Com sinais a Temer, Cunha emparedou Moreira Franco diretamente

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Eduardo Cunha mostra-se menos tolerante em livrar caciques do PMDB e a cúpula do governo de Michel Temer, enquanto é isolado pelas acusações do FI-FGTS na Justiça
 

Foto: Gustavo Lima – Agência Câmara
 
Jornal GGN – Sem grandes ruídos, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, foi ouvido como testemunha do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta terça-feira (16), pela Justiça Federal de Brasília. Mencionado pelo menos 34 vezes pelas delações da Odebrecht, sobretudo pedindo propina para a campanha eleitoral de 2014, e mais recentemente condenado a devolver R$ 2 milhões que teria desviado nas verbas para escolas do Rio de Janeiro, quando era governador do estado em 1987, Moreira Franco foi testemunha enfrentada por Cunha.
 
O caso é ainda outro: as acusações que recaem contra o ex-presidente da Câmara pelo PMDB dizem respeito a desvios no fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal. O hoje ministro de Temer e uma das principais sustentações do governo ocupou a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterais da Caixa de 2007 e 2010. Em suas perguntas enviadas a Michel Temer, Eduardo Cunha já havia arrolado o nome de Moreira Franco diversas vezes, indicando que o atual ministro e o presidente é que teriam participação nos ilícitos que hoje apenas o investigam.
 
A possível relação de Moreira Franco com o caso é lógica até para os leigos: depois dele, ocupou o mesmo cargo Joaquim Lima e Fábio Cleto, que hoje são réus junto com Eduardo Cunha na mesma ação e apontados como a conexão dentro da Caixa com o peemedebista. 
 
Por aproximadamente uma hora e meia, a defesa de Cunha remeteu diretamente ao atual ministro do mandatário as perguntas já feitas a Michel Temer. Desde o início do ano, o ex-deputado mostra que tem muito a entregar sobre o caso e involucra as acusações contra Temer e a cúpula do PMDB em seus questionamentos. Foram algumas das perguntas enviadas ao presidente da República: 
 
“Vossa Excelência fez alguma reunião para tratar de pedidos para financiamento com o FI-FGTS junto com Moreira Franco e André de Souza?”. “Vossa Excelência conhece Benedito Júnior e Léo Pinheiro? Participou de alguma reunião com eles e Moreira Franco para doação de campanha? Se a resposta for positiva, estava vinculada a alguma liberação do FI-FGTS?”. “Vossa Excelência teve conhecimento de alguma vantagem indevida, seja à época de Moreira Franco, seja posteriormente, para liberação de financiamento do FI-FGTS?”.
 
Diretamente, Cunha colocou em xeque a possível nomeação de Moreira Franco, por suposta indicação de Temer, para o cargo na Caixa Econômica e que possivelmente depois disso foi possível articular financiamentos com o FI-FGTS:
 
“Vossa Excelência participou de alguma reunião com eles [Benedicto Junior e Léo Pinheiro] e Moreira Franco para doação de campanha para os pleitos eleitorais de 2010, 2012 ou 2014? Vossa Excelência tem conhecimento de algum pagamento de vantagem indevida pelo senhor Benedicto Junior a Moreira Franco para liberação de financiamento do FI-FGTS à Odebrecht Transportes para associação no Porto de Santos? Vossa Excelência tem conhecimento de qualquer vantagem indevida solicitada ou recebida pelo senhor Moreira Franco para liberação, no âmbito do FI-FGTS, em qualquer projeto, incluindo o Porto Maravilha?”.
 
As mesmas perguntas feitas a Michel Temer por escrito foram pronunciadas em videoconferências nesta terça-feira (16), sem quase repercussão, diante do juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília. Algumas das respostas foram “eu não me lembro”, “eu já estava fora da Caixa [no período]”, “foram muitas reuniões”, ou negativas.
 
Mas além da participação de Moreira Franco no posto da Caixa, a defesa de Cunha ressaltou que o político era um dos coordenadores da campanha de Michel Temer, em 2010 e 2014. Exatamente neste momento, a conexão da videoconferência caiu por cerca de 10 minutos. Em determinado momento, o advogado do ex-deputado Délio Lins e Silva questionou se Moreira Franco sabia de um pagamento de US$ 4 milhões feitos no exterior para o FI-FGTS entrar na Odebrecht Ambiental, já que o hoje ministro estava à época na Caixa e, posteriormente, seu filho, Pedro Moreira Franco, trabalhou também na empresa.
 
Nervoso, o político respondeu irritado: “Claro que não. Essa é uma forçação de barra que o senhor faz. A insinuação que o senhor advogado faz é impertinente e indevida”. 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. VAI pensando  ..pois o BRASIL

    VAI pensando  ..pois o BRASIL sério vai ter que discutir isso

    De posse das delações desses peixes graudos ..comprovadas “formalmente” as maquinações (e já tem até gravação) ..hipocritamente ISENTAMOS o CONGRESSO ue “teria sido feito de besta” ..mas daí se apartam alguns líderes do GOLPE  

    caso contrário, a nossa democracia não tera forças pra continuar com esta MACULA que lhe expõe toda a fragilidade

    Dentre os que deveriam ser apartados (até pels provas já acumuladas) temos  ..TEMER, José Serra e Aécio Neves  ..Juca e Eduardo Cunha  ..GILMAR MENDES e Sergio Moro ..fora o caso de políticos aonde ficariam comprovadas a COMPRA DE VOTOS ..isso pra começar

    CADEI NELES !!!

     ..ou será que vc prefere fingir que não viu e anistiar todo mundo ?

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