FHC e o “discurso de mestre”

Em seu novo artigo jornalístico FHC age como se sua autoridade fosse indiscutível. Suas palavras nos jornalões ecoaram como se fossem a mais cristalina expressão de uma verdade auto-evidente. Mas para mim, o material que ele produziu só desperta interesse como matéria prima de análise discursiva.

 

Em primeiro lugar, FHC não tem acesso aos dados governamentais. Ele não é capaz de fazer projeções econômicas satisfatórias (pois ele não é economista). As teorias econômicas que ele utiliza como se não fosse apenas um sociólogo com uma visão partidarizada da vida pública são os mesmos lugares comuns  divulgados pelos neoliberais que escreveram artigos pseudo-econômicos que foram desmentidos pelos principais fatos de 2013 (emprego em alta, inflação controlada, despesas públicas sob controle, exportações superando importações). 

 

Do ponto de vista discursivo, o texto de FHC é um exemplo perfeito e acabado de discurso de mestre, pois ele não quer saber absolutamente nada da realidade econômica brasileira concreta no presente momento. O que FHC quer é dominar a platéia/leitores para impor sua crença de que o atual governo está errado em não fazer o que foi feito quando ele mesmo era Presidente. Nesse sentido, FHC avoca para si um poder que não lhe foi conferido pela CF/88: o poder de moderar a ação governamental como se estivesse acima da Presidenta eleita ou da soberania popular que a investiu de mandato para governar sujeita apenas aos limites da CF/88. 

 

“O discurso do mestre é reconhecido como querer dominar, é um discurso de domínio, um discurso de consciência como dominante, como idêntica ao eu, funda uma eu-cracia, diz Lacan. O mestre é aquele que não quer saber nada porque não sabe o que quer. É preciso que as coisas funcionem conforme a lei. Identifica-se ao seu papel social.

 

“É um sujeito que se esconde atrás de um significante, de uma bandeira como sua junção social É aposição natural de cada um se identificar com um significante para ter um nome depois de sua morte” como bem observou Alain Grosrichard.”

 http://www.escolaletrafreudiana.com.br/UserFiles/110/File/artigos/letra1012/040.pdf

 

 

O texto de FHC faz rir qualquer um que tenha conhecimento rudimentar dos fundamentos constitucionais da Política no Brasil e das teorias de Lacan. A reação da imprensa ao discurso de mestre de FHC, porém, é muito mais risível.

 

O que se espera dos jornalistas é um mínimo de consciência crítica em relação à produção pseudo-intelectual das pessoas que estão mergulhadas no mundo político-partidário (caso de FHC) ou que pretendem nele intervir de alguma maneira. Até o presente momento, o novo artigo de FHC somente angariou aplausos e eco. Isto certamente produzirá nele e nos seus partidários a mesma ilusão de segurança que acarretou duas derrotas eleitorais de José Serra e uma de Geraldo Alckimin (felizmente, eu digo). 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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