Ficha Limpa, coronéis e República Velha.

O julgamento recente sobre a tal da Lei de Ficha Limpa, um atentado à Constituição e ao Direito basilar da presunção da inocência jogado na lata do lixo, justo pela Corte constituída pra zelar pela Constituição me fez lembrar várias histórias envolvendo a Justiça Eleitoral e eleições em geral. De uma destas, jamais esquecerei. Trata-se do traumático batismo eleitoral de meu pai, que tinha idade pra ser meu avô.
Nascido em março de 1914, numa época em que não era comum documentos pessoais além do batistério que, como o nome diz, trata-se do assento de batismo na Igreja Católica, teve ele a idade aumentada em três anos para ser alistado para as eleições de 1930, a da fraude total que desembocou na Revolução do mesmo ano. Foi encaminhado ao cartório da cidade domicílio e lá feito o título e o registro de nascimento, devidamente alterado para 1911. No dia da eleição tomou a montaria e partiu para a cidadezinha a vinte quilômetros de distância, devidamente guiado pelo cabo eleitoral e na companhia dos aptos a votarem porque de maior, alfabetizados e com posses declaradas o suficiente para ser enquadrado como eleitor. Lá chegando foi recebido pelos políticos locais e devidamente instruído mais uma vez sobre como deveria proceder. Entrou na fila de votação e, na visão de adolescente dele, tudo ia bem. De repente, o segundo eleitor à sua frente, ao lançar o nome do candidato, que se fazia abertamente, em cima da mesa de votação, recebeu um sopapo que caiu sentado. Antes mesmo que meu pai pudesse entender o que ocorria, o agressor já também levava sopapos de outros. Por fim alguém puxou um punhal e, graças à destreza de um policial que também tinha lado, mas que também tinha a obrigação de impor a ordem, este, ao dar um tiro pra cima deixou perplexo todos os presentes, inclusive os brigões, que foram devidamente apartados e ninguém foi preso ou mesmo desarmado. Meu pai, trêmulo, votou e ao sair é que soube o porquê daquela confusão. É que o primeiro eleitor a apanhar havia “traído” o partido em que nascera e se criara sua família, ou seja, resolveu optar pelo outro lado. Como o sistema era todo organizado para não haver mobilidade alguma; sempre ganharem os mesmos ou quem os mesmo quisessem, qualquer tentativa de mudança resultava até em mortes. É o que pretendem Os Donos do Poder com essa Lei de Ficha Limpa.

Redação

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