Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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  1. Será que o Paraná merece mais

    Será que o Paraná merece mais isso?

     

    Um coronel comandante da Polícia Militar do estado produziu a seguinte pérola reclamando da comoção pela morte de Marielle (e Anderson): que se deve chorar pela morte de cidadãos de bem (ou Benz?), tipo os policiais que falecem no exercício de suas atividades ao socorrerem os (verdadeiros?) cidadãos e não por uma mãe negra (insinuada como solteira) e declaradamente homosexual. Quem desejar ver o artigo com foto da caricatura em pauta:

    http://www.brasil247.com/pt/247/parana247/347144/Coronel-da-PM-reclama-da-comoção-pela-morte-de-Marielle.htm

     

    Vou assumir, a priori, que o coronel é um policial honesto e zeloso cumpridor de suas obrigações e que controla adequadamente a violência de seus comandados. A primeira coisa que me ocorre é que ele se arvora acima do Senhor Deus do Universo quando, como quem, nunca atirou pedra alguma, julga o merecimento ao reconhecimento e à vida de uma pessoa eleita por 46.000 votos. É claro que se fosse um(a) jovem negro(a) pobre da periferia das cidades ou do campo, desse(a)s que morrem todos os dias, não haveria confusão alguma, bastava plantar uma arma na mão ou alegar, sem maiores consequências que fora bala perdida disparada por traficantes…

     

    O segundo ponto é que se um policial morre em ação, imediatamente toda a corporação se empenha em esclarecer e punir os responsáveis (a não ser que tenha sido executado pelos próprios colegas). No caso de jovens negros pobres ocorre o citado no parágrafo anterior: arma plantada na mão, bala perdida de traficante, etc.

     

    O terceiro ponto é que existe sim a banda podre das polícias e, certamente, parte dos policiais mortos por bandidos é que eles ficaram “gulosos” demais. Os filmes Tropa de Elite 1 e 2 nos mostram esses fatos.

     

    O quarto ponto é que, especificamente, Marielle estava investigando a existência das chamadas milícias compostas por policiais corruptos (o Paraná não está vivendo a festa do combate à corrupção? Ou é só uma brincadeirinha?) e ex-policiais expulsos da corporação por crimes. Ora ao que saibamos o motivo da intervenção federal no Rio de Janeiro seria(?) melhorar a segurança da população combatendo o crime organizado e ao que me consta, milícia é crime organizado. Basta nos lembrarmos do que aconteceu na Colômbia e que ocorre no México atualmente, para se constatar o perigo que essas organizações representam para o próprio estado.

     

    Isso posto sobre o crime em si, vamos ao que está, infelizmente, sempre por trás dessas agressões e ódio ao povo de fenótipo negro. Digo fenótipo e não genótipo, porque está mais do que provado cientificamente que somos uma única raça: a sapiens sapiens. Os olhos puxados ou azuis e pele clara são adaptações adequadas à regiões mais frias do planeta. O porque determinados povos avançaram mais em certas tecnologias que levaram a melhores armamentos e assim conquistaram e submeteram outros povos está explicado no livro de Jared Diamond – Germes, Armas e Aço. As Américas tinham civilizações (América Central e Inca) mais adiantadas em vários aspectos que as europeias, mas uma das razões de sua escravidão foi a inexistência de animais sociais de grande porte que serviam como depósitos de doenças para formar imunidades. Tem muito mais coisa interessante e inesperada nesse livro! Está lá explicado porque o povo negro da África Meridional foi escravizado pelos povos da África Setentrional.

     

    Vamos dar um salto de séculos e focar no problema brasileiro. Portugal começou a era das grandes navegações, por várias razões: foi o primeiro reino unificado de toda a Europa ao expulsar o Islã em cerca de 1100 da nossa era, havia forte presença dos Templários no país (as caravelas ostentavam a cruz gamada – símbolo templário), que eram detentores (primeiros banqueiros) de imensa riqueza e D. Henrique (?) o Navegador empreendeu uma expedição bem sucedida ao Norte da África de onde retornou com muito ouro. Portugal espalhou-se, então demais, na luta para conseguir uma rota de navegação para o oriente em busca das caras especiarias que garantiriam seu futuro como um grande entreposto comercial. Ocorre que a Espanha expulsa também os árabes e por uma sorte enorme dá de cara com os grandes impérios americanos abarrotados de ouro e a literal montanha de prata de Potosi/Bolívia. Os chineses, a partir de então, começam a somente aceitar a prata nas transações comerciais. Portugal tenta nova incursão de saque no Norte da África e perde a guerra e seu rei D. Sebastião. Então começa o longo declínio do império português logo nos tempos em que havia a colônia Brasil para explorar. Sem ouro, prata e diamantes (que só seriam descobertos quando pouco adiantaram), Portugal parte para a constituição do que seria a primeira multinacional do planeta: o ciclo completo da cana-de-açúcar. Entretanto, como não havia mais dinheiro, começa a terceirização da colonização do Brasil, isto está bem contado no livro de Eduardo Bueno – Capitães do Brasil. Na falta de máquinas (que ainda não tinham sido inventadas) a solução foi o braço escravo: primeiro o índio e depois o negro africano. Aí começam nossas mazelas atuais…

     

    O livro de Jessé Souza – A Elite do Atraso nos mostra em detalhes a história com profunda análise, de quem fez seu doutorado na Alemanha, da escravidão no país. Profundo admirador da obra de Weber (e não de Karl Marx como alguns tentam imputar), Jessé nos conduz nas origens de nossos preconceitos, não só aos negros, mas também a todo trabalho de cunho manual, o qual é enaltecido por toda a civilização europeia. Explica o porque da menor eficiência do trabalho do negro já liberto na lavoura em relação ao do recém emigrado (1800 para cá), que pode ser entendido à luz do trabalho de Skinner (o reforço positivo versus a chibata no lombo). Além disso nos mostra como os mestiços, que vieram depois a se constituir na classe média, aproveitaram a preguiça e desprezo das elites escravocratas dominantes e estudaram aprendendo a maioria dos ofícios que hoje mantém a sociedade. Não irei aqui explorar a estupidez da classe média (o que o autor faz) ao lutar contra seus próprios interesses defendendo pleitos dos poderosos, mas quero focar no preconceito.

     

    Como já disse no início somos uma única raça, não importa a cor da pele. Modernamente com a difusão global da informação, o que torna pessoas em viáveis ou não ao convívio atual é a educação. Nos EUA, os estados do sul, que dependiam fortemente do braço escravo, em suas lavouras, ao perderem a guerra civil ficaram muito mais atrasados que os estados industrializados do norte, foi a descoberta do petróleo na Louisiana e no Texas, que levou ao desenvolvimento deste último. Mais tarde com a emigração em massa de elites latinas, a Flórida também experimentou um ciclo virtuoso. Devido à longa luta pelos direito civis nos EUA, finalmente o negro assumiu seu papel de parceiro no desenvolvimento daquele país (ainda não completamente igualitário). Hoje se vê juristas, cientistas, engenheiros, médicos em profusão e os casamentos inter-fenotipais estão se tornando comuns. A educação transformou tudo isso. Outro exemplo: chineses há cento e pouco anos eram tratados pela arrogância inglesa como lixo humano (nos pubs ingleses não podiam entrar nem chineses nem cachorros!). Quero ver eles humilharem os chineses hoje! A Rússia há pouco mais de um século era uma nação de agricultores pobres e hoje exibe armamento de ficção científica que deixa o mundo boquiaberto (palestra de Putin 01/03/2018). Tudo isso foi o resultado de esforço intensivo em educação. Nós somos seres sociais e é a educação que faz a diferença entre nós, esta besteira de raças não passa disso. Mantemos nossas periferias com uma educação de fancaria porque queremos escravizá-las, tirar proveito de salários ridículos para que possamos utilizar nosso tempo de forma mais rentável. A empregada doméstica (a mucama atual) permite à mamãe ter um trabalho mais rentável sem ter que pagar um dinheirão na creche (inexistente para aquela). O trabalhador barato e descartável permite ao empresário sem criatividade e cultura técnica competir com a mão de obra de países asiáticos onde há, ainda, uma movimentação de bilhões de seres humanos da lavoura a manufatura.

     

    Me dói muito perceber que muitas vozes que vem do Sul do país, exibindo preconceitos disfarçados com os negros e mestiços, que constituem a maioria deste país que acolheu seus ascendentes vindos mortos de fome da Europa, se achem cidadãos especiais do Brasil. Quando por aqui chegaram já havia um enorme país unificado com um povo que havia lutado e dado seu sangue para mantê-lo e que os acolheu com carinho. Talvez alguns latifundiários escravagistas da elite inepta deste país os tenha tentado explorá-los, mas foi, certamente, uma minoria. Quem sabe um dia confessemos nossos pecados a todos os irmãos e com a misericórdia de Deus possamos viver em paz e harmonia.

     

     

  2. Demolições de casas em áreas públicas

    1. Segundo a Globo, a Justiça já autorizou a demolição da casa de Romário, construída em área pública:

    https://twitter.com/JornalOGlobo/status/974624069365661696

    2. Se não estou enganado, a Justiça ainda não autorizou a demolição desta outra casa cuja construção teria sido intermediada por Mossack Fonseca, para algum(a) Marinho.

    O que está claro é que o terreno onde essa  casa foi construída  é (deveria ser) protegido pelo poder público; área de proteção ambiental.

    Mansão dos Marinho

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