Dilma é o demônio ou vem aí o golpe ?

 

 

Na noite se segunda-feira (5/9) ao pagar e comentar uma alta conta de medicamentos, recebi do entregador da farmácia a seguinte resposta:-” Infelizmente aquela miserável deixou a todos nós sem nada. O senhor não se preocupe. O pior já passou”.

O rapaz trabalha em condições precárias e faz parte do eleitorado que Lula teve mais dificuldade em atrair. Não falo dos ricos, mas de seus contrários: aqueles que trabalham sem muitas garantias e recebem menos que o necessário para uma vida digna. De todos aqueles os que trabalham, mas não gozam de todas as garantias trabalhistas previstas em nossas leis. Muitos agora se voltam contra a ex-presidente com uma certeza feroz fomentada por uma das maiores operações de agendamento já realizadas no jornalismo brasileiro. “Dilma é o demônio e tem culpa de todos os males do país desde seu descobrimento”, acreditam muitos. Essa conclusão simplista, aceita por boa parte do subproletariado urbano, é o resultado da atuação irresponsável de nossa grande imprensa desde 2005. Que tornou-se mais fanática depois da reeleição de Dilma.

 

Lula, depois de 2003, conseguiu superar sua rejeição pelos mais humildes de nossa sociedade e alcançar uma condição de identificação com a população que não pode ser replicada por nenhum outro político no Brasil em sua primeira eleição. Enfrentou muita dificuldade para isso. Perdeu para Fenando Collor, o “caçador de marajás”, por desconfiança entre os menos favorecidos de nossa população. Perdeu também para FHC, pelo mesmo motivo, até conquistar a confiança de gente que teve a mesma origem que ele. Ainda permanece forte candidato para o pleito de 2018 para a presidência deste país. Só uma condenação judicial poderá afastá-lo de mais um período no poder e não a primeira vez que faço esta afirmação.

No dia 4 de março deste ano, eu escrevi uma matéria contra a condução coercitiva de Lula. Não foi publicada. Tratava de dois fatos muito mal explicados pela imprensa: a conduta da revista “Isto É”, seu editor, que mais parece um inimigo pessoal de Lula e Dilma, e a do procurador Carlos Fernando de Lima, acusado (3/9/2003) pelo jornalistas Osmar Freitas Jr. e Amaury Ribeiro Jr. (um de nossos maiores nomes no jornalismo investigativo) de tentar, de modo deliberado, obstruir as investigações da Operação Banestado, onde grandes nomes do PSDB apareciam. Nosso jornalismo falhou ao não investigar as conexões entre as duas operações, a Lava Jato e a Banestado.

Dias depois da “prisão “ de Lula, a “Isto É” passou a vender seu fel antidemocrático em sua edição semanal impressa, enquanto à noite publicava na web acusações ao promotor. Perguntei à redação da revista, por-email, se havia duas equipes na pauta: uma para reportagem mais recente da semana, publicada nas bancas de jornais, e outra mais antiga sobre a atuação do promotor, de acordo com os relatos de Amaury Jr. Como explicar o comportamento esquisofrênico da revista? Por que alimentar suspeitas contra o procurador `a noite, e vender editoriais anti-pt durante o dia?

A pergunta foi retórica para denunciar perseguição política em andamento. Não demandava resposta. Que a revista não deu. A matéria também não foi publicada. Eu havia enviado duas à redação, e uma delas foi considerada “mais adequada” para aquele momento. A Lava Jato abusou da força contra Lula em março e agora alguns de seus componentes procuram calar vozes na imprensa, na mídia social e em blogs que defendem aqueles que foram eleitos em regime democrático e nunca pretenderam violá-lo.

Enquanto isso, a doutrinação antidemocracia continua. Para quê? Vem aí um golpe, como anunciou Luiz Nassif (6/9)? Esse jornalista é uma das vozes que têm sido alvo das tentativas de censura do ‘time’ da Operação do juiz de primeira instância do Paraná. O blogueiro e jornalista Marcelo Auler é outra delas.Todo o poder às baixas instâncias do judiciário, desde que nossos projetos estratégicos de desenvovimento e nossos programas sociais sejam mantidos. Assim como nossa liberdade de imprensa.

Não faz sentido produzir um cenário econômico de terra devastada (ou uma imagem dela) e depois tentar governá-la. A não ser que haja intenção deliberada de derrubar um regime e começar outro, fora dos parâmetros da democracia que conhecemos até 2014.

Nossa situação atual não é nada confortável. O afastamento de Dilma não foi amenizado pelo ‘fatiamento’ de sua acusação. Dilma saiu do governo e o país não mudou. O periódico “Brasil Post” (5/6) da rede de Ariana Huffington, publicou matéria onde dois juízes do Supremo admitem a revisão do processo de impeachment: Luís Fux e Roberto Barroso. Fux declarou:

Eu acho que, em princípio, nós, juízes, deferimos ao Parlamento a solução de questões políticas. Mas quando essas questões políticas são decididas com violação dos princípios inerentes ao Estado democrático de direito, é sindicável ao Supremo a apreciação dessas infrações.”

Se o “xadrez do golpe” do Nassif estiver correto, a hora é para fazer alianças com setores e instituições que ainda apoiam a democracia. Senado, Câmara e Supremo parecem impotentes diante da situação nacional. Nossos poderes estão a cair de podres.

Se isso não é sinal de perigo para grande parte de nossa população, então nossa situação é muito mais grave. Não sei se o jornalista do GGN está certo. Mas seus argumentos fazem muito sentido e há perigo no ar.

 

 

 

 

Redação

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