT de notícias

     

    “Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica são dois mitos na Colômbia, são dois heróis”, conta o secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), Pablo Gentili, para explicar a importância de presença dos ex-mandatários no congresso do mais importante “tanque de pensamento” da região, que se inicia amanhã, em Medellín em momentos cruciais para o processo de paz entre a guerrilha e o governo.
     
    “A popularidade de Lula entre os colombianos é muito alta, muitos estão a favor de Lula porque conhecem sua história de vida, desde que era um operário metalúrgico e dirigente sindical, além de fundador do PT. Nas campanhas eleitorais, os candidatos colombianos usam Lula com exemplo, para conseguir votos. Os colombianos também adoram Mujica, o respeitam por sua vida digna, sua história de luta, sua atitude coerente contra o consumismo. Mujica nos demonstra como um homem que esteve na luta armada – e ficou preso durante treze anos pela ditadura uruguaia – depois optou pela política partidária, se transformando num grande líder, algo que pode acontecer com os guerrilheiros colombianos das FARC quando se inicie a etapa posterior ao conflito”, conta Gentili em entrevista para a Carta Maior.
     
    “Convidados pela CLACSO, Lula e Mujica chegam a Medellín para dizer que a América Latina apoia a paz, o que é muito importante para toda a região”.

     
    Medellín, Pablo Escobar e James Rodríguez
     
    Em Medellín, o clima passa rapidamente de uma chuva suave ao gostoso sol tropical, e depois volta a chuva suave, um revezamento que mantém no ar um ambiente muito “chévere”, como dizem as pessoas que vivem nos morros que rodeiam esta cidade.
     
    Nesta cidade o líder narco Pablo Escobar Gaviria construiu sua fortaleza, e também o ex-presidente ultradireitista e atual senador Álvaro Uribe – um aliado político dos Estados Unidos, que durante seu mandato tentou e fracassou na tentativa de eliminar militarmente os guerrilheiros que lutam a mais de meio século no país.
     
    “Esta cidade é conhecida em todo o mundo por ser o lugar onde viveu Pablo Escobar, mas Medellín também é a terra do clube Envigado, onde jogou James Rodríguez antes de ser comprado pelo Real Madrid”, diz o garçom de um bar na avenida Nutibara, por onde automobilistas e motociclistas circulam em alta velocidade, sintoma do trânsito violento do centro de uma cidade onde, nos setores periféricos, ainda há zonas controladas pelos paramilitares.
     
    O diretor do CLASCO, Pablo Gentili, destaca o significado político de que Medellín, um histórico reduto da ultradireita, seja visitada por milhares de intelectuais, acadêmicos e dirigentes políticos como o vice-presidente boliviano Álvaro García Linera e o secretário-geral da Unasul, o colombiano Ernesto Samper, ex-presidente do país.
     
    “A América Latina deve se comprometer com a paz na Colômbia, demonstrar que o país está atento às negociações realizadas em Havana”. Gentili confia que o acordo definitivo será assinado em março, como prometeram as duas partes depois da cúpula realizada em setembro, em Cuba, entre o chefe guerrilheiro Timochenko e o presidente Juan Manuel Santos. Aquela reunião foi patrocinada pelo presidente Raúl Castro e abençoada pelo papa Francisco.
     
    “Vemos que houve avanços concretos na Colômbia, permitiram superar travas que pareciam insuperáveis, mas ainda há alguns temas difíceis de resolver. Ainda assim, acho que ano que vem teremos um acordo de paz, a não ser que ocorra uma tragédia inesperada, que pode estar sendo planejada pela ultradireita”, comenta Gentili. “Será preciso enfrentar os obstáculos que a direita colombiana, militarizada e paramilitarizada, colocará no caminho. Não falta vontade de intervir para que a paz fracasse. O uribismo (tendência política ligada a Álvaro Uribe) está trabalhando contra os acordos”.
     
    Independente das ameaças políticas e armadas contra as negociações, o país “está vivendo um momento muito interessante, porque começa a se discutir o que virá na etapa do pós-acordo de paz. A Colômbia deverá enfrentar um longo processo para implementar a paz que está se negociando, necessitará uma arquitetura institucional muito complexa para construir essa paz, e também ideias, que serão discutidas neste congresso do CLACSO”.
     
    Pensamento próprio
     
    O congresso do CLACSO discutirá, a partir de amanhã e até a próxima sexta-feira, temas como a paz e a guerra na Colômbia, o processo de integração, o futuro dos governos progressistas e de esquerda na região, o modelo de desenvolvimento e inclusão social, as relações com os Estados Unidos e a ofensiva conservadora para desestabilizar as experiências pós-neoliberais, entre outros.
     
    “Na América Latina, temos uma grande capacidade de produção acadêmica autônoma, criativa, séria, rigorosa. Temos um pensamento próprio para ver o mundo e impulsionar uma disputa com uma postura politicamente comprometida”, observa Gentili.
     
    Este encontro estará marcado pela batalha das ideias que estão em curso, a que ganhou vigor no início da década passada, em paralelo ao desgaste da dominação unilateral norte-americana.
     
    “Ainda hoje em dia, quem produz a visão do mundo são os países hegemônicos. Diante disso, é preciso valorizar nossa produção intelectual. Nos últimos anos, a América Latina começou a ter intelectuais e profissionais atuando com mais influência em organismos internacionais como a ONU, onde se discutem programas, projetos sobre a desigualdade, a pobreza e o desenvolvimento”, opina Gentili. “Foi durante os governos de Lula, de Néstor Kirchner e de Hugo Chávez que nós começamos a ganhar espaço nesses âmbitos. O CLACSO também cresceu nos últimos anos. Duplicamos o número de instituições associadas e vamos seguir trabalhando nessa estratégia, porque a articulação dos centros de investigação latino-americanos é necessária, como também a articulação dos centros de investigação da África e de outros continentes”.
     
    Futuro
     
    “Espero o futuro de América Latina com preocupação, mas com confiança” afirma Pablo Gentili, para quem o CLACSO é uma usina de pensamento crítico, por onde circulam intelectuais com compromisso político, dentro de um espaço de grande diversidade.
     
    Pensando neste encontro de Medellín, ele diz não esperar por consensos unânimes sobre o futuro da América Latina, que prevê muitos debates e divergências, e que não se surpreenderá se as posturas, mesmo dentro do campo progressista, estiverem bastante distanciadas.
     
    “Um tema que vai provocar debates duros é o do modelo desenvolvimento atual na região, o meio ambiente e a mineração. O problema não é ter um diagnóstico de consenso sobre os rumos da América Latina, mas sim ter claro que não podemos retroceder ao neoliberalismo dos Anos 90”.
     
    Gentili recorda o fato de que a reunião de Medellín se realiza exatos dez anos depois da histórica Cúpula das Américas, onde Lula, Kirchner e Chávez frearam o projeto da ALCA, a área de livre comércio que os Estados Unidos queria impor ao continente.
     
    “O `Não à ALCA´ foi uma demonstração concreta da integração. Os presidentes disseram aos Estados Unidos `aqui estamos´, a partir dali, os países se uniram, avançaram, definiram uma agenda com vários temas, que incluiu até mesmo um programa educativo em comum. Se acompanhamos estes dez anos posteriores àquela cúpula, se vemos a evolução dos nossos debates, podemos entender a transformação ocorrida na realidade regional”.
     
    “Em 2005, houve um golpe de esperança. Nessa época, os governos populares e de esquerda não tinham grandes conquistas para exibir, ainda não havia resultados sociais, mas havia a vontade de construir um futuro”.
     
    Tradução: Victor Farinelli

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Lula-e-Mujica-recebidos-como-herois-na-Colombia/6/34930

  3. O arrependimento “slow-motion” de Lauro Jardim. Ofensa hoje, des

    Do Tijolaço

    O arrependimento “slow-motion” de Lauro Jardim. Ofensa hoje, desculpas em um mês

     

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    A coluna de hoje de Lauro Jardim um ato de arrependimento com aquele inconfundível sabor de “tomei processo e vou perder”.

    É o pedido de desculpas por ter dito, em sua estréia no jornal dos Marinho que o delator Fernando Baiano Soares disse ter pago despesas do filho de Lula, Fábio.

    Jardim sabia faz tempo que isso era uma mentira, mas só o corrigiu agora, passados 28 dias.

    Se foi aconselhado a agir assim pelos advogados é algo que não elide a falta de espontaneidade que, de fato, está contida num pedido de desculpas sinceras.

    Aliás, é evidente que os advogados da empresa entraram no circuito, porque orientaram a dar uma chamada de primeira página do tamanho prudente para que não fosse obrigado a fazer o desmentido com o mesmo escandaloso destaque que deu à mentira.

    Os 28 dias do ciclo de arrependimento do jornal e do jornalista mostram-lhes a insinceridade.

    São lágrimas de crocodilo, nada mais.

    Aliás, para O Globo publicar a verdade, em relação a Lula, só obrigado ou na iminência de ser obrigado pela Justiça.

    http://tijolaco.com.br/blog/o-arrependimento-slow-motion-de-lauro-jardim-ofensa-hoje-desculpas-em-um-mes/

     

     

  4. O “São Ladrão”. Ou como beatificar um canalha.

    Tijolaço

    O “São Ladrão”. Ou como beatificar um canalha

     

    saoladrao

    A edição da Folha, hoje, cuida, com esmero, de mais uma etapa de beatificação dos ladrões da Petrobras, a quem deve-se a “boa obra” de afundar a credibilidade pública não apenas da esquerda, mas da empresa mais vital para este país, que saquearam sem dó.

    Ou melhor, sem dó até agora, quando descobriram que o ar de contrição e a delação de “quanto mais gente melhor” podem deixar baratíssimo o esquema de ladroagem que promoveram, integraram e lhes deu dezenas ou centenas de milhões de reais.

    Paulo Roberto Costa, como naquele célebre episódio de sua sagração na CPI da Petrobras, invoca a família como origem de seu arrependimento:

    “Fechei a delação por orientação da minha família, a coisa mais valiosa que tenho hoje”, conta, sem confirmar que os policiais ameaçaram prender suas filhas, mulher e genros, beneficiários de contas na Suíça.”

    O pobre coitado, depois de ficar doente – com o melhor tratamento, pago pela empresa – coitado, viveu o inferno.

    “Não aguento esses políticos. Vou largar esse mundo!”

    Largou nada, ao contrário. Foi pego por causa de um “mimo” automobilístico de seu comparsa Alberto Youssef e se agarrou nos políticos, agora como boia de sobrevivência, delatando e fazendo o jogo dos seus carcereiros, que estão se lixando para um verme moral como ele, mas salivam pelos seus alvos políticos.

    Ele sobreviveu (de uma pneumonia), sua mulher implorava que ele largasse os políticos, mas ele se aprofundou ainda mais no jogo (de corrupção). Como tentaram derrubá-lo do cargo no período da doença, buscou apoio no PMDB para continuar na diretoria de Abastecimento. Conseguiu.”

    Bando de hipócritas. Todos enriqueceram com o dinheiro da ladroagem: mulher, filhas, genros, todo mundo tendo do bom e do melhor. Ninguém foi ser “alternativo” numa comunidade do interior do Maranhão, educar crianças pobres, ninguém foi ralar, ganhando a vida com o velho e bom suor do seu rosto.

    Diz-se um “leproso”, num escárnio imundo com gente que adoeceu por ser pobre, miserável, desassistida.

    Agora, comemora o fato de, em lugar de gritos de “ladrão”, ouvir exclamações de “parabéns” por ter delatado e, já já (em outubro) nem mesmo a tornozeleira escondida terá de usar, embora o roubo tenha sido de dezenas de milhões e continue vivendo folgadamente.

    E nossa mídia “moralista” vai construindo sua galeria de santos do pau-oco: os São Ladrão.

    São Paulo Roberto, São Youssef, o Beato Barusco e o Caboclo Baiano.

    http://tijolaco.com.br/blog/o-sao-ladrao-ou-como-beatificar-um-canalha/

     

  5. A quem Galeão Cumbica emprestou a aeroneve de Minas?

    gas)Rony Cócegas

    O personagem Galeão Cumbica ficou famoso ao imitar choro de bebê e mostrar a língua quando suas respostas estavam erradas: “Aí eu choro”, dizia ele. Rony Cócegas criou o personagem em 1990 para a Escolinha do Professor Raimundo. Ele atendia sempre ao chamado do professor com um avião de brinquedo na mão e o bordão “no ar”.

      

     

    A Folha deste domingo (8) publicou uma reportagem bombástica sobre o cambaleante e desesperado presidente do PSDB. “Aécio emprestou aviões de Minas a políticos e celebridades”, registra na parte inferior da sua capa – que geralmente não é exposta nas mais de 40 mil bancas de jornais pelo país. A denúncia até poderia ser estampada numa manchete garrafal, mas ai já seria pedir muito para a tucana famiglia Frias. De qualquer forma, a matéria é explosiva. Comprova que Aécio Neves, ainda quando era governador de Minas Gerais, utilizou aeronaves do Estado para transportar várias celebridades – como o ator global Luciano Huck, o ex-diretor executivo da TV Globo, o poderoso Boni, o falecido dono da decadente Abril, Roberto Civita, e até o mafioso Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF

  6. A suruba aérea de Aécio Neves

    Aeroneves: Huck, Sandy & Júnior, Civita e Ricardo Teixeira… voavam em aviões de Minas

    Fonte: No Blog os Amigos do Presidente Lula

    258 voos com amigos colunáveis, jogadores, artistas, empresários picaretas e gângsteres. A suruba aérea do Aécio! Isso   explica a complacência da mídia com Aécio  e por que artistas o apoiaram.

    Aécio Neves cedeu avião de Minas a políticos e celebridades. Todos fizeram campanha política para Aécio Neves na eleição do ano passado
     Nas asas do AécioAéreo, os amigos passearam. Mas quem pagou a conta foi o povo de Minas:Da Rede Globo, Luciano Huck, amigo do tucano,  a dupla Sandy e Júnior, os atores José Wilker (que morreu em 2014) e Milton Gonçalves, em 2008, além do ex-executivo da rede  Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em 2003.

    Dias antes de deixar o governo, em março de 2010, Aécio também cedeu o helicóptero para que o então presidente do grupo Abril, Roberto Civita (morto em 2013) e sua mulher, Maria Antônia. O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Ricardo Teixeira, encrencado com acusação de corrupção, também voou
    A folha relata que Aécio emprestou aviões do Estado de MG, pagos por contribuintes,a celebridades e empresários.Como seria  na presidência?.Leia

    Registros do Gabinete Militar de Minas Gerais mostram que durante o governo do tucano Aécio Neves (2003-2010) aeronaves do Estado foram cedidas para deslocamentos de políticos, celebridades, empresários e outras pessoas de fora da administração pública a pedido do então governador mineiro. Essas viagens não encontram amparo explícito na legislação que desde 2005 regula o uso das aeronaves oficiais do Estado, um decreto e uma resolução assinados pelo próprio Aécio. O tucano afirma, por meio de sua assessoria, que a legislação estabelece apenas diretrizes, que os voos foram regulares e atenderam a interesses do Estado. Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Folha obteve do governo de Minas,a relação dos 1.423 voos entre janeiro de 2003 e março de 2010 em que o nome do tucano figura como solicitante. Desses, em 198 voos não houve a presença nem de Aécio nem de agentes públicos autorizados pela legislação a usar essas aeronaves, como secretários de Estado, vice-governador e o presidente da Assembleia Legislativa. Dois desses voos solicitados por Aécio foram usados em 2004 —um ano antes da edição do decreto e da resolução— pelo apresentador da Rede Globo Luciano Huck, amigo do tucano, para se deslocar de Belo Horizonte ao interior de Minas. Um desses voos também teve a presença da dupla Sandy e Júnior, que na ocasião gravava em Minas um novo quadro para o “Caldeirão do Huck”, o “Quebrando a Rotina”. O programa mostrava os três percorrendo a Estrada Real de Minas Gerais. “O trio visitou locais históricos como os municípios de Ouro Preto e Santa Bárbara. Eles conheceram também paisagens exuberantes, como o Parque Natural do Caraça, e proporcionaram ao público cenas inusitadas como Sandy lavando louça e Junior montando em um jumento”, diz o texto de descrição do quadro no site oficial do “Caldeirão”. Outros integrantes e ex-integrantes da Globo usaram jatos e turboélices do Estado —os atores José Wilker (que morreu em 2014) e Milton Gonçalves, em 2008, além do ex-executivo da rede José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em 2003. Dias antes de deixar o governo, em março de 2010, Aécio também cedeu o helicóptero para que o então presidente do grupo Abril, Roberto Civita (morto em 2013) e sua mulher, Maria Antônia, visitassem o Instituto Inhotim, museu de arte contemporânea do empresário Bernardo Paz em Brumadinho (53 km de Belo Horizonte). O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Ricardo Teixeira também aparece nos registros como tendo usado por três vezes o helicóptero, em deslocamentos dentro de Belo Horizonte, e em outras três vezes um dos jatos para viagens de BH a São Paulo e ao Rio, entre 2006 e 2009. As viagens em que Aécio não figura como passageiro listam trechos para fora de Minas Gerais que têm ainda como passageiros vários políticos —com ou sem mandato— tucanos, de partidos aliados e até alguns adversários, outras autoridades federais dos Três Poderes e comitivas de jornalistas —a Folha esteve em um desses voos para acompanhar uma agenda de Aécio em Lavras. A reportagem obteve também os dados dos voos dos governos Anastasia (2010-2014), afilhado político de Aécio, e Pimentel (2015). No caso de Anastasia, há ao menos 60 voos sem a presença de autoridades estaduais. Há deslocamentos para o próprio Aécio, para políticos, magistrados estaduais, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e novamente para Ricardo Teixeira. Sobre os voos de Pimentel, nos seus primeiros nove meses de gestão um voo foi cedido para uma autoridade fora da administração, segundo os registros enviados pelo governo mineiro: um deslocamento do presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, e de sua mulher, Yara, de Belo Horizonte a São Paulo, em março deste ano. Na comparação, foram em média 2,3 voos mensais durante o governo Aécio, 1,3 voo na gestão Anastasia e 0,1 de Pimentel. Em setembro, a Folha mostrou que Aécio usou jatos oficiais do Estado para ir de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro em 124 ocasiões durante a sua gestão em Minas. (aqui) A legislação mineira que disciplina o uso das aeronaves oficiais se resume ao decreto 44.028 e à resolução 3, ambos de 2005. O decreto define que “a utilização das aeronaves oficiais será feita, exclusivamente, no âmbito da administração pública estadual (…) para desempenho de atividades próprias dos serviços públicos.” A resolução, que regulamenta o decreto, estabelece que as aeronaves “destinam-se ao transporte do governador, vice-governador, secretários de Estado, ao presidente da Assembleia Legislativa e outras autoridades públicas ou agentes públicos, quando integrantes de comitivas dos titulares dos cargos”.( a matéria foi publicado na Folha desse domingo em letras minúscula, no cantinho da página da Folha)

     

  7. O Grande Mauro Santayana

    O Brasil dos jatos e o Brasil da Lava Jato

    Para o Brasil da Lava Jato, do impeachment, da mídia seletiva e conservadora, o que defende a volta da ditadura, a tortura e a quebra do Estado de Direito, este é um país podre, quebrado, mergulhado até o talo na corrupção, política e economicamente inviável até não poder mais.

    Por Mauro Santayana, na RBA 

    http://www.vermelho.org.br/noticia/272498-1
     

     

    Roberto Stuckert Filho/PR   

    Para o Brasil dos jatos Gripen, cuja transferência de tecnologia a presidenta Dilma Rousseff foi negociar em outubro na Suécia, o Brasil da Força Aérea, da Aeronáutica, do Exército, da engenharia, da indústria bélica, da indústria pesada, da indústria naval, da indústria de energia, do petróleo e do gás, do agronegócio, da mineração, este é o país que, mesmo com todos os seus problemas, depois de anos e anos de abandono e estagnação, pagou a dívida com o FMI; voltou a pavimentar e a duplicar rodovias; retomou obras ferroviárias e hidroviárias; retomou a produção de navios e passou a fabricar plataformas de petróleo, armas, satélites, sistemas eólicos, mergulhando, na última década, em dos maiores programas de desenvolvimento de sua história.

    Seria bom se o Brasil da Lava Jato se concentrasse em prender os corruptos, aqueles com milhões de dólares em contas na Suíça, e não em libertá-los – como está fazendo com o Sr. Paulo Roberto Costa, dispensado até mesmo de sua prisão domiciliar –, no lugar de manter aprisionados, arbitrariamente, quase que indefinidamente, dirigentes de partido sem nenhum sinal ou prova de enriquecimento ilícito e executivos de nossas maiores empresas.

    A maioria delas ligada, direta ou indiretamente, a um amplo e diversificado programa de rearmamento e infraestrutura que engloba a construção de nossos novos submarinos convencionais e atômicos; de nossos novos caças Gripen NG BR; do nosso novo avião cargueiro militar multiuso KC-390 – a maior aeronave já fabricada no Brasil; de 1.050 novos tanques blindados Guarani; de nossos novos rifles de assalto IA-2; de nossos novos sistemas de mísseis de saturação e de cruzeiro, como o Astros 2020 e o AVTM-300 da Avibras – com alcance de 300 quilômetros; de nossos novos mísseis ar-ar como o A-Darter; de nossos novos radares como os Saber; de nossos novos e gigantescos complexos petroquímicos e refinarias de petróleo, como Abreu e Lima e Comperj; de nossas novas plataformas de petróleo com capacidade para produção de centenas de milhares de barris de óleo por dia; de nossas novas e gigantescas usinas hidrelétricas, como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte – a terceira maior do mundo; de nossa nova frota de navios da Transpetro, do tipo Panamax, com capacidade de transporte de 650 mil barris de combustíveis cada um; de nossas novas embarcações de guerra, que voltamos até mesmo a exportar; de nossos novos satélites de comunicações; ou de portentosas obras de engenharia como a ponte sobre o Rio Negro, em Manaus, e a ponte Anita Garibaldi, em Laguna, Santa Catarina.

    Esse é o Brasil da estratégia, do longo prazo, que a mídia conservadora nacional optou, há muito tempo, como fazem os ilusionistas das festas infantis, por esconder com uma mão, enquanto mostra como uma grande novidade, com a outra mão, o Brasil de uma “crise” e de uma “corrupção” seletiva e repetidamente exageradas e multiplicadas ao extremo.

    Há um Brasil que deveria estar acima das disputas político-partidárias, que cabe preservar e defender. Quem quiser fazer oposição precisa, se quiser chegar ao poder, mostrar, com um tripé baseado no nacionalismo, na unidade, e no desenvolvimentismo, que estará comprometido com o prosseguimento desses programas, fundamentais para o futuro da Nação. Com todos os seus eventuais problemas, que podem ser solucionados sem dificuldades, eles conformam um projeto de Nação que não pode ser interrompido, cuja sabotagem e destruição só interessa aos nossos inimigos, muitos dos quais, do exterior, se regozijam com o atual quadro de fragmentação e esgarçamento da sociedade, antevendo o momento em que retomarão o controle de nosso destino e o de nossas riquezas.

    Seria bom que o Brasil da Lava Jato – considerando-se os que comandam a operação homônima – trabalhasse com responsabilidade e cidadania em sua missão, separando o joio do trigo, prendendo quem tiver de prender, mas evitando, no lugar de incentivar, os danos colaterais para empresas e projetos estratégicos que empregam milhares de pessoas, nos quais já foram investidos bilhões e bilhões de dólares – protegendo e não arrasando, como já está ocorrendo, parte da indústria pesada e da engenharia nacional.

    Seria bom se o Brasil da Lava Jato – considerando-se os que torcem pela “operação” – tratasse a questão da corrupção sem partidarismo e seletividade, preparando-se para o pleito do próximo ano, já que não há melhor lugar do que uma urna para que o desejo e a determinação – e até mesmo a eventual indignação – de um povo livre, civilizado e democrático possam se manifestar.

    Seria bom, muito bom, se o Brasil da Lava Jato, o do impeachment, o de quem defende uma guerra civil e o “quanto pior, melhor” permitisse, em benefício do futuro, da soberania e da economia nacional, que o Brasil dos jatos Gripen, da oitava economia do mundo, dos US$ 370 bilhões de reservas internacionais, de uma safra agrícola de 200 milhões de toneladas, o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos – e que pertence não a um ou a outro partido, mas a todos os brasileiros – pudesse continuar a trabalhar.
     

     

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