Comparações entre o integralismo original, o bolsonarismo e os terroristas de hoje

Enquanto os integralistas do passado eram intelectuais - e atraiam juristas, acadêmicos, escritores para o movimento -, o bolsonarismo prega a superficialidade de um meme

Jornal GGN – Pedro Doria escreveu no jornal O Globo desta sexta (27) um artigo traçando paralelos entre o movimento integralista dos anos 1930, o bolsonarismo e os autoproclamados integralistas de hoje, que atacaram a sede do Porta dos Fundos e invadiram uma universidade no Rio de Janeiro.

Em síntese, o integralismo original guarda duas grandes diferenças em relação à extrema-direita que está no poder, e outra incongruência com os terroristas que queimam bandeiras antifacistas e lançam coquetel molotov contra produtora de vídeo.

O movimento que tinha Plínio Salgado como expoente era intelectualizado. Atraia para suas fileiras os grandes juristas, acadêmicos, jornalistas, escritores da época. Já o bolsonarismo desacata a universidade pública, rivaliza com dados científicos, alimenta teorias da conspiração em vez de racionalidade. Contra discussões aprofundadas, incentiva a superficialidade dos memes.

“A extrema direita brasileira dos anos 1930 não era como a de hoje. Plínio leu poesias suas durante a Semana de Arte Moderna de 1922 . Foi um romancista de importância no Modernismo. [Gustavo] Barroso já era membro da Academia Brasileira de Letras e fundador do Museu Histórico Nacional quando a AIB nasceu. ]Miguel] Reale foi talvez o maior jurista brasileiro do século 20. Eram, no comando, todos intelectuais. E atraíram gente do mesmo quilate. Foram integralistas o futuro bispo dom Helder Câmara, o folclorista Câmara Cascudo, o político trabalhista San Tiago Dantas e o poeta Vinícius de Morais”, escreveu Doria.

Além disso, enquanto o bolsonarismo finge que a democracia não é um obstáculo ao seu projeto autoritário de poder, os integralistas “consideravam o regime democrático fracassado, consideravam que o liberalismo político não tinha a força necessária para fazer frente ao avanço comunista. O exercício das eleições livres, um autoengano, um fracasso. Defendiam abertamente um regime autoritário.”

Já os integralistas de hoje têm uma característica similar aos do passado: são midiáticos. Mas diferem na defesa da volta da monarquia.

“Plínio era republicano e boa parte da AIB [Ação Integralista Brasileira, o maior movimento político de massas à direita, até o bolsonarismo] era republicana. Mas eles incorporaram em certo momento um movimento ultracatólico monarquista chamado Patrianovismo. Então o pé no catolicismo fundamentalista ancorado na imagem do imperador existia. Mas era um grupo pequeno.”

Doria ainda chama atenção para o “paradoxo” no integralismo. “O fascismo é revolucionário. Isto quer dizer que pretende uma mudança radical no Estado, no país. O patrianovismo era reacionário — queria um retorno ao Brasil agrário monárquico e distância daquele país industrial e urbano que se consolidava no início do período Vargas. Mas esta é mesmo uma característica da nova extrema-direita que aflora no mundo. Este paradoxo de ser simultaneamente revolucionário e reacionário.”

“Mas terrorismo não era da sua prática”, conclui.

Redação

8 Comentários

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  1. Há bem pouco tempo a PF me tratou como terrorista por causa de um Twitter.
    https://jornalggn.com.br/ditadura/de-quem-e-o-novo-dops-federal-do-temer-ou-da-embaixada-dos-eua/
    Agora ela não quer perseguir o terrorismo de extrema direita.
    Atirar coquetéis molotov numa produtora de vídeo inimiga do vagabundo Jair Bolsonaro é bem menos perigoso do que espalhar piados indesejados na rede internacional de computadores.
    O ciclo está completo.
    A liberdade de expressão é proibida e o crime praticado contra ela é premiado (senão patrocinado) pelos agentes do Estado.
    Estamos diante do mesmo fenômeno que Hannah Arendt relatou acerca do Nazismo: uma inversão completa da moralidade. No entanto, na Alemanha de Hitler isso foi obtido mediante a promulgação de Leis. No Reich bananeiro esse fenômeno se caracteriza pela interpretação criminosa da legislação que garante a liberdade de expressão e reprime a violência política.

  2. Pessoal gastando muito tempo com política comparada – o que não tem colocado à luz fenômenos atuais e específicos.
    Mas é interessante exercício de pensamento.
    Debruçar-se sobre o destroçamento da economia industrial em privilégio à economia da banca, never.
    Mesmo que esse fenômeno tenha dado base a elementos tão aparentemente (sic) dessemelhantes, como a eleição do Trump, o aumento da extrema-direita em países como a Inglaterra, à eleição de Trump, ao Brexit… e ao Bolsonaro. Sim, àquilo que só agora descobriram, a nova direita (que existe desde o Nixon)…
    Quem percebeu parte do problema foi o Michael Moore. Remando contra a maré da opinião geral.
    Esquerda brasileira: equivocando-se desde 2013.

  3. Um deus que precisa de uma defesa tão feroz e terrorista nunca foi Deus…
    ou responder assim à liberdade de expressão dos outros, explodindo-a, é coisa de quem não respeita sequer a própria liberdade religiosa que prega. O mesmo que explodir a própria fé

    são mais terroristas da fé do que seus defensores

  4. Bem mostra como termo “fascismo” foi deturpado. Bolsonaro nunca foi fascista, e nem ele nem a maioria dos comentaristas daqui parece ter uma noção exata do que foi o fascismo, um movimento revolucionário, totalitário, ultranacionalista e belicista. Hoje em dia, “fascista” virou um mero xingamento.

    1. sempre os vi como terroristas disfarçados…………………….
      aqueles que respeitam as leis de um país, mas que se julgam sem obrigação nenhuma de aceitá-las

      mil vezes mais perigosos que os fascistas históricos quando chegam ao poder por vias legais, pelo voto

  5. Elemento central do fascismo é o apelo a um passado glorioso, um povo uma raça fundadora que deve ser restaurada. O integralismo era branco, bem branco e elitista.

  6. Caro Pedro Mundim, conceda-nos o benefício da carência de recursos conceituais personalizados. Na verdade, continuaremos a usar o termo fascismo até que seja, gradativamente, substituído por ” bolsonarismo”, como definição do mal em si para toda esta devastação que a má sorte nos legou…

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