Esposa de Cunha torna-se ré de ação por corrupção do deputado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A esposa de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Cláudia Cruz, agora é ré na Operação Lava Jato, acusada de lavagem de dinheiro de mais de US$ 1 milhão por seu marido, o presidente da Câmara afastado. A força-tarefa da Operação Lava Jato na Vara Federal de Curitiba apresentou, nesta semana, a denúncia contra Cláudia, que foi aceita por Sergio Moro hoje [leia a íntegra dos documentos abaixo].
 
A denúncia fornece todos os indícios de prática de corrupção por Eduardo Cunha, que teria atuado com contas no exterior de sua esposa. Para os investigadores, Cláudia também “tinha plena consciência dos crimes que praticava e é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014), valor totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido”.
 
Por outro lado, quase o total do dinheiro depositado na conta em nome de sua esposa partiu de outras três contas suíças em nome de Eduardo Cunha: Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil).
 
Além de Cláudia Cruz, também foram acusados o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada – apontado logo no início das investigações como um dos beneficiários de políticos do PT, mas que com o desenrolar das apurações, soube-se que favoreceu o PMDB. Ainda foi acusado João Augusto Rezende Henriques, operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras – conforme revelou o GGN em diversas reportagens, e Idalecio Oliveira, empresário português proprietário da CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl).
 
Na última semana, Cláudia Cruz prestou depoimento aos investigadores, no mesmo dia em que a filha do casal, Danielle Dytz da Cunha, também concedeu informações. Ambas são alvos da Operação Lava Jato nas mãos de Sergio Moro, porque o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, autorizou o desmembramento do inquérito contra Cunha, levando as duas investigadas à primeira instância.
 
Se não fossem desmembradas, a ação da Justiça do Paraná aceita contra Cláudia também incluiria Eduardo Cunha na acusação.
 
Aos procuradores da República, Cláudia admitiu que a abertura da conta secreta no exterior em seu nome foi sugerida por Cunha e que era o deputado que “autorizava” os seus gastos em lojas de luxo. Disse, ainda, que não tinha “conhecimento da origem do dinheiro” e, até mesmo, não ter “ideia de quanto ganha um deputado federal”.
 
Apesar de a denúncia levar o nome de Cláudia como uma das participantes do esquema, com consciência dos atos, também traz elementos de provas de crimes praticados pelo peemedebista. Os procuradores, por exemplo, afirmam que as contas eram usadas por Cunha “em segredo, a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar propinas, produtos de crimes contra a administração pública praticados pelo deputado hoje afastado da presidência da Câmara”.
 
Citam diversas vezes o nome de Eduardo Cunha porque, apesar de a investigação contra o deputado estar nas mãos do Supremo, o caso relativo à sua esposa estaria diretamente relacionado, ambos trabalhando juntos para o esquema, indica a denúncia.
 
Um dos fins da conta Köpek, indica o MPF, foi para receber parte de uma propina de US$ 1,5 milhão que o marido teria recebido por viabilizar a aquisição pela estatal de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo, na costa do Benin, na África, em 2011. 
 
Assim, um total de US$ 854.387,31 foi usado por Cláudia, da propina, para comprar artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra foi usada para o pagamento de empresas de educação para os estudos dos filhos na Inglaterra e nos Estados Unidos. Cláudia também não declarou à Receita depósitos na sua conta secreta, em valores que ultrapassam os US$ 100 mil, entre 2009 e 2014.
 
Parte das revelações da denúncia partiu de documentos enviados pelos investigadores suíços ao Brasil, levantando provas e indícios a partir de quebras de sigilo bancário e fiscal e depoimentos de colaborações premiadas. O total da propina que Cunha e o grupo teria recebido para a negociação do campo de petróleo na África foi de, aproximadamente, US$ 10 milhões – o que equivale a R$ 36 milhões.
 
De acordo com a força-tarefa, “as provas mostram que os denunciados desviaram dinheiro dos cofres da Petrobras, os quais têm sido objeto de aportes feitos a partir dos cofres da União. Em última análise, há evidências de que Eduardo Cunha e Cláudia Cruz se beneficiaram de recursos públicos que foram convertidos em bolsas de luxo, sapatos de grife e outros bens de uso privado”.
 
A extensão do caso ainda será investigada, por exemplo, no papel da conta da filha de Cunha e outros investigados, como Jorge Reggiardo e Luis Pittaluga, que atuaram para abertura da conta Netherton.
 
Leia a íntegra da denúncia e da decisão de Sérgio Moro:
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. Assim é que deve ser

    Tratar as pessoas com respeito. Tomar depoimento sem ameaçar que se não contar rudo a filha….

    Assim é que se faz

    Então eles sabem com deve ser feito< que coisa!

  2. São tantos os nomes … Zelada…

    Lembro que algum político de peso dissera há algum tempo atrás, estar muito preocupado com Zelada. Com certeza era do PMDB, mas não consigo lembrar. 

  3. Vice em ação para salvar o presidente do Brasil

    Temer nega ação do Planalto para salvar Cunha, relata líder do DEM

    Presidente em exercício recebeu líderes governistas nesta quinta-feira (9).
    Para Temer, governo não é ‘ação entre amigos’, disse Pauderney Avelino.

    FERNANDA CALGARO | DO G1, EM BRASÍLIA

    O PRESIDENTE DO BRASIL, RATEUARDO CUNHA, E OUTROS ELEMENTOS DA SUA TROPA DE CHOQUE NA CÂMARA DOS DEPUTADOS (imagem não inclusa na matéria original).

    O presidente em exercício, Michel Temer, negou nesta quinta-feira (9), em reunião no Palácio do Planalto com líderes de sua base aliada, que tenha ocorrido qualquer ação do governo, no Conselho de Ética da Câmara, para tentar salvar o mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informou o líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM).

    De acordo com Avelino, Temer o autorizou a dizer que o governo “não é uma ação entre amigos.”

    Também presente ao encontro, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), negou que Temer tenha tratado do caso Eduardo Cunha na reunião.

    “Não cabe isso até porque é um assunto da economia interna da Câmara dos Deputados. O presidente dirige o Executivo, não tem por que procurar o presidente da República, que já tem as tarefas dele absolutamente definidas, para ter envolvimento na economia interna da Câmara”, afirmou.

    Adversários de Cunha alegam ter havido um acordo entre o Planalto e o PRB para impedir que a deputada Tia Eron (PRB-BA) vote na sessão da próxima terça (14) do Conselho de Ética na qual será analisado o relatório que pede a cassação do peemedebista.

    Considerada um voto decisivo na apertada disputa entre aliados e opositores do presidente afastado da Câmara, a parlamentar do PRB foi a única titular do Conselho de Ética que não compareceu à sessão na qual seria votado o relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO).

    “O que o presidente [Temer] disse é que não há qualquer interferência do governo na questão Cunha com o Legislativo. Não há qualquer interferência. E mais. Ele tem dito e me autorizou a dizer o seguinte: ‘O governo dele não é ação entre amigos'”, relatou Pauderney Avelino após o encontro com o presidente em exercício no Palácio do Planalto.

    O voto de Tia Eron, que ainda não declarou publicamente se é a favor ou contra a cassação de Eduardo Cunha, é importante porque pode mudar o placar no Conselho de Ética.

    Pelos cálculos de adversários de Cunha, se ela votar contra o relatório que recomenda a cassação de Cunha, o placar deverá ficar em 11 votos a 9 a favor do presidente afastado da Câmara. Com a eventual rejeição do parecer de Marcos Rogério, integrantes da “tropa de choque” de Cunha irão tentar aprovar um voto em separado que propõe uma pena mais branda ao peemedebista, de suspensão do mandato por três meses.

    Por outro lado, se Tia Eron votar favoravelmente à perda do mandato de Cunha, o placar ficará empatado em 10 a 10, e o voto de minerva caberá ao presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo, que já disse ser a favor da cassação.

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/06/em-reuniao-com-lideres-temer-nega-acao-do-planalto-para-salvar-cunha.html

  4. TEMER FEZ REUNIÃO SECRETA COM O PRB

    Temer articula para salvar Cunha e Renan

    Por Felipe Pena | EXTRA.GLOBO

     

    O procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a prisão dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, do deputado afastado Eduardo Cunha e do ex-presidente José Sarney por estarem obstruindo a operação lava-jato. De acordo com o jornal O Globo, o pedido está na mesa do ministro do STF, Teori Zavascki, há duas semanas, sem qualquer decisão.

     

    Qual seria o motivo da demora?

     

    Para começar, basta lembrar que o próprio Teori demorou seis meses para acatar o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara, o que, inclusive, foi essencial para a aprovação do impeachment. Sem as manipulações e chantagens de Cunha, Dilma ainda estaria no Palácio do Planalto.

     

    Em outras palavras, Teori não é apenas cauteloso, é pragmático. Assim como esperou o impeachment passar na Câmara para afastar Cunha, também vai esperar pela decisão do conselho de ética para prendê-lo.

     

    Sobre Renan, o caso é mais complicado. Além de obstrução à justiça, o presidente do senado também é acusado de formação de quadrilha e, por isso, seria preso junto com Jucá e Sarney. O problema é que o vice de Renan é o senador Jorge Viana, do PT, cuja ascensão desagradaria ao presidente interino Michel Temer, que acaba de conseguir a aprovação do aumento do judiciário junto ao Congresso. No STF, há poucos ministros dispostos a desagradar o interino.

     

    Portanto, para Teori, o ideal seria esperar pela decisão do senado sobre o impeachment de Dilma. Mas como a comissão especial não conseguiu apressar o rito, isso só acontecerá no final de agosto ou no começo de setembro. Então, apenas uma pergunta fica no ar:

     

    Teori repetirá o erro da procrastinação, como fez com Eduardo Cunha, ou agirá como verdadeiro magistrado e se restringirá ao cumprimento da lei, sem se preocupar com a política?

     

    A conferir.

     

    PS 1: Temer teve reunião secreta ontem com o presidente do PRB, partido da deputada Tia Eron, que vai decidir se Cunha será cassado ou não. Ou seja, se Cunha se livrar da cassação será graças ao presidente interino Michel Temer, cujo governo ilegítimo é controlado pelo deputado afastado. 

    Uma das estratégias combinadas entre Temer e o pastor do PRB é a falta da deputada na sessão de hoje. Em seu lugar, assumiria o deputado Marun, do PMDB, que é aliado de Cunha e foi o primeiro a chegar hoje. 

    Outra estratégia é aprovar as mudanças no processo de cassação na CCJ. Temer já deu seu aval ao presidente do PRB, que é seu ministro.

     

    PS 2: O presidente da Comisão de ética suspendeu a sessão, às 14:15h, após o desparecimento da deputada Tia Eron.

     

    * Felipe Pena é jornalista, escritor e professor da UFF. É autor de 15 livros, entre eles “No jornalismo não há fibrose”, finalista do Prêmio Jabuti em 2013.

    Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/contra-a-corrente/temer-articula-para-salvar-cunha-renan-19457230.html#ixzz4B6m2rmtS

  5. Caro Nassif
    Tudo isso prova

    Caro Nassif

    Tudo isso prova que ela é safada, mas uma safada da casa grande, portanto de acordo com a carta da Rosa Weber, ela tem esse direito e deve continuar em liberdade.

    Se fosse do PT, um pedalinho seria prisão perpétua, pois a carta assim o permite.

    As barracas do Skaf,  e seus patinhos, deve o apoio.

    Saudações

  6. Sergio Moro, fala grosso com

    Sergio Moro, fala grosso com o PT e muito fino com o resto.. por que será?

    Quem acredita que Moro combate a corrupção acredita em qualquer coisa.

    O super juizo prendeu a cunhada de Vaccari por “engano”…

    Mas a esposa de Cunha até hoje tá solta.

    Ele sabe que se ela ou ele fizeram a delação o congrresso fecha!

    Alias, seria a maior delação premiada do PLANETA!!!!

    E o PT sai de boa…

    Ou seja, Moro tá no golpe! 

    Moro não divulgou as conversas privadas de Lula e Dilma a toa.

    Ele cometeu um crime sabendo que estava cometendo um crime.

    Moro, o juizo golpista!

  7. Nem teve condução coercitiva.
    Nem teve condução coercitiva. Assim não tem graça.
    Queria mesmo era ver o japonês da PF prendendo a Dona Claudia, mas prenderam ele antes. Sem o japa a brincadeira fica sem graça.

    1. cruz

      Ré.  Agora ele tem a credencial para assumir um ministério do mimi da mama.    Melhor, cria um pra  claudinha: M A A – Ministério

      de Assuntos Aleatórios.

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