Especial Dia do Samba: os 50 livros essenciais da literatura do samba

Sambistas, pesquisadores, jornalistas e produtores de discos elegem livros fundamentais sobre Samba

Por Francisca Sousa

Quais são os livros básicos para quem quer conhecer a história do Samba? Foi em busca de uma resposta a esse questionamento que o pesquisador Eduardo Pontin, do Instituto Glória ao Samba (IGS), idealizou um projeto com a intenção de realizar esse levantamento. Para o desafio, Pontin convidou o sambista e pesquisador Fernando Paiva, também do IGS, para auxiliar a coordenar o projeto. Assim, a fim de fazer essas escolhas, os dois passaram a convocar os maiores pensadores sobre o tema, como Sérgio Cabral, Haroldo Costa, Nei Lopes e Rachel Valença, além de sambistas consagrados, como Cristina Buarque, que se lembraram de 183 livros. Dessa maneira, entre setembro e novembro do ano corrente, 80 especialistas diretamente ligados ao gênero escolheram 10 livros que considerassem ser os mais relevantes da historiografia do tema ou os mais importantes para as suas formações. O resultado é o projeto 50 Livros essenciais da literatura do Samba, que irá se tornar livro pelo IGS.

A reunião de nomes como os citados para se eleger os livros essenciais da literatura do Samba tem como resultado um documento seriíssimo para a posteridade como um guia bibliográfico. Trata-se de um documento que aponta livros que não poderão ser mais esquecidos por quem quiser conhecer ou escrever sobre a História desse gênero. Assim, em última análise, esse projeto é um guião elaborado por várias gerações de historiadores do assunto, acenando para um caminho comum, o tortuoso, incerto e apaixonante caminho do Samba.

Historicamente o Samba é um gênero musical jovem. Por essa razão, seus pioneiros nos deixaram num passado recente. Assim, hoje entre nós o que se tem são pessoas que conviveram com esses sambistas e procuraram documentá-los por meio de livros, discos, caricaturas e depoimentos de áudio. Trata-se da nata do Samba, que formam o elo mais fiel com o gênero em sua forma original. Assim como eles tinham urgência na coleta de informações junto aos senhores sambistas, hoje ocorre o mesmo com os pesquisadores veteranos.

 

OS JURADOS

Eles são sambistas, pesquisadores, jornalistas, produtores de discos e agentes culturais e pertencem a várias correntes: há os escritores que se dedicaram mais especificamente a pesquisa de campo nos morros e subúrbios cariocas, atrás de sambistas pioneiros das Escolas de Samba. Entre estes, destacam-se: Sérgio Cabral, 82, que chegou a publicar entrevistas inteiras com esses sambistas em seus livros; J. Muniz Jr., 85, que, a duras penas, se deslocava do litoral santista para o litoral carioca em andanças pelos morros, para ter com os sambistas; Marília Trindade Barboza, 72, autora de biografias de sambistas emblemáticos, alguns, inclusive, com quem chegou a conviver, como Cartola e Carlos Cachaça; Haroldo Costa, 89, muito ligado ao Morro do Salgueiro, a quem consagrou um livro.

Outros se dedicaram aos estudos da Era do Rádio (1930-1950), como Jairo Severiano, 92 e Nirez, 85, autores do levantamento da discografia brasileira em discos de 78 RPM. Agentes culturais, como o caricaturista italiano Lan, 94, autor de traços geniais de sambistas como Silas de Oliveira, Padeirinho, Alcides Dias Lopes e Geraldo Babão; um dos maiores produtores de disco da música brasileira, Pelão, responsável pelos primeiros discos de Nelson Cavaquinho, Cartola, Carlos Cachaça, além da série pioneira “História das Escolas de Samba” (Marcus Pereira, 1974-75), que contemplava Mangueira, Portela, Império Serrano e Salgueiro; Ricardo Cravo Albin, primeiro diretor-executivo do Museu da Imagem e do Som (MIS), responsável pela criação dos depoimentos para a posteridade em 1966, nos quais muitos sambistas pioneiros puderam registrar suas memórias musicais.

Entretanto, o primeiro desses jurados que começou a escrever sobre o gênero, foi Nirez, 85, que já em 1955 colaborava imprensa cearense e Haroldo Costa, 89, que em 1956 publicou um artigo na lendária Revista da Musica Popular, a convite de Lúcio Rangel. Também Seguido a estes, Sérgio Cabral, que a partir de 1959 começou a cobrir o período pré-carnavalesco das Escolas de Samba para o Jornal do Brasil e não largou mais o tema. O paulistano J. Muniz Jr., que escrevia para a imprensa santista sobre Samba desde 1960, sob o nobre pseudônimo de Lord Batucada. Outro que há muito milita pela nossa cultura popular é Francisco de Vasconcellos, 81, um dos últimos folcloristas vivos, seguidor de Mário de Andrade, Câmara Cascudo e Edison Carneiro, pois já em 1963, editava com recursos próprios o boletim Encontro com o Folclore.

Ainda compondo o júri, pesquisadores rebentos do Concurso Nacional de Monografia, posteriormente, Projeto Lucio Rangel (após a morte de Rangel, em dezembro de 1979), sobre música popular brasileira idealizado por Hermínio Bello de Carvalho e patrocinado pela Funarte entre 1977 e 1989. Dessa geração, fazem parte, entre vencedores e vencidos do concurso, Marília Trindade Barboza, Rachel Valença, Roberto Moura, Luis Fernando Vieira e João Baptista Vargens.

Também foram procurados autores que tiverem livros publicados sobre Samba frutos de teses acadêmicas, fenômeno que passa a ocorrer a partir da década de 1970, fazendo surgir alguns importantes autores, como Cláudia Matos, Andrea Ribeiro Alves, Hermano Vianna, Alexandre Augusto, Valéria Lima Guimarães, Sormani da Silva, entre outros.

Além dos já citados, também sambistas que enveredaram pela pesquisa, fazendo valer o seu lugar de fala, como Nelson Sargento, Nei Lopes, Rubem Confete e Heitor dos Prazeres Filho. Autores fora do eixo do estado do Rio de Janeiro, como Maria Apparecida Urbano, Olga R. de Moraes von Simson, T. Kaçula e Bruno Baronetti, pesquisadores do Samba de São Paulo.

Fechando o time de jurados, sambistas de diversos núcleos espalhados pelo Brasil, que têm em comum a paixão pelo Samba em sua forma tradicional, como Glória ao Samba, Terra Brasileira e Terreiro de Mauá (SP), Samba do Sindicatis (PR) e Produto do Morro (RJ).

Assim, o resultado é um time de jurados composto por pesquisadores e sambistas de diversas gerações, o que proporcionou uma visão diversa, fruto de vivências no mundo do Samba geracionais distintas.

INSTITUTO GLÓRIA AO SAMBA (IGS)

O projeto “50 Livros Essenciais da Literatura do Samba” será lançado em livro, pelo IGS, que nasceu em 2017, oriundo do agrupamento Glória ao Samba, que desde 2007 vinha realizando rodas de samba e ações culturais em prol da musicalidade dos terreiros dos primórdios das Escolas. Importante frisar que trata-se de uma instituição sem fins lucrativos, nenhum de seus membros lucra com qualquer quantia, todos têm a sua profissão no dia a dia e o dinheiro que entra no caixa do IGS serve para o lançamento de outros produtos sobre o gênero.

Sentindo a necessidade de difundir de uma maneira mais ampla a memória da obra dos antigos sambistas, hoje muito esquecida e de se produzir conteúdo para isso, o agrupamento decidiu pela criação do Instituto. Assim, produtos sobre Samba começaram a ser lançados, como o livro “Primeiras Lições de Samba”, do decano historiador José Ramos Tinhorão, publicado em 2018 e o LP “Portela 1959”, gravado neste ano pelo selo Festa, de Irineu Garcia, porém, nunca lançado no mercado fonográfico, que sairá no início de 2020.

 

OS IDEALIZADORES

Eduardo Pontin e Fernando Paiva fazem parte do Glória ao Samba há alguns anos. Existe hoje um movimento de pesquisa e execução para a preservação do Samba tradicional que se iniciou em São Paulo, por fins da década de 1990 e que vem se espalhando pelo Brasil.

Eduardo Pontin, 32, tem formação em filosofia, porém, entre outros campos do conhecimento, optou pelo Samba como sua grande área de atuação e desde 2010 pesquisa a fundo esse gênero musical: “Encontrei no Samba um espaço textual que não encontrei nas maiores obras da humanidade, em seus grandes pensadores. O Samba tem uma maneira de refletir e encarar a vida que a Filosofia desconhece”.

Fernando Paiva, 44, foi fundador da Roda de Samba de Uberlândia (MG) em 2007, que visava rememoração da obra dos sambistas pioneiros. Após a dissolução desse projeto, em 2014, passou a integrar de maneira definitiva o Glória ao Samba (já formava com o agrupamento desde 2010). Hoje Paiva é vice-presidente do Instituto Glória ao Samba. A inspiração para o atual projeto partiu de outro semelhante, “50 Discos de Samba que Você Precisa Conhecer”, o qual foi idealizado justamente por Fernando Paiva, juntamente com Rafael Lo Ré, no ano de 2015.

Para Paiva: “A literatura sobre Samba no Brasil, por incrível que pareça, não é tão rica quando o gênero mereceria que fosse. Temos excelentes livros, mas ainda faltam muitos períodos que poderiam ser retratados; muitos recortes de artistas e escolas que mereciam registros com maior profundidade”. Entretanto, enaltece o trabalho dos que à custa de muito sacrifício vêm se doando para a constituição de uma historiografia do gênero, “Pra você ter uma ideia, antes do livro do Humberto Franceschi sobre o Samba produzido pelos sambistas do Estácio, não se tinha nenhum outro registro mais aprofundado. Ficava tudo no campo da lenda”.

Segundo Eduardo Pontin, “A escassez bibliográfica sobre Samba foi por muitos anos motivo de protesto de musicólogos e pesquisadores pioneiros como Mário de Andrade, Lúcio Rangel e José Ramos Tinhorão. Hoje já não temos mais esse problema”. Ainda segundo Pontin, “O projeto não tem como finalidade a exclusão de um título em detrimento a outro, pelo contrário, a ideia do projeto é a inclusão de livros essenciais que hoje não constam na maioria das bibliografias de livros recém-publicados sobre Samba”. Concluindo, Pontin reflete “A responsabilidade do projeto é grande, pois muitas pessoas iniciam o hábito da leitura e tomam gosto por ela em razão de sua paixão pelo Samba”.

 

OS LIVROS

Sérgio Cabral teve o livro mais votado, “As Escolas de Samba do Rio de Janeiro” (1996), ampliação de livro publicado em 1974. José Ramos Tinhorão não chegou a ficar entre os dez mais, contudo, foi o autor com maior número de livros lembrado, seis ao todo. A pesquisadora Marília Trindade Barboza emplacou quatro livros, sendo o autor mais votado no somatório da pontuação de seus livros. As décadas com maior concentração de livros foram as de 1980 (11), 1960 (9) e 1990 (8).

O livro de Sérgio Cabral é resultado de uma pesquisa que se iniciou em 1960, quando ele escreveu uma grande série de reportagens no JB sobre as Escolas de Samba. Originalmente publicado em 1974, como “Escolas de Samba – o quê, quem, como, quando e por quê”, contava a história dos redutos Estácio, Mangueira, Distrito de Irajá, Serrinha, Salgueiro, com o auxílio de entrevistas na íntegra dos próprios sambistas. O livro fechava com uma linha cronológica dos concursos de carnavais entre as Escolas de Samba. Ampliado em 1996, dessa vez com o título de “As Escolas de Samba do Rio de Janeiro”, Cabral já abre o livro de modo cronológico, expandindo o conteúdo de cada Carnaval, ano a ano.

Em segundo lugar, “Noel Rosa – Um Biografia” (1991), de Carlos Didier e João Máximo, dupla sugerida, inclusive, por Sérgio Cabral. Trata-se da mais completa biografia de um sambista já escrita. Os autores foram a fundo, coletaram depoimentos com todos que precisavam ser ouvidos, realizaram um levantamento discográfico e de canções inéditas até então desconhecido. Enfim, um exemplo de livro definitivo. O terceiro colocado foi “Paulo da Portela – Traço de União Entre Duas Culturas” (1980), de Marília Trindade Barboza e Lygia Santos, que conta não somente a história do sambista, mas da Portela e dos carnavais até 1949, ano da morte de Paulo.

Em quarto lugar, “Samba de Sambar do Estácio – 1928 a 1931” (2010), do pesquisador Humberto Franceschi, escrito em torno do acervo de Francisco Duarte, que havia coletado depoimentos importantes com remanescentes da lendária Deixa Falar, a primeira Escola de Samba do Brasil, como Gaguinho e Athanázia, além de forte pesquisa do próprio Humberto. Conta a ascensão e queda dessa importante Escola.

Na quinta colocação, o pioneiro “Na Roda do Samba” (1933), de Vagalume (Francisco Guimarães), que narra e desmistifica a história de sambas e sambistas de então, principalmente os que eram ligados a Casa da Tia Ciata. Ao término do livro, uma série de grandes reportagens realizadas in loco nos morros do Querosene, Mangueira, São Carlos, Salgueiro, Favela regadas a muita batucada, um verdadeiro documento dos primórdios do Samba.

Em sexto lugar, “Partido-Alto – Samba de Bamba” (2002), ampliação de “O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical – Partido-Alto, Calango, Chula e Outras Cantorias” (1992), do sambista e pesquisador Nei Lopes. Nei fez um levantamento colossal de cantos tradicionais de domínio público entoados de norte a sul do Brasil e provou como o subgênero de Samba Partido Alto está absolutamente calcado nesses cantos populares espalhados pelo Brasil a fora.

Na sétima colocação, “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro” (1983), do cineasta e pesquisador Roberto Moura. É, sem dúvida, o livro com mais detalhes enriquecedores sobre a origem do Samba e seus primórdios, remontando à África, Bahia até a chegada ao Rio de Janeiro. Embasado em vasta bibliografia historiográfica, em muitos momentos, as conclusões são do próprio Moura, numa refinada e precisa análise dos fatos.

Em oitavo lugar, “Escola de Samba – Árvore que Esqueceu a Raiz” (1978), do sambista Candeia e do pesquisador Isnard Araújo. Conta a história dos primeiros carnavais da Portela e ganha um fundo político social, denunciando a invasão das Escolas por elementos estranhos e a possível solução para isso. É um autêntico manifesto das Escolas de Samba.

Na nona colocação, “Serra, Serrinha, Serrano: o Império do Samba” (1981), de Rachel Valença e Suetônio Valença. O livro narra a história do G. R. E. S. Império Serrano, desde os primeiros tempos na Prazer da Serrinha, a consolidação da Império, em 1947, até os carnavais atuais. Para isso, os autores coletaram depoimentos com fontes primárias como Molequinho, Tia Eulália e Mano Décio da Viola.

Fechando os 10 primeiros colocados, “Fala, Mangueira” (1980), de Marília Trindade Barboza, Arthur L. Oliveira Filho e Carlos Cachaça. O livro narra não somente a história da Estação Primeira, mas enfoca a evolução da vida no morro da Mangueira e seus desdobramentos, com depoimentos interessantíssimos.

Confira a lista na íntegra:

50 LIVROS ESSENCIAIS DA LITERATURA DO SAMBA

 

Levantamento realizado pelo Instituto Glória ao Samba

 

1) As Escolas de Samba do Rio de Janeiro – Sérgio Cabral (1974/1996)

2) Noel Rosa – Uma Biografia – Carlos Didier e João Máximo (1990)

3) Paulo da Portela – Traço de União Entre Duas Culturas – Marília Trindade Barboza e Lygia Santos (1980)

4) Samba de Sambar do Estácio – 1928 a 1931 – Humberto Franceschi (2010)

5) Na Roda do Samba – Vagalume (1933)

6)Partido-Alto – Samba de Bamba – Nei Lopes (1992/2002)

7) Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro – Roberto Moura (1983)

8) Escola de Samba – Árvore Que Esqueceu a Raiz – Candeia e Isnard Araújo (1978)

9) Serra, Serrinha, Serrano: o Império do Samba – Rachel Valença e Suetônio Valença (1981)

10) Fala, Mangueira – Marília Trindade Barboza, Arthur L. Oliveira Filho e Carlos Cachaça (1980)

11) Dicionário da História Social do Samba – Nei Lopes e Luiz Antônio Simas (2015)

12) Primeiras Lições de Samba e outras mais – José Ramos Tinhorão (2018)

13) Cartola – Os Tempos Idos – Marília Trindade Barboza e Arthur L. de Oliveira Filho (1983)

14) Uma História do Samba – as origens – Lira Neto (2016)

15) Samba – Sua História, Seus Poetas, Seus Músicos, Seus Cantores – Orestes Barbosa (1933)

16) Wilson Baptista – O Samba Foi Sua Glória – Rodrigo Alzuguir (2013)

17) Silas de Oliveira – Do Jongo ao Samba-Enredo – Marília Trindade Barboza e Artur L. de Oliveira Filho (1981)

18) Sambistas e Chorões – Aspectos e Figuras da Música Popular Brasileira – Lúcio Rangel (1962)

19) Feitiço Decente – Transformações do Samba no Rio de Janeiro (1917-1933) – Carlos Sandroni (2001)

20) Samba – O Dono do Corpo – Muniz Sodré (1979)

21) Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira (Volume I e II) – Jota Efegê (1978 e 1979)

22) O Mistério do Samba – Hermano Vianna (1995)

23) Escolas de Samba em Desfile – Vida, Paixão e Sorte – Amaury Jório e Hiram Araújo (1969)

24) Salgueiro: Academia de Samba – Haroldo Costa (1984)

25) Pequena História da Música Popular Brasileira – da Modinha à Canção de Protesto – José Ramos Tinhorão (1974)

26) No Tempo de Noel Rosa – O Nascimento do Samba e a Era de Ouro da Música Brasileira – Almirante (1963)

27) História Social da Música Popular Brasileira – José Ramos Tinhorão (1990)

28) Panorama da Música Popular Brasileira (Volume I e II) – Ary Vasconcelos (1964)

29) A Velha Guarda da Portela – João Baptista M. Vargens e Carlos Monte (2001)

30) Dança do Samba – Exercício do Prazer – José Carlos Rego (1994)

31) História do Carnaval Carioca – Eneida (1958)

32) Música Popular – Um Tema Em Debate – José Ramos Tinhorão (1966)

33) Um Certo Geraldo Pereira – Francisco Duarte, Nelson Sargento, Dulcinéa Nunes Gomes e Alice Duarte Silva de Campos (1983)

34) Império Serrano – Primeiro Decênio 1947/1956 – Francisco de Vasconcellos (1991)

35) Os Sons dos Negros no Brasil – Cantos – Danças – Folguedos: Origens – José Ramos Tinhorão (1988)

36) Do Batuque à Escola de Samba – Subsídios Para a História do Samba – J. Muniz Jr. (1976)

37) Candeia – Luz da Inspiração – João Baptista M. Vargens (1987)

38) Nosso Sinhô do Samba – Edigar de Alencar (1968)

39) Samba de Umbigada – Edison Carneiro (1961)

40) No Princípio Era a Roda – Um Estudo sobre Samba, Partido-Alto e outros Pagodes – Roberto M. Moura (2004)

41) Sambistas Imortais – Dados Biográficos de 50 Figuras do Mundo do Samba – Volume I (1850 – 1914) – J. Muniz Jr. (1978)

42) O Brasil do Samba-Enredo – Monique Augras (1998)

43) Memória do Carnaval – Hiram Araújo (1991)

44) Sambeabá – o Samba que Não se Aprende na Escola – Nei Lopes (2003)

45) O Samba Agora Vai…A Farsa da Música Popular no Exterior – José Ramos Tinhorão (1969)

46) São Ismael do Estácio – O Sambista que Foi Rei – Maria Thereza Mello Soares (1985)

47) Carnaval em Branco e Negro – Carnaval Popular Paulistano (1914-1988) – Olga Rodrigues de Moraes Von Simson

48) O Carnaval Carioca Através da Música (Volume I e II) – Edigar de Alencar (1965)

49) As Vozes Desassombradas do Museu – Pixinguinha – João da Baiana – Donga – org. Antônio Barroso Fernandes (1970)

50) Do Samba ao Funk do Jorjão – Spirito Santo (2011)

 

MERCADO EDITORIAL E O NICHO DO SAMBA

As 80 pessoas participantes citaram, ao todo, 183 livros. Entre os 50 mais votados, somente 20 encontram-se em catálogo, sendo que 30 estão há anos e até mesmo décadas esgotados, o que, para Pontin, pode mudar: Não é a ideia central do projeto, porém, esses 50 livros escolhidos podem dar uma aquecida no mercado desse segmento, pois dezenas dos livros citados estão há muito esgotados, sendo raro encontrá-los em sebos, alguns inclusive são vendidos a preços bem abusivos. Hoje não temos mais um Projeto Lúcio Rangel para suprir essas publicações, mas editoras podem se interessar na reedição de alguns deles, uma vez que há toda uma nova geração sedenta em conhecê-los”.

O próprio Instituto Glória ao Samba já começa a absorver uma parcela desses livros fora de catálogo e, com previsão de lançamento para o primeiro semestre do ano que vem, irá realizar uma edição fac-similar do livro mais raro da literatura do Samba, “Império Serrano – Primeiro Decênio 1947/1956”, lançado em 1991 e editado pelo seu autor, Francisco de Vasconcellos.

Gonçalo Júnior, um dos jurados, editor e escritor da Editora Noir demonstrou interesse na reedição de alguns dos livros citados, como “Samba”, de Orestes Barobsa; “Na Roda do Samba”, de Vagalume; “Nosso Sinhô do Samba”, de Edigar Alencar, além de “Fala, Mangueira”, de Marília Trindade, Arthur L. Oliveira Filho e Carlos Cachaça, este, inclusive, já apalavrado com a autora para a sua segunda edição com a Noir. Mas Gonçalo ressalta uma das dificuldades nessas reedições: “Como editor, o grande problema é localizar os herdeiros. Ary Vasconcelos, como é que a gente vai saber quem é o herdeiro? Tem esses detalhes também”.

 

COM A PALAVRA, OS AUTORES DOS LIVROS

Nelson Sargento, 95, sambista da Estação Primeira de Mangueira, enveredou pela pesquisa e publicou, em 1983 juntamente com o jornalista Francisco Duarte, Dulcinéa Gomes e Alice Duarte, “Um Certo Geraldo Pereira”. O sambista pesquisador, testemunha ocular de muitos dos fatos de seu livro, fala sobre as vantagens de ser ele mesmo um sujeito histórico nessa história toda: “Ajudei o Francisco (Duarte), porque o Francisco também era um bom jornalista. E acontece o seguinte, eu conheci o Geraldo Pereira, me dei um pouco com ele. As coisas que eu coloquei ali são verdadeiras”.

Morador da cidade litorânea paulista de Santos, J. Muniz Jr. fala de suas incursões para o Rio de Janeiro e das adversidades financeiras: “Eu não ia pra praia de Copacabana, não tinha dinheiro pra isso. O meu objetivo no Rio sempre foi o Samba. Comecei a ir pra lá com 19, 20 anos, em 1953 e, comecei a buscar Escola de Samba. Eu ia de trem de segunda classe que saia do Brás (São Paulo), pegava 7 horas da manhã e chegava no Rio 9 horas da noite, porque ia parando. Segunda classe, em banco de madeira. Eu ia pra Cinelândia, as vezes dormia sentado naqueles bancos de praça, fui pegando conhecimento. A primeira Escola que eu ouvi falar foi na Unidos do Salgueiro. Não era os Acadêmicos ainda, aí depois descobri o endereço e ia bater lá, com a cara e com a coragem. Encontrei o Pindonga no botequim”. Sobre as influências em sua formação, Muniz, 85, revela: “Eu andava com o livro “Música Popular – Um Tema em Debate” (do Tinhorão) no bolso”.

Para a feitura de seu livro, Sérgio Cabral, contou com o depoimento de sambistas pioneiros, fontes primárias do assunto: “As entrevistas também foram importantes, porque eu fui pegando gente que eu sabia que dali há algum tempo ia morrer, mais cedo ou mais tarde. Então, o que eles tinham pra dizer, eles disseram ali, não tiveram outra oportunidade. Nessa época eu queria fazer um tipo de entrevista que parecesse uma entrevista gravada, em que tudo aparecesse, inclusive defeitos e tal, como se fosse uma conversa, como se fosse ao vivo”.

Francisco de Vasconcellos, 81, fala de suas andanças pelo mundo do Samba na década de 1960, em outros tempos: “O meu Carnaval era papel e lápis, porque eu ia para as quadras de ensaios para fazer pesquisa, para levantar dados, para entrevistar pessoas. Essa vivência durou de 1964 a 1974. Ramón Russo (do Império Serrano) eu entrevistei na concentração no Carnaval de 1969. A concentração era na Candelária, nesse tempo que o desfile era na (Avenida) Presidente Vargas e ali havia espaço, havia tudo, e havia ali uma informalidade, digamos assim, do Samba. Dava pra você chegar e conversar e anotar, havia tempo e tranquilidade pra isso”.

Sobre a pesquisa de campo, Marília Trindade Barboza, 72, fala da sua importância e impasses que ela naturalmente cria: “Primeiro que você tinha que ir, se mudar para a comunidade. Aí criou um elo de amor que eu aprendi com eles isso. A pesquisa de campo foi tudo! E eu tinha que falar com muita gente, porque eles só falavam da memória deles e cada um tinha uma memória diferente, do mesmo fato. Aí os jornais eram decisivos”.

Rodrigo Alzuguir, 47, comenta sobre as facilidades e dificuldades de hoje na pesquisa: “Você consegue hoje em dia da tua casa. É lógico que tem que ter uma expertise também, não é fácil. As pessoas também dizem: “ah, é fácil ir lá na Hemeroteca (digital)”, mais ou menos também, porque é tanta informação que você tem que ter um domínio também do que é relevante, do que é confiável, do que não é, a busca também não é tão amigável, tem mil questões, eu acho que cada época tem a sua questão, mas resumindo, a responsabilidade é a mesma, você tá tratando de pessoas que são lendas da cultura brasileira”.

Sobre seu livro ter ficado em primeiro lugar no gosto dos votantes, Cabral comenta: “Eu não tinha noção da importância histórica dele, mas sabia da importância jornalística dele, isso eu sabia”. Marília, que na somatória de pontos de seus livros citados foi o autor mais bem votado da eleição, hoje diretora cultural da Mangueira, utiliza um verso do Samba de Mestre Gato “Quem Chegou Foi a Mangueira” para falar dessa celebração de sua obra: “Eu fiz numa época que não tinha internet e que tudo era presencial e afetivo. Quando eu digo “tem que respeitar meu tamborim”, na verdade é porque eu to usando o tamborim deles. Ele é meu também hoje, nesse sentido, tem que respeitar o meu tamborim, muito! Porque é o tamborim do Cartola, do Paulo da Portela, do Silas, eu aprendi a tocar esse tamborim, é isso”.

Para os pesquisadores dos dias atuais, os aclamados autores mandam o seu recado. Alzuguir fala de pontos essenciais: “Tem que ser obsessivo e não pode desprezar nada”. Muniz fala sobre a importância de quem veio primeiro: “Procurar ler muito os antigos, Vagalume, Orestes Barbosa, Lúcio Rangel, Ary Vasconcelos, Tinhorão”. Vasconcellos é objetivo: “Eu acho que você tem que se ater ao Samba como ele sempre foi e dentro das suas características fundamentais”. Cabral é simples e direto: “Tenha paciência, não desista. Pesquisa! Pesquisa! Pesquisa! Pesquisa! Pesquisa, até… cansar”.

 

SAIBA QUEM VOTOU

 

PESQUISADORES COM LIVRO SOBRE SAMBA PUBLICADO:

 

1 Haroldo Costa

2 Nirez

3 Sérgio Cabral

4 J. Muniz Jr.

5 Francisco de Vasconcellos

6 Ricardo Cravo Albin

7 Tárik de Souza

8 Jairo Severiano

9 Muniz Sodré

10 Ruy Castro

11 Marília Trindade Barboza

12 Lenin Novaes

13 Nei Lopes

14 Maria Lúcia Rangel

15 Luiz Fernando Vieira

16 Rachel Valença

17 Cláudia Matos

18 Nelson Sargento

19 Roberto Moura

20 João Baptista Vargens

21 Dulce Tupy

22 Maria Apparecida Urbano

23 Carlos Didier

24 Andrea Ribeiro Alves

25 Hermano Vianna

26 Alexandre Augusto

27 Monique Augras

28 Carlos Sandroni

29 Julio Cesar Farias

30 Heitor dos Prazeres Filho

31 Luiz Fernando Vianna

32 Oscar Bolão

33 Olga Rodrigues de Moraes von Simson

34 Luiz Antônio Simas

35 Onésio Meireles

36 Valéria Lima Guimarães

37 Spirito Santo

38 Lucas Nobile

39 Luis Carlos Magalhães

40 Gonçalo Junior

41 Guilherme Guaral

42 Rodrigo Alzuguir

43 Hilton Abi-Rihan

44 Márcio Gomes

45 Lira Neto

46 Raquel Munhoz

47 Janaína Marquesine

48 Sormani da Silva

49 Ruy Godinho

50 Bruno Baronetti

 

 

CARICATURISTA

1 Lan

 

JORNALISTAS QUE ESCREVEM SOBRE SAMBA

1 Rubem Confete

2 Moacyr Andrade

3 André P. de Carvalho

4 Artur de Bem

 

PRODUTORES DE DISCOS

1 Pelão

2 Aluízio Falcão

 

SAMBISTAS E MÚSICOS LIGADOS A PROJETOS DE PRESERVAÇÃO DO SAMBA

 

1Cristina Buarque

2 Alexandre (G. R. T. P. Morro das Pedras/SP)

3 T. Kaçula (Instituto Cultural Samba Autêntico/SP)

4 Danilo Ramos Silva (Terreiro de Mauá/SP)

5 Edinho Carvalho (Terreiro de Mauá/SP)

6 Ed (Terra Brasileira/SP)

7 Careca (Glória ao Samba/SP)

8 Fernando Paiva (Glória ao Samba/SP)

9 Rafael Lo Ré (Glória ao Samba/SP)

10 Paulo Mathias (Glória ao Samba/SP)

11 Eduardo Pontin (Glória ao Samba/SP)

12 Rafael Galego (Glória ao Samba/SP)

13 Téo Souto Maior (Sindicatis/PR)

14 Carlos Arzua (Sindicatis/PR)

15 Caio Badaró Massena (Produto do Morro/RJ)

16 Wagner de Almeida (Produto do Morro/RJ)

17 Alex Almeida (Samba de Terreiro 13/Santos-SP)

18 Marcelo Jungmann Pinto (Calango) (Samba Matuto/GO)

 

AGENTES CULTURAIS

1 Rodrigo Ferrari

2 Luiz Antonio Almeida

3 Thiago B. Mendonça

4 Vinicius Terror

5 Marcelo Sudoh

 

Luis Nassif

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