Descanse em paz, Marielle

Andei pela cidade e não vi nenhum ornitorrinco

também não vi nenhum político

viver como um homem comum era o meu delírio

era dia claro como uma flor

 

mas eu caminhava na obscuridade noturna

todos os números são irracionais

os homens também

uma favelada morreu com nove tiros

 

e ainda está cantando na tribuna

a ampulheta dói ao sol e à chuva

Marielle morreu sonhando com uma andorinha

um elefante é mais pesado do que uma rã

 

a terceira guerra mundial mata primeiro os pobres

uma criança sangra em cada esquina

um negro bêbado escreveu Policarpo Quaresma

ela morreu segurando uma flor em cada seio

 

a metamorfose da mulher à beira da vida

Marielle morreu exatamente às cinco da tarde

mas todos os relógios estavam quebrados

e tossiam como velhos compenetrados

 

era a quebrada da tarde e as aranhas teciam

os números complexos da vida simples

agora descansa em paz

mas a lápide é seca e pesa demais

 

Redação

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