Cronica de Natal

O natal não significa nada para mim, mas confesso que adoro observar as pessoas fazendo o que elas aparentemente mais gostam de fazer: comemorar o natal. Portanto, ontem sai para fazer compras e observá-las.

A caminho do centro de Osasco, topo com duas figuras bem diferentes. O primeiro é um rapaz magro vestindo uma fantasia de homem-aranha, dançando alegremente forró no meio da rua com um chapéu de Papai-Noel para estimular as pessoas a entrarem num mercadinho que faz liquidação natalina. O outro é um homem forte e triste de camisa vermelha sentado cabisbaixo num banco de alvenaria em frente a um andador de idosos. Os dois resumem bem o espírito natalino dos trópicos. 

Um deles carregou peso até destruir a coluna vertebral e se tornar invalido aos 30 anos. O outro se apropriou de dois personagens distintos ao som de música nordestina com finalidade lúdica e lucrativa. Papai-Noel não foi generoso com ambos. O bom velhinho não deu educação e trabalho leve para um e baniu a coerência religiosa e cultural da vida do outro. O carnaval acabou cedo de mais para um, para o outro começou durante a festa mais importante do cristianismo. 

Sigo em frente. Numa igreja católica em reforma no Km 18 topo com uma bela imagem. O retábulo natalino de um pintor anônimo está provisoriamente montado sobre restos de andaime. Foi ali que há algumas décadas casou-se um amigo meu. No dia do casamento o padre chegou atrasado à cerimônia. Ele estava visivelmente bêbado. Entrou cambaleando, tropeçou no degrau do altar pegou o microfone e pediu desculpas aos presentes. “Acabei de sair de um churrasco, tomei algumas cervejas e esqueci completamente dos meus compromissos.”

O cristianismo é uma religião inacabada nos trópicos. Aqui o Natal vira carnaval, a desgraça do operário inválido geralmente não desperta a generosidade dos cristãos ricos e até um padre é capaz de estragar o principal rito de passagem do catolicismo. Sigo em frente… não sou cristão.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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